As condições climáticas, de certo, contribuem para o acúmulo de água, mas nem tudo pode ser atribuído como culpa da natureza. O poder público também tem suas responsabilidades, como manutenção de bueiros, ordenamento urbano e obras pensadas para anos futuros. Acontece que na prática, isso não sai do papel, e com as chuvas mais volumosas, o resultado são alagamentos na região. Ao RD, a engenheira ambiental, Priscila Bolcchi defende que os gestores públicos não podem mais utilizar desculpas para não resolver os problemas “da natureza”.
Segundo a engenheira ambiental, existe tecnologia de meteorologia para justamente antecipar alguns passos e evitar desastres. “O crescimento das cidades foi desordenado e planos diretores não acompanharam as previsões de crescimento. A estrutura existente está subdimensionada e é por isso que se faz necessário desempenhar ações”, diz. Não raro, prefeitos ou vereadores, quando confrontados sobre ações efetivas no combate às enchentes, transferem a responsabilidade para as condições climáticas ao discorrerem sobre programas, em muitos casos nada efetivos, para contenção de cheias.
O zoneamento das cidades também interfere drasticamente na questão dos alagamentos, conforme explica João Carlos Mucciacito, mestre em Tecnologia Ambiental e professor da Fundação Santo André. “A especulação imobiliária, que avança nos territórios, e o conforto da sociedade com a impermeabilização do solo, geram estes problemas. A água não tem vasão, ou seja, não penetra na terra e ganha mais velocidade e, quando chega no fundo de vale, nas várzeas dos rios é o resultado é o já conhecido. As várzeas fazem parte dos rios e se enchem, no processo natural, em tempos de chuvas e secam em outros períodos”, explica.
Falta de manutenção
Nas cidades, os bueiros são instrumentos de escoamento das águas, no entanto, devem estar limpos e desobstruídos, porém nem sempre as prefeituras dão a atenção necessária ao assunto, quando se fala de divisa territorial, o jogo de empurra começa ou simplesmente a sujeira é jogada para d’baixo do tapete.

Na divisa de São Caetano com Santo André, no eixo da rua Felipe Camarão com a avenida dos Estados é nítida a diferença de manutenção. De um lado, não há mato ou qualquer outro inservível que possa comprometer o sistema de drenagem, do outro lado, há sinais de falta de manutenção. O local em questão, que margeia o rio Tamanduateí, é um dos gargalos e há décadas sofre com os alagamentos. No trecho em questão empresas siderúrgicas e do ramo de petróleo e gás estão instaladas, ou seja, com movimentação constante de pessoas e veículos.

O Saesa (Serviço de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental), autarquia de São Caetano, afirma realizar a limpeza e desobstrução das bocas de lobo diariamente em toda a cidade. O trabalho consiste na retirada manual dos resíduos, garrafas pet, sacolas de plástico e outros materiais descartados irregularmente, bem como da terra e entulhos levados pelas chuvas. Além disso, ocorre a desobstrução dessas superfícies por meio de hidrojateamento (fortes jatos de água).
A autarquia ainda esclarece que está em contato com a administração pública de Santo André para que manutenções sejam realizadas do outro lado da divisa.
A Secretaria de Infraestrutura e Serviços Urbanos de Santo André garante que na rua Felipe Camarão foram realizadas 16 ações nos últimos quatro meses, entre limpeza de boca de lobo, desobstrução de galeria com jato de alta pressão, reforma do poço de visita e sondagem de galeria de águas pluviais.
Do outro lado, no eixo da avenida Guido Aliberti com Lauro Gomes, na divisa dos bairros Mauá (São Caetano) e Palmares (Santo André), também há décadas a população sofre com as inundações.
Para esta região, a secretaria andreense explica que foram 31 ações nos últimos cinco meses, entre limpeza e reforma de bocas de lobo, nivelamento de tampão, vistoria de drenagem, raspagem e retirada de barro/entulho, capina e roçada, capinação mecanizada e varrição.
Já o Saesa explica que o ponto próximo ao Cemitério Vertical, as bocas de lobo da região receberam os serviços de limpeza e manutenção nos últimos meses, e serão contempladas novamente ao longo desta semana. Neste ponto, o alagamento foi ocasionado pelo retorno da água do rio, pois ele encontra-se acima do nível do bairro, além do grande volume recebido pelos municípios de divisa com São Caetano.