
Pesquisa realizada pela CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de São Caetano com base nos números do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) mostra que a inadimplência nas sete cidades do ABC cresceu 13,93% em novembro deste ano se comparado com o mesmo período do ano passado. O levantamento mostra ainda que o valor médio da dívida do morador da região é de R$ 4.879,27 e o tempo médio de atraso é igual ou superior a nove meses, sendo que 31,59% dos endividados da região possuem tempo de inadimplência de até três anos. A perspectiva, calcada nos gastos de fim de ano, é de aumento desta inadimplência no primeiro trimestre de 2023.
Para Alexandre Damásio, presidente da CDL de São Caetano, o perfil do endividamento mudou na região. “Antes o patamar de atraso de contas corriqueiras, como as de água e luz, se equiparava ao percentual dos bancos, que são basicamente dívidas de CDC (Crédito Direto ao Consumidor) e de cartão de crédito”, analisa. A pesquisa mostrou que em novembro o setor bancário registrou o maior número de dívidas na região, com 74,37%. As contas de água e luz vieram em segundo lugar, com 10,15 % das dívidas ativas.
O perfil do consumidor do ABC, segundo Damásio, tem suas peculiaridades que definem um perfil maior de dívidas com bancos. “A região tem uma empregabilidade maior e tem um hábito de gerenciar crédito e não poupança. Isso é uma coisa nossa. O morador do ABC se movimenta mais no crédito e isso reflete em taxas maiores de re-endividamento do que de pagamento”.
“O índice de confiança do consumidor está em 13%, já o do comércio é de -11%, mas mesmo mais confiante o morador consome menos por causa da inadimplência”, analisa o dirigente da CDL sancaetanense. Apesar do consumo menor o comércio popular se fortalece em dezembro por causa do Natal e as festas de Fim de Ano. Ganham com isso os comerciantes da área de vestuário, principalmente. “São tíquetes menores, mas o comércio mais popular segue aquecido. Em geral o consumidor deixa de pagar as dívidas para gastar com as festas”, avalia Damásio.
Se por um lado essa movimentação com as festas ajuda o comércio, para um futuro não muito distante, a inadimplência tende a aumentar em grande calibre segundo Damásio. “Historicamente 17% das compras de Natal vão refletir no aumento da inadimplência em 90 dias. Isso na classe média, mas na região cresceu enormemente o número de solicitações do Auxílio Brasil que terá continuidade no próximo governo. Vemos aí um crescimento das classes D e E que têm um padrão de consumo diferente”.

De acordo com o presidente da CDL a inadimplência é alta porque faltam políticas públicas e privadas de educação financeira. “Vivemos uma mudança de matriz econômica, do metalmecânico para outra que ainda não se sabe ao certo qual é. Tivemos fechamento de grandes indústrias, peguemos a Toyota como exemplo; a empresa despejou milhares de reais em indenizações e esse dinheiro foi provavelmente para a compra de um carro novo, pagamento do cheque especial ou para a compra de uma casa na praia, não houve investimento em geração de riqueza e quando há essa intenção não se tem uma pesquisa de mercado que mostre o mapeamento das necessidades de compra, aí o cidadão investe em uma pizzaria só porque gosta de pizza. Se compra um parafuso que vem de Santos, por exemplo, quando se poderia ter uma pequena empresa que produziria parafusos para a indústria, ou ainda ter mais empresas participando de licitações públicas. Para isso falta o investimento em informação sobre onde investir o dinheiro”, completa Alexandre Damásio.
Para quem deseja se capacitar entendendo melhor os seus gastos e como se organizar financeiramente, é possível acessar os programas disponíveis para o ABC: O Meu Bolso Feliz (CDL/SPC Brasil), Meu Bolso em Dia (Febraban) e Se Liga Finanças (Sicoob ABC). O programa “O Meu Bolso Feliz”, conduzido pela CDL, traz artigos separados em categorias com dicas para sair do vermelho, planejar as finanças e investimentos. Além disso, o programa reúne simuladores e testes que o cidadão pode fazer através de um dispositivo conectado à internet.