
Um dia após a vitória de Guto Volpi (PL) na disputa suplementar de Ribeirão Pires, a análise deste período eleitoral busca entender como se deu o resultado. O cientista político Nilton Tristão considera que o prefeito eleito terá um desafio de popularidade levando em conta os números de votos que recebeu em comparação ao número de eleitores e o ex-vice-prefeito Gabriel Roncon (Cidadania) conseguiu “sair maior” por ficar em segundo, mesmo com sua candidatura impugnada.
Tristão vê que existia uma possibilidade de vitória de Roncon caso o mesmo não tivesse com problemas jurídicos sobre seu pedido de candidatura. O administrador foi impugnado por problemas com a federação PSDB/Cidadania e a escolha da vice, Eliete Vieira (Cidadania), fora do prazo das convenções. Gabriel obteve 16.880 votos, 3.649 votos a menos do que o vencedor.
“Talvez parte dessa votação do Gabriel Roncon também esteja associada à abstenção, votos nulos e brancos, ou seja, o voto de protesto. Não significa que todos que votaram no Gabriel tenham esse princípio, mas possivelmente uma parte que votou fez isso em protesto, sabendo que estava votando em alguém que estava com a candidatura indeferida”, comentou o cientista político.
Os “não votantes”, ou seja, aqueles que anularam o voto, votaram em branco ou sequer foram às urnas também chamaram a atenção. Na soma foram 37.453 eleitores que resolveram não escolher um dos cinco candidatos à disposição. Como comparação, Guto e Roncon tiveram juntos 37.409 votos. O número deste grupo que não fez uma escolha por um prefeiturável é superior a soma da eleição para governador no primeiro turno deste ano com 30.193 e maior do que a soma de 2020 quando 34.059 eleitores rejeitaram todos os candidatos.
Guto Volpi, Amigão D’orto e a nacionalização
“Eu acho que Ribeirão Pires tem uma característica muito interessante nessa eleição. Ela até começou com o debate sobre as questões centrais, as questões locais, só que com a evolução da campanha ela foi nacionalizada. O peso das propostas para o município caiu muito conforme a campanha avançava e a campanha imitou muito o debate ideológico da campanha de outubro para presidente”, explicou Tristão.
Para o especialista, a aposta de Guto em uma campanha bolsonarista elevou o seu investimento no processo eleitoral, mas levando em conta que um a cada cinco eleitores não votaram no prefeito interino, acabou se criando um cenário de desafio de popularidade para o eleito que terá de lidar com o fato até a disputa de 2024.
Nilton também aponta uma queda nos votos do PL na cidade. Em 2020, Clóvis Volpi obteve um pouco mais de 25 mil votos. Bolsonaro terminou o primeiro turno com 28,9 mil votos na cidade e o segundo com 34.652, e agora Guto Volpi teve 20.529 votos. O que para o especialista ponta um estreitamento do bolsonarismo.
Ainda sobre a nacionalização, Nilton Tristão considera que Amigão D’orto (PSB) não conseguiu “defender” o lulismo e o petismo, apesar do apoio que recebeu daqueles que estavam na campanha do presidente diplomado. Além disso, vê que a entrada do ex-prefeito Kiko Teixeira (PSDB) não criou um efeito positivo para o socialista, pois “o objetivo principal de Kiko era derrotar Volpi e Gabriel” e não eleger Amigão.