
Neste mês de dezembro a Casa Neon Cunha está completando quatro anos de funcionamento, dando assistência social a população LGBTQIA+ de São Bernardo. Uma programação foi preparada para celebrar a data, mas, como diversas entidades que se dedicam ao social, a sobrevivência é um desafio diário. Mesmo sem apoio governamental em nenhuma das instâncias, a Casa conta com recursos de instituições internacionais e da iniciativa privada que mantém alguns programas, mas não pagam as despesas fixas mensais da instituição.
“Não temos nenhum convênio público, por isso fazemos constantemente campanhas de doação e também captação de editais internacionais”, explica o presidente e fundador da Casa Neon Cunha, Paulo Araújo. Ele citou como exemplo o projeto Cozinha & Voz para a inclusão de pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho. “Esse projeto conta com a participação da OIT (Organização Internacional do Trabalho), do MPT (Ministério Público do Trabalho) e do governo dos Estados Unidos. Com ele a gente consegue ter uma equipe de assistentes sociais, advogado, enfim mantém a equipe, mas não garante recursos para a manutenção da Casa”, explica.
O Cozinha & Voz é parte do projeto Pride que visa inclusão no mercado de trabalho para 300 pessoas com foco na população trans. Esse projeto é executado em seis estados pelo país e no território paulista a instituição de São Bernardo foi escolhida. Outro projeto, este reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas) é o Trans-Formação, cujo objetivo é fortalecer lideranças e formar redes entre ativistas trans no ABC e que já formou 30 pessoas.

Segundo Paulo Araújo a Casa Neon Cunha participou de uma ação da iniciativa privada, o Mix da Diversidade, promovido por uma cervejaria e que garantiu recursos para a instituição. “Temos toda a nossa documentação em dia para participar dessas ações e queremos ser reconhecidos também pelos governos como integrantes da rede assistencial por recursos que ajudem a manter a casa, pois todo mês nos preocupamos se vamos fechar as contas. Atendemos aqui um público muito variado, são pessoas que trabalham no mercado do sexo porque não têm outra alternativa, pessoas que estão em situação de rua e muitos outros que estão em vulnerabilidade social, que moram em assentamentos precários, principalmente pessoas pretas e trans”, enumera o fundador da Casa.
Outra iniciativa é uma parceria com a estilista Isa Isaac Silva, dona de uma marca própria que veste vários famosos. A característica da grife é não ter gênero, vestindo todo tipo de corpo. A parceria vai garantir mais uma ajuda à Casa Neon Cunha no próximo ano.
Cerca de 30 pessoas frequentam a Casa Neon Cunha diariamente para fazerem três refeições diárias e para a higiene pessoal. “Está escasso o alimento e vivemos constantemente no aperto, por isso nossa busca é constante por recursos públicos e privados para manter a casa”, diz o presidente. Além desse atendimento a casa funciona de segunda a sexta-feira das 9h às 17h, com atividades de convivência, de socialização e de formação. No local são distribuídos também kits de higiene para cerca de 200 cadastrados.
O projeto de Araújo é que a casa passe a também acolher com moradia provisória e para isso já há espaço e alguns itens do mobiliário, mas o recurso para manter o abrigo a casa ainda não tem. “Estamos num momento muito bom com dois convênios internacionais, temos a nossa sede preparada, mas podemos crescer mais. Existem 19 casas de acolhimento em todo país para pessoas LGBT e poderíamos ser mais uma”, conclui Araújo.
Programação
Para marcar o quarto aniversário a Casa Neon Cunha preparou uma série de atividades para esta sexta-feira e sábado (dias 2 e 3/12) que incluem programação formativa, cultural e entretenimento.
02/12/ 2022- Sexta Feira
10h- Abertura da campanha de doação (ponto de coleta para alimentos, limpeza, higiene e vestuário)
A partir das 10h acontecem palestras com convidados:
Marina Ganzarolli aborda o tema “Direito LGBT”. Ela é advogada especialista em Compliance Cultural, Direito da Mulher e da Diversidade, atua com mulheres e LGBTs vítimas de violência há 15 anos. Empreendedora social, é idealizadora do Me Too Brasil e da deFEMde – Rede Feminista de Juristas. Doutoranda e Mestra em Sociologia Jurídica pela Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) e é conselheira estadual titular da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil Seccional de São Paulo).
Isa Isaac Silva fala de “Moda LGBT”. A estilista tem formação em Design e Gestão de moda, também é tecnóloga em produção do vestuário. Atualmente possui sua própria marca de nome homônimo, que virou febre entre influenciadores, fashionistas e artistas.
Erika Hilton aborda o tema “Política LGBT”. Ela foi eleita deputada federal por São Paulo, depois de ter sido a vereadora eleita em 2020 como a mais votada do Brasil. Implementou a CPI da Transfobia, a primeira investigação desse tipo em todo o país. A comissão ouviu vítimas de discriminação e violência por agentes de segurança pública, de discriminação no mercado de trabalho e representantes de empresas com boas práticas de diversidade.
Alberto Silva fala da Casa Florescer, Abrigamento Especializado da qual é gestor. Ele é administrador e articulador de políticas sociais e garantia de direitos e assuntos relacionados à Diversidade e inclusão.
Ao longo do dia acontecem rodas de conversa com os temas: Programa de IST-AIDS, Redução de Danos, Saúde Mental, Mães pela diversidade- Afeto as Pais e Mães LGBT.
03/12/ 2022- Sábado
Para o dia estão programadas atividades culturais, tais como Sarau Cultural, Oficinas de maquiagem e beleza, espaço de fotos, música com DJ e shows. Às 16h está programada uma homenagem à patrona e apresentação do Projeto de Lei de Retificação de Nome e Gênero – Neon Cunha. A comemoração termina com o canto de parabéns e agradecimento aos parceiros.
A casa fica na rua Luiz Ferreira da Silva, 183, no bairro Anchieta.