O Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo) está apostando que o governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos) cumpra suas promessas de valorização da Polícia Civil. Em entrevista ao RDTv a delegada Jacqueline Valadares Alckmin, vice-presidente do sindicato, considera que se as propostas colocadas em campanha forem cumpridas a categoria e a sociedade como um todo serão beneficiadas. Jacqueline foi eleita para presidir a entidade no triênio 2022/2025.
“A Polícia Civil, como polícia investigativa que é, demanda funcionários, estrutura e valorização salarial. É esse tripé que o sindicato vem batalhando porque se a gente não tiver uma Polícia Civil estruturada, com boas delegacias, bons equipamentos e servidores que sejam bem remunerados para isso, a gente não vai conseguir entregar o trabalho de excelência que a população espera. Hoje o Estado conta com um déficit de funcionários entre delegados, escrivães, investigadores e agentes de mais de 16 mil policiais civis que estão faltando para desempenhar essas funções”, aponta a delegada.
Segundo a vice-presidente do Sindpesp um dos principais motivos pelos quais os policiais civis deixam a carreira é o salário. “Se a gente não remunera bem o policial para ele fazer o trabalho de forma eficiente, para ele ir para a rua, para colocar sua vida em risco, para abdicar de suas noites, de seus finais de semana, essa pessoa não vai ficar na carreira, vai abandonar para tentar concurso público em outra área, ou vai para outros estados que pagam mais. Então é esse tripé que vamos continuar trabalhando que é a valorização salarial, manter os policiais na carreira e a estruturação das unidades. Temos unidades reformadas, muito bem equipadas, mas ainda há muitas unidades que precisam desta estruturação. Temos uma expectativa muito positiva em relação ao governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) que mostrou extremo conhecimento na área da segurança pública. Ele já verbalizava muitas coisas que o sindicato já vinha pleiteando como a reestruturação da Polícia Civil, a valorização salarial. ”, analisa.
A expectativa é de melhores subsídios para os delegados de polícia depois que a Assembleia Legislativa aumentou o salário do governador, que é o teto dos servidores estaduais. “A gente vê com excelentes olhos (a aprovação do reajuste). Há uma expectativa de mudança de paradigmas no Estado, de que realmente a Polícia Civil seja efetivamente valorizada. Essa aprovação ontem pela Alesp foi extremamente importante para diversas categorias dos servidores públicos do Estado, incluindo a categoria dos delegados de polícia”, disse Jacqueline.

Segundo a representante do Sindpesp desde 2019 não era reajustado o salário do governador e isso impactava em grande parte do funcionalismo estadual que tinha limitado seus salários no teto, que é o salário do chefe do Executivo estadual. “Muitos colegas antigos de profissão não conseguiam ter o aumento que foi concedido de 20% porque esbarravam nesse teto. Muitos colegas acumulavam plantões de delegacias e não recebiam a mais por trabalhar essas horas a mais por também esbarrarem nesse teto. Então eles trabalhavam mais, acumulavam funções, estão há mais de 20 anos na carreira e mereciam o reconhecimento por conta de todo o tempo em que se dedicaram à polícia. De 2019 para cá a inflação aumentou absurdamente e esses servidores não conseguiam a gratificação. Foi um primeiro passo, mas queremos deixar claro que temos expectativa de que o novo governo cumpra as suas promessas de campanha e dentre elas, a valorização da Polícia Civil e o fomento de políticas públicas em prol da segurança para que possamos auxiliar a população oferecendo um serviço cada dia melhor”.
Jacqueline disse que há um concurso autorizado para a contratação de policiais civis, mas ele não é nem de perto suficiente para cobrir o déficit de 16 mil claros que há no organograma da instituição. “Vai ser imprescindível que o novo governador, que disse durante toda a sua campanha que faria mais contratações, que ele efetivamente dê sequência ao que foi proposto. Ele vai precisar de um tempo no governo, mas a gente espera que todas essas promessas sejam cumpridas”.
Para o Sindpesp a Polícia Civil sofreu um desmonte nas últimas duas décadas e isso impactou nos serviços que são prestados, na investigação e na prevenção dos crimes. “O déficit de funcionários impacta diretamente a população. Sobre as Delegacias de Defesa da Mulher existem pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que mostram que em cidades onde existe uma DDM há uma redução de crimes graves contra a mulher, como o feminicídio, em até 13%. Embora São Paulo seja o estado do país com maior número de delegacias como esta, são 139 DDMs, nós precisamos estruturar essas delegacias, não é só colocar uma plaquinha de inauguração precisa equipar e levar funcionários para a unidade”.
Para a presidente eleita do Sindpesp a polícia já conta com bastante recurso digital, o que facilita o trabalho dos policiais, mas é necessária uma atualização constante. “Durante a pandemia a gente viu um boom de crimes na rede de computadores, principalmente estelionatos, então há necessidade de que a polícia seja reiteradamente atualizada com cursos com estrutura tecnológica para que passe a combater de forma muito mais efetiva e célere esse novo tipo de ciber criminalidade. Embora eu possa ter uma estrutura e sistemas modernos a gente não pode esquecer que precisa de um ser humano para manusear tudo isso, pois aquela informação vai vai desaguar em uma prisão, em um mandado de busca, em um mandado de prisão e isso demanda policiais na rua”.
Suicídios
A Polícia Civil de São Paulo tem um alto índice de suicídios e, segundo o Sindpesp, isso se deve aos baixos salários, às condições de trabalho, às jornadas excessivas e a falta de pessoal, que acabam afetando o psicológico dos policiais. “Infelizmente nós perdemos mais policiais em decorrência de suicídio do que em combate, então o que a gente acaba percebendo é que trabalhar em condições precárias coloca a saúde mental do policial em um risco maior do que a exposição na rua. Temos também muitas perdas de funcionários no dia a dia que se afastam com licenças médicas psiquiátricas, ou que têm suas atividades reduzidas a um roll determinado em função de exigências médicas. Essa sobrecarga de trabalho impacta diretamente no serviço que a gente presta à população pois a polícia passa a ter policiais sobrecarregados, estressados que não vão prestar o atendimento tão cordial que a população merece e espera receber em uma unidade policial”, diz Jacqueline
As sobrecarga de atividades e jornada afetam também a estrutura familiar do policial. De acordo com Jacqueline Valadares Alckmin é grande o número de policiais que se separam porque não conseguem dar atenção aos familiares. “A gente desempenha uma função que demanda horários diferenciados, trabalha à noite, nos fins de semana e nos feriados. Tudo isso já impacta na nossa convivência familiar e somar isso a escala de plantões para cobrir déficit de funcionários que sobrecarrega o policial, isso acaba impactando na sua convivência familiar, no seu psicológico e esse policial vai se afastar por uma licença médica e pode chegar ao ápice que é o suicídio”, conclui a delegada.