A obesidade está cada vez mais presente no dia-a-dia do brasileiro. Segundo o endocrinologista e professor do Centro Universitário da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Fernando Valente, mais de 55% da população se encontra acima do peso, e uma das principais causas corresponde a má alimentação, que resulta em consequências como problemas nas juntas e doenças metabólicas, a exemplo da diabetes e hipertensão. A longo prazo, pode-se aumentar, ainda, o risco para infartos e derrames cerebrais.
Entre as questões de saúde, a obesidade pode aumentar consideravelmente o risco da pessoa desenvolver algum tipo de câncer, isto porque a doença possui relação direta com a resistência do tratamento com insulina – este diretamente ligado à questão da obesidade. “Um a cada cinco profissionais de saúde não entende que a obesidade é uma doença crônica, isso faz com que o próprio paciente acabe por considerar o aumento de peso como uma fraqueza”, explica.
Apesar de existir uma questão genética por trás da obesidade, em que alguns pacientes possuem uma pré-disposição para a doença, o endocrinologista explica que é necessário tratá-la para não causar problemas na saúde. “Quando se há essa pré-disposição, não é apenas uma questão de força de vontade da pessoa em emagrecer e/ou cuidar do corpo, mas ainda sim, é importante que haja um acompanhamento profissional para evitar maiores problemas”, salienta o médico.
Valente enfatiza que os profissionais devem focar em oferecer um diagnóstico correto, sem estigmatizar as causas da obesidade. “Também não podemos normalizar a situação, e sim mostrar ao paciente que a obesidade pode acarretar diversos problemas de saúde, mesmo que os exames estejam normais”, afirma.
Segundo o médico, é importante frisar que só pelo fato da pessoa ter obesidade já existe um fator de risco para doenças cardiovasculares e, ao identificar estas pessoas, é orientado oferecer opções de tratamento e de acompanhamento médico especializado.
Em 2013, a American Medical Association, uma das organizações médicas mais influentes do mundo, decidiu classificar a obesidade como doença. Ao longo dos anos, outras entidades médicas internacionais, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS), reconheceram a condição como um problema crônico que necessita de acompanhamento de longo prazo. O endocrinologista ressalta que o tratamento pode ser feito com mudança de estilo de vida, mas o uso de medicamentos pode ser necessário em alguns casos.
Valente explicita que as pessoas levam, em média, seis anos para conversar com um especialista sobre a obesidade e, ao receber um tratamento, todo o procedimento é realizado em alguns meses. “Esta é uma triste realidade que vivemos, que explica estes números alarmantes que acercam esta doença”, diz.
O especialista destaca, ainda, que a obesidade pode estar relacionada a distúrbios alimentares, como o transtorno de compulsão alimentar que necessita de acompanhamento psiquiátrico, além do acompanhamento médico. “É visível o benefício para obesidade ao tratar do problema pela ‘raiz’. Assim como o transtorno de compulsão alimentar, a ansiedade e depressão também podem gerar um aumento de peso, por isso é importante lembrar no âmbito psiquiátrico no que se trata do crescimento de peso”, finaliza.