
Para infectologistas ouvidos pelo RD sobre o aumento do número de casos de covid-19 no último mês, as medidas de prevenção devem ser retomadas, mas não de forma obrigatória, porém recomendada, como o uso de máscara de proteção facial, principalmente nos locais onde há aglomeração. Para os especialistas, no transporte público, por exemplo, a volta do uso de máscara de forma obrigatória, já poderia ter sido tomada pelos poderes públicos.
Em tempo de final de ano, de confraternizações, jogos de Copa do Mundo que reúnem centenas de pessoas em um mesmo local, shows que reúnem dezenas de milhares de pessoas, a tendência é de aumento do número de casos. Diadema reuniu no domingo (20/11) 30 mil pessoas em praça pública para o show do cantor Zeca Pagodinho em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Dois dias depois a cidade proibiu a entrada de visita nos hospitais. Na Capital a venda de ingressos para o show da banda Titãs terminou em menos de duas horas porque os 50 mil foram todos vendidos e o grupo musical fará outra apresentação na cidade.
“A proteção tem que ter sim, mas isso é uma questão individual nos locais com aglomeração. Teria (o poder público) que exigir o uso de máscara no transporte público e não o fez. Agora a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinou a volta da obrigatoriedade da máscara nos aviões (à partir de sexta-feira, 25/11). Eu acho que os governos já deveriam ter tomado a providência de tornar obrigatório o uso da máscara no transporte público”, analisa o infectologista da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Munir Akar Ayub.
Para Ayub o importante é que, se a pessoa estiver com algum sintoma, que não compareça ao evento para não contaminar outras pessoas. O especialista diz que há um número muito grande de casos que chegam aos consultórios, porém casos menos graves. “Quem está internando hoje são os pacientes que já têm outras comorbidades, como os que têm câncer, HIV+ ou outras doenças. Também notamos internação de muitas pessoas que não se vacinaram, principalmente com as doses de reforço”, diz o médico que trabalha no Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, onde já há uma estrutura sendo remontada para receber pacientes com covid-19. “Nós não tínhamos mais pacientes com covid internados, agora veio uma recomendação para preparar dez leitos e já temos três ou quatro pacientes internados”, completa.
A médica Elaine Matsuda, infectologista do Centro Médico de Especialidades de Santo André, não vê problemas muito graves em eventos realizados em locais abertos, nos demais ela acha que protocolos mais rígidos deveriam ser seguidos. “Em locais abertos eu acho menos problemático, nos outros deveriam pedir comprovante de vacina e recomendar o uso de máscaras”, analisa.
Para o infectologista e professor da Faculdade de Medicina do ABC, Juvencio Furtado, voltar a obrigar o uso de máscaras é uma situação difícil para os prefeitos. Segundo ele hoje o momento é muito diferente dos primeiros dois anos de pandemia. “Estamos falando de uma doença para a qual 80% a 90% da população está vacinada e a variante que se apresenta agora é mais contagiante, porém menos letal. No metrô, no ônibus e em locais fechados existe um risco e não só para a covid-19, existem outros vírus respiratórios. A recomendação é para o uso de máscaras, mas a decisão pública é mais complicada”, diz.
Furtado diz que em seu consultório tem atendido um número cada vez maior de casos positivos de covid-19. “São famílias inteiras contaminadas. Com o fim de ano e com a Copa do Mundo, em que todos se reúnem e se abraçam vai ser difícil conter, e o número de casos vai aumentar, isso é fato”, completa.