Não deixaremos que inflação elevada fique arraigada, diz Christine Lagarde

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou nesta sexta-feira, 4/11, que a instituição “não pode e não deixará” que a inflação elevada se torne arraigada na zona do euro. Em discurso na Estônia, ela repassou o choque “sem precedentes” na oferta e na demanda da região nos últimos anos, como a guerra na Ucrânia, problemas no fornecimento de energia e nas cadeias de produção, realocações da demanda, que fazem com que a inflação “deva ficar acima da nossa meta por algum tempo”.

Lagarde disse que, nesse contexto, os bancos centrais precisam estar prontos para adotar “as decisões necessárias, embora difíceis, para levar a inflação para baixo”. Segundo ela, as consequências de deixar a inflação muito elevada se tornar algo arraigado “seria muito pior para todos”. A autoridade ressaltou que o BCE não pretende permitir que os choques atuais levem a inflação duradoura. “O objetivo final de nossa trajetória nas taxas de juros está claro, e ainda não chegamos lá”, disse.

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A presidente do BCE considera que a zona do euro enfrenta “choques repetidos”, que refletem de modo mais forte na inflação. Esta ainda se mostra mais persistente do que no passado, devido a mudanças estruturais na economia. Além disso, a desaceleração doméstica pode ter sido exacerbada pelo aperto monetário sincronizado global, notou.

A região tem enfrentado “uma série de choques sem precedentes tanto no lado da demanda quanto no da oferta da economia”, aponta Lagarde. Lockdowns pela pandemia, problemas nas cadeias de produção, corte na produção de energia e a “inaceitável e injustificável invasão da Ucrânia pela Rússia”, listou, citando também variações rápidas na demanda por setor.

O BCE vê ainda um repasse mais forte e mais rápido dos choques para os preços no quadro atual, afirmou ela. Os choques externos estão afetando mais a inflação subjacente, deixando-a mais persistente, disse também.

Há também mudanças estruturais que agravam a situação da economia, como os choques gerados pela pandemia e a guerra na Ucrânia. O corte de gás da Rússia para o continente é uma “grande mudança estrutural, que terá ramificações por vários anos”, segundo Lagarde. Ela lembrou que a curva de mercados futuros sugere que os preços do gás serão mais altos “por algum tempo”. No longo prazo, a guerra deve acelerar a transição verde na Europa, mas na fase de transição pode haver menos investimento em petróleo e gás, pressionando os preços de combustíveis fósseis em quadro de demanda ainda ata por esses combustíveis, acrescentou.

Lagarde mencionou também “mudanças na natureza da globalização, e particularmente no papel da China nela”. Ela disse que alguns fatores geopolíticos devem voltar a influir nas cadeias de produção, o que reduz a eficiência e aumenta custos e pode criar pressões inflacionárias “por algum tempo”, enquanto as cadeias de oferta se ajustam.

Para a presidente do BCE, o quadro atual é de incerteza, por isso os dirigentes devem ser capazes de responder ao quadro a cada reunião. Um fator negativo de não ter um “forward guidance” mais claro, porém, é o aumento da volatilidade nos mercados em reação a notícias, admitiu.

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