
A estatística da criminalidade divulgada nesta quinta-feira (25/08) pela SSP (Secretaria de Segurança Pública) do Estado mostra que os principais índices de criminalidade tiveram alta substancial no ABC, no comparativo de janeiro a julho de 2021 com o mesmo período deste ano. Os assassinatos foram 56 nos sete primeiros meses do ano passado e esse ano foram 82 crimes, alta de 46,4%; os estupros aumentaram 16,8%; roubos 8,3%; os furtos de veículo tiveram incremento de 38,7% e os roubos de automóveis subiram 58,7%.
O número de homicídios foi o que mais chamou a atenção no levantamento. A alta deste tipo de crime foi puxada especialmente pelo número de mortes em São Bernardo, foram 11 homicídios somente no mês de julho. Uma alta de 175% se comparado com o número de casos registrados em junho. De janeiro a julho a cidade contabilizou 30 mortes violentas, e no mesmo período do ano passado foram 16 casos. Ou seja, no comparativo entre os sete primeiros meses do ano passado e o mesmo período desse ano, os assassinatos quase dobraram na cidade.
Em Diadema o número de homicídios triplicou, comparando janeiro a julho do ano passado e o mesmo período desse ano. Foram cinco casos registrados em 2021 e 15 neste ano. As demais cidades mantiveram a média de casos.
Outro dado que espanta é o número de casos de estupros que seguem em alta desde o início da pandemia, e comparando os meses de janeiro a julho de 2021 e 2022, a alta foi de 16,8%, passando de 302 casos no ano passado para 353 neste ano.
Os roubos de veículos somaram 2.308 ocorrências registradas nos sete primeiros meses de 2021 e neste ano o número saltou para 3.664 carros roubados, alta de 58,7%. Os furtos de automóveis passaram de 4.347 para 6.031, alta de 38,7%.

Para o professor de direito penal, David Pimentel Barbosa de Siena, que é coordenador do Observatório de Segurança Pública da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) os números mostram claramente que o momento é ruim para a segurança pública na região. Segundo ele as estatísticas mais recentes apontam para uma nova tendência de alta para os crimes. “Desde que o governo do Estado passou a publicar os números oficiais, em 1.995, os estudos mostravam uma tendência de queda na violência. O que vemos agora é uma inflexão, os gráficos que eram descendentes deram uma guinada do ano passado para cá. Eu estou cada vez mais convicto de que estamos numa tendência de aumento e de que não existe nada que indique que esses números vão diminuir”, analisa o professor.
O coordenador do Observatório de Segurança considera que um dos motivos para o aumento de mortes é justamente o maior número de armas em circulação. “Essas armas acabam caindo nas mãos de bandidos e o crime está até se utilizando de falsos atiradores esportivos para adquirir essas armas. Agora não se tem mais nem o rastreio das munições. Eu avalio que esse debate sobre as armas de fogo é uma questão central”, sustenta.
O professor da USCS também falou sobre o aumento dos casos de estupro, verificado nos últimos dois anos. “A grande parte desses casos de estupro vitimam crianças e na pandemia todos ficaram mais em casa, o desemprego forçou também que os homens saírem menos e quando há tendência para o alcoolismo isso pode aumentar o risco. Tem muitos casos de tios que abusam de sobrinhos e até os próprios pais atacam os filhos. Ainda há muito da cultura de que o estupro está relacionado ao poder sobre o outro”, disse Siena. Quanto aos estupros as Ong´s que atendem mulheres vítimas de violência apontam que, apesar do crescimento do número de casos, ainda há muita sub-notificação, ou seja, estupros que estão acontecendo e não chegam ao conhecimento da Justiça. Para Siena, as duas coisas são verdadeiras, não apenas os registros de ocorrência estão aumentando, como também há muita sub-notificação.