Para o economista e coordenador do Boletim Econômico de Santo André, Sandro Renato Maskio, até o fim do ano a cidade deverá inverter sua balança comercial, saindo do déficit e passando a ter superávit com o incremento das exportações. O economista chama a atenção que essa deve ser uma tendência não apenas na cidade, porque o câmbio facilita mais as exportações.
De acordo com a sexta edição do Boletim Econômico, o ABC registrou uma corrente de comércio exterior de US$ 6,13 bilhões entre janeiro e julho de 2022, 12% maior que no mesmo período de 2021. As exportações aumentaram 34%, somando US$ 3,22 bilhões. As importações recuaram 5 %, acumulando US$ 2,9 bilhões. O saldo resultante da balança comercial de Santo André no período melhorou, com redução do déficit de US$ 95,8 milhões em 2021 para um déficit de US$ 16 milhões em 2022. Estes resultados ocasionaram a melhora da corrente de comércio exterior para US$ 677 milhões, 19% maior que em igual período de 2021.
O estudo sugere que a economia de Santo André caminha no sentido de transformar o déficit comercial que vem apresentando nos últimos anos em superávit. Segundo Maskio isso deve acontecer esse ano. “Há grande chance de Santo André, se continuar nesse ritmo, fechar o ano com saldo positivo, com superávit de balança comercial, assim como o ABC tem melhorado o resultado. A combinação que tem favorecido essa mudança é baseada em dois fatores, o primeiro é que o setor industrial se tornou um grande importador, desde os anos 90 para cá, com a abertura econômica, e hoje se tem dificuldade de importação pela escassez de oferta no mercado externo que vai muito além da questão dos microchips, mas um problema logístico, pois a pandemia desorganizou a dinâmica logística, o que dificulta as importações. O outro fator é o câmbio, que torna a exportação mais barata em dólar, já importar ficou muito caro. Então nessa composição, a dificuldade e o custo não favorecem a importação e a gente vê o maior crescimento da exportação e aí tem o resultado favorável para a balança comercial. Eu faço questão de pontuar que isso é diferente de quando você melhora a balança comercial porque melhorou a produtividade, ou melhorou a competitividade, não é esse o caso, são outros fatores mais conjunturais que têm levado a isso”, destaca.
Crédito
Outro indicador da sexta edição do Boletim Econômico trata do acesso ao crédito. O estudo mostra que as operações de crédito no ABC estão em queda desde 2016, houve uma redução dessa queda entre 2020 e 2021, porém nos primeiros quatro meses deste ano a curva voltou a apontar para baixo com intensidade. Comparando primeiros quadrimestres de 2021 e 2022 os saldos diminuíram 9,5% e 12,5% no ABC e em Santo André, respectivamente. Segundo Maskio falta acesso ao crédito tanto para a pessoa física como para a jurídica e os juros estão altos. “Nos primeiros quatro meses deste ano eu enxergo um cenário de maior dificuldade de acesso a crédito, primeiro porque você tem um custo mais alto agora para acessar crédito e a economia está num ritmo mais lento. O próprio mercado de trabalho reage mais lentamente, depois do boom de retomada do emprego, e a massa de salário ainda não se recupera. O próprio empresário tem o financiamento mais alto, e há o compasso de espera, num cenário eleitoral, com as decisões de investimento que acabam ficando proteladas. Então acaba se atentando muito às questões mais urgentes, como capital de giro, para fazer a atividade rodar, mas não se tem medidas mais ousadas. Com mercado de trabalho gerando emprego em ritmo menor, aumento de taxa de juros e um custo de financiamento bastante acentuado, fica difícil acesso ao crédito e também mais caro. Não é momento adequado para pensar em tomar crédito”, aponta o economista.
Emprego
De acordo com o levantamento, no primeiro semestre de 2022 o ABC gerou 16.304 postos de trabalho formais, puxados especialmente pelo setor de Serviços e Construção Civil, que geraram 11.051 e 3.167 posições, respectivamente. No mesmo período, no ano passado, a região gerou 17.305 postos formais de trabalho, demonstrando desaceleração do mercado de trabalho. Em Santo André, o saldo de empregos no mercado formal ficou bem acima do ano anterior, de acordo com o Boletim Econômico o saldo foi de 5.268 postos, também puxado pelo setor de serviços com 4.115 posições, bastante superior aos 2.277 postos formais de trabalho gerados no primeiro semestre de 2021.
No primeiro semestre deste ano, Santo André respondeu por 32,3% do saldo de geração de empregos formais do ABC, ao passo que, em igual período de 2021, a participação foi de apenas 13,1%. O estudo sugere que o tempo de resposta dos diferentes setores ao movimento de retomada da atividade econômica, pode ser estimulado pela ação de políticas públicas direcionadas e eficazes.
Borracha
O Boletim Econômico analisa ainda os setores de Borracha e Plástico. No ABC, o setor de borracha e material plástico respondeu por aproximadamente 9% do VTI (Valor de Transformação Industrial) e pouco mais de 75% do VTI do setor se concentra em Santo André e Diadema. No município andreense, que concentra aproximadamente 50% do VTI do setor de borracha e material plástico na região, estima-se sua participação direta em pouco menos de 6% do PIB municipal.
O levantamento aponta que dentro da indústria de transformação, o setor de borracha e de material plástico de Santo André responde por pouco mais de 26% dos empregos formais gerados e 30,6% da massa de salários pagos. A remuneração média paga pelo setor foi de aproximadamente R$ 4.100 em 2020, pouco mais de 15% acima da remuneração média da indústria de transformação. Se comparado à média salarial, considerando todos os setores da economia, a remuneração paga pelo setor foi cerca de 45% maior.
”O segmento de pneus é o que faz bastante diferença no setor de borracha e plástico. A política pública local tem que estar muito atenta para o caso dessa indústria resolver sair daqui e evitar esse tipo de movimento nem sempre é simples porque quando isso vem à tona é uma decisão que já está madura. Acho que uma presença ativa do poder público pode tentar evitar isso. Daqui a algumas décadas o desafio é conseguir estimular o setor a acompanhar as mudanças que inevitavelmente são surgir”, conclui o economista.
Veja a íntegra do boletim: