Juros: Taxas sobem com câmbio, ignorando queda de commodities e dados fiscais

Os juros futuros fecharam em alta, com recomposição de prêmios estimulada pela pressão do câmbio e os receios fiscais e do cenário eleitoral mantidos como pano de fundo. Nem a queda das commodities nem mais uma leva de bons números da arrecadação fiscal foram suficientes para que o mercado desse sequência ao ajuste de baixa nas taxas visto ontem. Nesse contexto, o Tesouro novamente não conseguiu ser bem-sucedido no leilão de prefixados, vendendo apenas parcialmente uma oferta já reduzida e pagando taxas elevadas.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrou a sessão regular em 13,905%, de 13,886% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 terminou na máxima de 13,995%, de 13,887% ontem. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 13,345% para 13,49% (máxima) e a do DI para janeiro de 2027, de 13,295% para 13,41%.

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“Temos o real perdendo contra o dólar, entre as piores moedas emergentes hoje, o que alimenta a ideia de inflação persistente”, disse o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito. Ele nota que o fato de a curva ter ignorado os dados de arrecadação ilustra o grau de desconfiança do mercado. “(Os dados) São uma boa sinalização para o curto prazo, mas o mercado vê o resultado com uma certa distância porque a preocupação está na política fiscal de médio prazo”, explicou.

A arrecadação somou R$ 181,040 bilhões em junho, aumento real de 17,96% ante o mesmo mês de 2021, superando a mediana das estimativas de R$ 175,106 bilhões. É o maior valor arrecadado para meses de junho na série histórica, assim como a arrecadação de R$ 1,089 trilhão no primeiro semestre foi recorde para período.

“Esse crescimento da arrecadação tem acontecido porque a inflação está bombando, o preço dos combustíveis subiu demais. Agora com as reduções, vamos ver como vai se comportar de julho em diante”, afirma o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, para quem, no entanto, as perspectivas para as contas públicas seguem negativas. “As expectativas de crescimento para o ano que vem estão cada vez menores, com risco de recessão. A sustentabilidade dessa condição fiscal está em xeque.”

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, avalia que o viés de alta dos juros seria mesmo mais provável. “Não há motivos para se ter uma queda dos juros do DI de forma sustentável, com o risco de ‘inflacionar’ gastos no orçamento de 2023, além do prolongamento da inflação da energia global”, afirmou. Enquanto o governo corre para ajustar o orçamento com um novo contingenciamento de curto prazo, para 2023 “o risco fiscal de descumprimento da regra do teto dos gastos segue”, complementa, lembrando que os dois principais candidatos a presidente defendem a manutenção do valor do Auxílio Brasil em R$ 600 e aumento do número de beneficiados.

O dólar esteve em alta e no patamar de R$ 5,50 em boa parte do dia, com o real prejudicado pelo recuo das commodities (petróleo, minério e grãos) e aversão ao risco pelo temor de que o aperto monetário global provoque recessão, além do risco fiscal e político que também assola do mercado de juros.

Na gestão da dívida pública, o Tesouro reduziu a oferta no leilão de LTN, com 4,5 milhões de títulos, de 7,5 milhões e 5 milhões nas operações anteriores. Mesmo assim, não vendeu tudo (4.4105.300). Houve demanda integral pela LTN 1/10/2023 (1 milhão) e LTN 1/1/2026 (2 milhões). Do lote de 1,5 milhão da LTN 1/10/2024, porém, vendeu 1.105.300. Nas NTN-F, o leilão foi ainda mais fraco, com apenas 81 mil dos 300 mil títulos ofertados.

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