Por mais de dois anos muitos exames médicos de rotina deixaram de ser feitos por conta da pandemia e, segundo o médico ginecologista e obstetra, Sérgio Makabe, resultaram em diagnósticos mais tardios para o câncer de mama, comprometendo o tratamento da doença. Makabe, que é diretor de Medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) participou do RDTv desta segunda-feira (20/06) e falou sobre o auto-exame e o tratamento no caso de nódulos serem identificados.
Segundo Makabe os centros de oncologia já estão publicando artigos mostrando o maior índice de câncer em estágios avançados. “Isso porque deixaram de fazer o rastreamento então a mulher perdeu a chance de detectar a doença no início e de ter um diagnóstico mais efetivo, então já são casos mais difíceis de tratamento”, disse o médico da USCS.
Quanto ao auto-exame, Makabe, diz que o período mais propício para essa análise é uma semana após a menstruação. “No período pré-menstrual as glândulas ficam mais inchadas e salientes, então a mulher pode pensar que tem nódulo de mama. São muito comuns os nódulos de mama nas faixas etárias da mulher, desde a adolescência até a idade adulta e a maioria destes nódulos são benignos, ou seja, não são câncer, são os chamados fibroadenomas que não tem um potencial de câncer, mas é importante sempre fazer a apalpação para identificar qualquer nódulo”, explica o especialista.
De acordo com o médico mais de 80% dos nódulos nas mamas são benignos “São os fibroadenomas, porque a mama é um tecido gorduroso então há um endurecimento e o surgimento destes nódulos”, diz Makabe que recomenda que seja feita consulta médica e que somente o especialista pode diagnosticar. “Dependendo da faixa etária vamos pedir um ultrassom de mamas, ou vamos pedir uma mamografia para identificar se é mesmo um nódulo ou se é um tecido mamário. O Ministério da Saúde recomenda a mamografia à partir dos 50 anos repetindo a cada dois anos até 69 anos, claro que se ela tem histórico familiar de câncer de mama ela não vai esperar 50 anos para fazer a mamografia. A mamografia que faz o rastreamento do câncer de mama, porque ela é um raio-x ela detecta microcalcificações que não são palpáveis. Ela tem a sua finalidade e não pode ser substituída pelo ultrassom de mamas”, orienta o ginecologista.
O exame preventivo deve ser feito no mínimo a cada dois anos, independente de se ter algum indício de nódulo. “A sociedade Brasileira de Mastologia já orienta a realização de mamografia, dez anos antes, ou seja, à partir dos 40 anos, mas protocolos mundiais mostram maior efetividade à partir dos 50 anos mesmo. Óbvio que se ela tem um caroço, alguma alteração, ela vai fazer antes. A partir dos 50 é para rastreamento, ela não está sentindo nada, mas depois dessa idade tem que procurar um serviço médico e fazer a mamografia de rotina em que ela pode detectar um câncer no início quando é altamente tratável, com uma sobrevida super alta”, detalha Makabe.
A incidência de câncer de mama em homens tem um percentual muito pequeno, mas acontece. Makabe diz que se o homem encontrar alguma coisa tem que procurar um mastologista para ver qual a natureza desse nódulo. “No homem um câncer de mama invasivo pode levar ao óbito como na mulher”, destaca.
Incidência
Atualmente o câncer de mama é, entre os cânceres, o que mais mata mulheres no mundo o segundo é o câncer de colo uterino, por isso os exames preventivos de rotina são tão importantes para detectar a doença no início. “Primeiro tem que identificar se é um nódulo ou se é um cisto. Cisto é uma bolinha de líquido, o nódulo é sólido. Todo nódulo identificado tem que ser pesquisado, dependendo da idade da paciente; se for mais jovem eu vou pedir um ultrassom porque nesse caso a mama tem uma densidade muito grande então a mamografia não traz informações úteis, por isso que nós sabemos que o melhor momento para fazer mamografia é aos 50 anos, porque a mama sofre uma substituição gordurosa e se torna melhor para a análise da mamografia. Dependendo da idade a gente faz a mamografia ou o ultrassom, ou ambos”, detalha o médico sobre os procedimentos.
O próximo passo após os exames é saber a composição do caroço encontrado na mama. “Detectou que é uma característica suspeita então vamos pedir uma punção ou uma biópsia para a gente ter uma certeza da natureza deste nódulo. Se for maligno já encaminhamos para fazer um tratamento de quimioterapia, radioterapia ou cirurgia. Se é de característica totalmente benigna não vai pedir biópsia. Porque vai pedir se a apalpação indica benigna, a ultrassom e a mamografia indicam benignidade?”, indaga o médico.
Procedimentos
Quanto aos procedimentos de tratamento nem sempre envolvem a retirada da mama. “Às vezes você tem um nódulo que é câncer, mas ele está localizado, então é só tirar o nódulo. Aí a gente analisa as bordas, se não tem nada e as bordas estão totalmente livres, tira, faz um quadrante só, não precisa tirar a mama. Depois radioterapia na axila para evitar uma possível proliferação destes gânglios embaixo do braço. Pode também fazer uma quimioterapia que diminui o nódulo e evita, na cirurgia, espalhar essas células cancerígenas”, detalha.
“Que as mulheres não deixem de fazer seus exames de rotina”, orienta Makabe. “Não precisa sentir alguma coisa, façam o exame que é meio desagradável, mas ele faz o diagnóstico do câncer de mama que é o mais frequente na mulher, então quando mais precoce o diagnóstico, melhor o tratamento, melhor o prognóstico e melhor a taxa de cura”, completa.