Racismo estrutural é a principal razão para o apagamento da cultura africana no Brasil. É isso que afirma a professora Mércia Magalhães, durante entrevista ao RDtv. Segundo Mércia, a população negra brasileira não conhece a sua origem, a história contada é aquela criada pelos colonizadores, e não por aqueles que construíram o País.
“Sempre digo que não sei qual é a minha história, sabemos muito sobre os povos europeus, que entraram no nosso País, escravizaram e colonizaram, mas não sabemos a história destes que foram escravizados e colonizados”, ressalta Mércia.
Para a professora, a única maneira de romper com este racismo enraizado na sociedade brasileira, é falar sobre o assunto, trazer esta representatividade para o cotidiano das pessoas. “Devemos falar para estas crianças pretas, estas crianças das comunidades que eles são capazes e que, na verdade, o que falta para nós é a oportunidade. Isso porque colocaram nas nossas mentes que não somos capazes, mas tiraram de nós tudo aquilo que é necessário para que a gente possa evoluir”, expõe.
Nesta sexta-feira (13/05), dia em que foi assinada a Lei Áurea, Mércia lança o livro “Kaya: Uma História de representatividade”, idealizada enquanto contava histórias para os filhos dormirem. “Em abril de 2021, eu contava histórias para os meus filhos, Arthur com 11 anos e Augusto com 7 até que, meu filho me disse que não queria a história de um livro e sim uma que eu inventasse ali na hora. E foi assim que surgiu o livro, que tem como base a minha prática em sala de aula com a atuação da lei 10.639 de 2003, que tem como finalidade trazer o ensino de “história e cultura afro-brasileira”, explica a professora.
Kaya, protagonista do livro, é uma menina como tantas crianças, que por falta de representatividade, deixa de enxergar a beleza advinda de seus ancestrais. O projeto do livro é alinhado ao “ubuntu”, filosofia africana, presente na cultura de alguns grupos que habitam a África Subsaariana e tem como significado a humanidade com os outros, um conceito sobre a essência do ser humano e a forma como se comporta em sociedade. “Ubuntu significa generosidade, e solidariedade, e o desejo sincero de felicidade e harmonia, ‘Eu sou porque nós somos”, explica Mércia.
A obra é indicada para um público muito diversificado, crianças de 4 a 12 anos e isto se estende aos responsáveis, família e cuidadores, já que o livro traz um despertar de consciência a todos, adultos e crianças. “Quero dialogar também com um público muito específico que são os profissionais da educação, professores, gestores, entre outros para que fortaleçam a crença de que é extremamente relevante atuar na prática com esta lei. Precisamos de identidade cultural, conhecer nossa história, e nos sentir representados enquanto sociedade afrodescendente”, completa a autora.
Mércia discute em suas páginas, a questão de combate ao racismo estrutural, do apagamento histórico e cultural pelo qual a sociedade negra passou, mas fala também de diversidade e inclusão de toda e qualquer criança, independente de raça, credo, cor, gênero, etc. “Somos diferentes, isto é um fato, mas temos que ter as mesmas oportunidades, igualdade de direitos e equidade”, conclui.
Serviço
Lançamento do livro “Kaya, uma história de representatividade”
Dia 13 de maio às 18h30
Biblioteca Olíria de Campos Barros
Centro Cultural Diadema
Rua Graciosa, 300
Gratuito
Livre
Valor do livro pré-venda: R$ 26,99.
Pós-venda: R$ 29,99
Venda pelo Instagram: @ubuntu_literarte