
O Dia Mundial da Conscientização do Autismo é sábado, 2 de abril, e tem como objetivo levar informações à população para reduzir o preconceito e negligência contra indivíduos que apresentam o Transtorno Espectro Autista (TEA). Segundo o neuropediatra do Centro Universitário da Faculdade de Medicina ABC (FMABC), Rafael Guerra Cintra, os pacientes podem ter uma vida plena pelo suporte e avanço no tratamento, mas há muito o que refletir e investigar sobre diagnóstico e mitos criados.
O neuropediatra alerta sobre a romantização do transtorno sobre “a criança ser mais inteligente”, em razão de mais da metade dos pacientes ter deficiência intelectual. Outro mito presente nas redes sociais, segundo o médico, é sobre os pacientes terem seu jeito próprio, mas que, na verdade, é a condição clínica do transtorno.
Cintra explica que existe uma variabilidade muito grande entre os pacientes, desde um indivíduo imperceptível até os comprometidos, que têm dependência para realizar atividades. O autismo leve (nível 1) apresenta sinais leves e o paciente chama atenção para a comunicação – como uma criança que começou a falar muito cedo, mas não é típico para sua idade. “Essa criança terá problemas nas outras linguagens apesar de falar bem. Já na adolescência, pode sofrer com piadas e não entender a situação, que se perpetua até a fase adulta”, afirma. O autismo grave (nível 3) é severo e tem, ainda, a questão social comprometida de forma evidente.
As características gerais do autismo são baseadas em dois pilares, um deles a linguagem, a forma como o paciente se comunica com o ambiente, através da fala, gestos, e dificuldade de reconhecer linguagem corporal. “A criança não tem interesse de se comunicar com outras pessoas e se isola no seu mundo”, diz. O segundo pilar está ligado ao comportamento, como movimentos involuntários e repetitivos (estereotipias), emissão de sons sem sentido e as brincadeiras não têm funcionalidade. “Eles possuem alterações sensoriais e barulhos muito altos, como secador, lugar cheio de pessoas e som de moto incomodam”, salienta.
Daniela Bezerra, pediatra com especialização em neurologia da infância e adolescência também do Centro Universitário FMABC, ressalta a importância do diagnóstico precoce para impulsionar a reabilitação da criança, no sentido de adaptar as características para a comunicação social. “Medicamentos não são ponto chave para o espectro autista. Existe remédio para tratar as comorbidades, como insônia, hiperatividade e agressividade, mas a chave do tratamento são terapias multidisciplinares, voltadas para a necessidade de cada criança”, orienta.
As três principais terapias são psicoterapia comportamental, para crianças e adultos; fonoterapia para questões de fala e comunicação; e terapia ocupacional, para questões sensoriais. O autismo não tem cura e o que se sabe é que existem determinados genes associados, mas pesquisas tentam descobrir as causas e gatilhos que geram o TEA (Transtorno do Espectro Autista).
As crianças com quadros leves e moderados devem ser incluídas em escolas tradicionais com o devido suporte, enquanto aquelas com quadro severo devem ir para escolas especializadas, com bom vínculo com a equipe multidisciplinar que cuidará das crianças. A pedagoga Marcela Del Sordi, professora de crianças com o espectro, relata que é possível através de uma liminar, pelo plano de saúde, conseguir um acompanhante terapêutico, que auxilia e adapta as atividades para a criança.
Quanto mais terapia para o paciente, melhor será seu desenvolvimento. Cada criança com o TEA necessita de um tratamento, e para isso, é necessário realizar o acompanhamento, manter o ambiente acolhedor para o paciente, saber os limites e olhar com respeito e sensibilidade para a criança e para a família.