Abandono de animais aumenta na pandemia e sobrecarrega abrigos

Cãozinho Senna, do CCZ de Diadema, é um dos mais de 800 animais que aguardam adoção na região (Foto PMD)

No ABC, assim como no Brasil, não há estimativas oficiais sobre número de animais abandonados nas ruas. Estudo realizado pela Amparo Animais, entidade que apoia abrigos e protetores em todo País, estima que houve um aumento de 60% nos abandonos de animais, no Brasil, entre julho de 2020 e fevereiro de 2021, em relação ao período anterior à pandemia.

Levantamento das sete prefeituras da região aponta que em março deste ano houve aumento de quase 76% no número de animais disponíveis para adoção nas unidades de CCZ (Centro de Controle de Zoonose), em relação a janeiro. Atualmente há 208 cães e gatos prontos para serem adotados, abrigados nos serviços municipais. Em janeiro eram 118 animais.

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Segundo a protetora Gabriele Mingorance Zola, da União de Proteção Animal ABC, o momento de isolamento social, por conta da pandemia, fez crescer a procura por animais de companhia. “Muitas pessoas ficaram carentes e procuraram por um animal de estimação. Infelizmente, com o retorno das atividades presenciais, o animal deixa de ser importante e tivemos casos de devolução, como se o animal fosse um bem e não uma vida”, conta.

Lotação máxima

Cerca de 30 protetores em todo o ABC integram a entidade União de Proteção Animal da região. Mensalmente, cerca de 20 animais são resgatados. “Em parceria com o Golden Shopping, em São Bernardo, nós realizamos a feira de adoção. Por mês, conseguimos doar até 50 animais. Mas nós estamos com a lotação máxima, não conseguimos resgatar todos os animais que estão nas ruas”, conta Gabriele ao reforçar que as doações diminuíram muito, com a pandemia.

A última ajuda financeira enviada à entidade foi um pix no valor de R$ 40, em fevereiro, e anteriormente, um pacote de ração em dezembro. “O trabalho é voluntário, ser protetor é atuar com o coração. Se cada um fizer sua parte e ter responsabilidade com o seu pet, sem abandoná-lo na rua, nós conseguiríamos ajudar mais”, ressalta.

O Clube dos Vira Latas, em Ribeirão Pires, também está com a capacidade máxima do abrigo. Atualmente, 500 cães são cuidados e alimentados diariamente. Isso sem contar com assistência médica. O Clube também sobrevive de doações. “A maioria dos animais que chega  foi atropelada, vitimada por maus tratos e abandonada. O objetivo é resgatá-los das ruas, tratá-los e conseguir um lar responsável, para que possam ter uma vida digna e feliz”, conta Maria Cristina Volpert, responsável pela ONG, que em 20 anos de existência já contabiliza mais de 15 mil adoções.

Por conta do volume de abandonos, protetores e entidades da região evitam divulgar os endereços. “As pessoas amarram os animais no nosso portão ou os jogam por cima. Por isso, evitamos divulgar para não facilitar a prática. O contato deve ser feito nas feiras ou por canais digitais e telefone”, explica Gabriele.

Abandono é crime

O abandono de animais em locais públicos é considerado crime de maus-tratos no Brasil, pela Constituição Federal e pela Lei de Crimes Ambientais nº 9.605/98. Para a médica veterinária Rana Z. Rached, gestora do curso de medicina veterinária da USCS (Universidade de São Caetano do Sul), é preciso investir em educação, para garantir a conscientização dos tutores de animais. “As pessoas precisam entender que ao adotar um animal, ele necessitará de cuidados por, pelo menos, 12 anos. O pet gera gastos com veterinário, medicamentos, comida, banho, entre outros”, explica. Quando filhotes, diz, os pets são muito fofinhos, mas também é preciso investir tempo e, até mesmo dinheiro, no adestramento, para que eles não mordam móveis e bens materiais.

A veterinária aponta que o abono é um problema cultural. Os animais precisam deixar de ser vistos como um bem que pode ser descartado. É um ser vivo que sente fome e dor. Rana ainda alerta para a escolha dos animais. Se o desejo for um animal de companhia, a dica é optar pela adoção. “Porque precisa ser um animal de raça?”, indaga. “A raça só importa caso a pessoa necessite de uma habilidade específica como guarda ou pastoreio, caso contrário, não importa”, diz.

Chip e castração

Rana ainda reforça que ações públicas de identificação do animal, como a colocação de chip e serviços de castração, também ajudam a diminuir o abandono e a população animal das ruas. “Com o chip, podemos verificar a posse do animal e encontrar o autor do abandono, ou localizar o dono, caso o animal esteja perdido. Com a castração, evita-se a procriação indevida e o abandono de filhotes ou das mães durante a gestação”, ensina.

Na região, os CCZs promovem apenas o resgate de animais de rua que ofereçam risco à saúde pública, que sofram maus-tratos, foram atropelados ou estejam doentes. Animais domésticos são de responsabilidade do tutor. No caso de ficar impossibilitado de manter o animal, seja qual for o motivo, a orientação é unânime: encontre um novo lar para o cão ou gato. “Nós ajudamos a divulgar a doação, mas não o coloque na rua, é muita crueldade”, afirma Gabriele. “O indicado é procurar um novo lar e garantir que o animal seja bem cuidado. Divulgue nas redes sociais, procure uma entidade para ajudar na divulgação. O abandono é crime”, ressalta.

Para tentar ajudar protetores e entidades, Santo André promove ações sociais, como o Moeda Pet, troca de garrafas pet por rações de cães e gatos. As doações são encaminhadas à tutores em situação de vulnerabilidade social e entidades cadastradas junto à Prefeitura.

Feiras para adoção

Gatinho Kennedy aguarda adoção em Mauá (Foto Divulgação)

As prefeituras da região promovem feiras de adoção mensalmente. Em São Caetano, por exemplo, todo 3º sábado do mês, o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) realiza a feira. Atualmente, a cidade tem 9 cães e 15 gatos que aguardam um novo lar. Os interessados também podem comparecer ao CCZ, de segunda a sexta-feira, das 9h às 16 (rua Justino Paixão, 141, bairro Mauá. Telefone 4233-7516.

Em Diadema, 8 gatos e 16 cães estão em busca de um nova família. Além das feiras de adoção promovidas pela prefeitura, os interessados podem conhecer os animais por meio do site Adote Amor.

Já em São Bernardo, as feiras de adoção são realizadas bimestralmente. No momento, a cidade conta com 48 animais disponíveis para adoção (27 cães e 21 gatos). Para conhecer os animais, é só acessar fotos e demais informações pelo site da Prefeitura.

 Em Santo André, 21 animais (19 cães e 2 gatos) estão disponíveis na Gerência de Controle de Zoonoses. As informações completas sobre adoção e o cadastro dos animais estão disponíveis no site da Prefeitura.

Ao todo, 81 animais estão abrigados no Centro de Proteção Animal de Mauá. São 21 gatos e 60 cães que estão à procura de um novo lar. Desde janeiro de 2021, outros 81 animais conseguiram uma família, foram 74 adoções no ano passado e sete em 2022. Para conferir como adotar e conhecer os animais, acesse o site do Centro de Proteção.

Em Rio Grande da Serra, há 3 gatos filhotes, 2 cães filhotes e 5 adultos à espera da uma família. Para informações e denúncias de maus-tratos há o telefone 4821-2715, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Em caso de denúncias de maus-tratos, fora do horário comercial, moradores podem acionar a GCM (Guarda Civil Municipal) pelo telefone 4826-8008.

Ribeirão Pires também realiza feiras de adoções mensalmente, as datas são divulgadas pelas redes sociais e site da instituição. Mais informações podem ser obtidas diretamente no departamento de Proteção à Fauna e Bem-estar Animal pelos telefones 4824-4197 e 97211-1112 (Whatsapp).

 

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