
Estudo que integra a 21ª Carta de Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), apresentada nesta quarta-feira (23/03), mostra a necessidade maior de aproximação entre empresas e universidades na área de pesquisa e desenvolvimento o que viria recuperar o parque industrial do ABC e os empregos. O estudo é assinado pelo coordenador do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo, Inovação e Conjuntura da USCS, Jefferson José da Conceição; pela professora Maria do Carmo Romeiro, pró-reitora de pós-graduação e pesquisa, e pelo professor e coordenador de políticas públicas, empreendedorismo e inovação da universidade, Ricardo Trefiglio.
De acordo com o estudo os desafios são grandes na área de inovação. A carta faz um histórico da industrialização na região desde os anos 1.950 e fala da primeira crise em 1990 com a perda de metade dos postos de trabalho industriais por conta das importações, da reestruturação produtiva e da guerra fiscal. O documento cita também a retomada dos empregos e a expansão da produção entre 2005 e 2014, período em que o emprego na indústria da região salta de 192.724 para 264.827 postos formais, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), e aponta também nova queda em 2015 levando o Produto Interno Bruto do ABC cair de R$ 164,5 bilhões em 2011 para R$ 130 bilhões em 2019. Os autores sugerem ainda que a pandemia da covid-19 deverá apontar uma queda ainda maior já que a indústria foi uma das principais prejudicadas.
Ainda de acordo com o estudo, o ABC foi inovador com a criação do Consórcio Intermunicipal e da Agência de Desenvolvimento Econômico e agora, segundo Jefferson José da Conceição, esse é o momento de retomar o espírito de inovação e isso já está acontecendo. “A crise é uma alavanca de inovação também, ela gera uma necessidade de encontro de soluções novas. Isso aconteceu no ABC em praticamente todos os anos 90 e nós vivemos agora numa crise muito aguda que ganha contornos dramáticos principalmente em regiões industrializadas. Exatamente neste momento estamos em retomada. Temos um grupo de trabalho de universidades, a USCS encabeçando, e conversando com a Agência de Desenvolvimento Econômico, tirando soluções inovadoras. É um momento rico. Claro que muitos desses processos demoram a dar resultados, mas estou otimista com essa nova fase”, analisa o economista.
A nota técnica aponta propostas das universidades como a realização de uma feira de inovação, a retomada de Arranjos Produtivos Locais concentrados na inovação e nos desafios tecnológicos que as universidades possam ajudar, a criação de um ‘sandbox’ regional para que as políticas de compras governamentais possam estimular as startups, o surgimento do Hub de Inovação da USCS, do Parque Tecnológico de Santo André e do Portal do Pesquisador, para aproximação de pesquisadores, gestores e empresas.
A aproximação com empresas já é o objetivo do Hub de Inovação da USCS, com destaque para as startups. Os problemas trazidos pelas empresas, segundo explica o coordenador do Conjuscs, seriam respondidos pelas startups. “Temos um hub central que vai ser no campus Conceição que pode ter extensões. Vértices principais, saúde, da indústria 4.0 e da comunicação e um quarto vértice, a área multimercado. Na fase de incubação estão previstas capacitação e formação do modelo de negócios desde a ideia básica até o modelo que possa ser testado no mercado. A ideia é envolver toda a universidade com a participação de alunos e professores e até gente de fora da USCS e prevemos também a formação de uma rede com universidades de fora de tal modo que o processo de inovação vá ganhando musculatura com uma forte dose de empreendedorismo”.
Para Jefferson José da Conceição as multinacionais têm todo o interesse no trabalho e no desenvolvimento que as universidades e as startups podem trazer. “É sempre um esforço que o país tem que fazer de estimular determinadas áreas, se não fizer nada as multinacionais vão trazer tudo de fora e a gente vai comprar tecnologia dos outros, mas se você não forçar com políticas de incentivo, de tributos, de financiamento, de apoio e até de uma certa reserva de mercado em determinadas áreas, não vai conseguir o objetivo de adensar a cadeia produtiva. Aqui no ABC temos que ter pesquisadores e estudantes circulando nas empresas em volume muito maior e temos que ter os empresários circulando na universidade. É caro manter um departamento de desenvolvimento, com equipamentos caros de testagem e com resultados a longo prazo. Se você tem startups que estão dentro da universidade resolvendo ou gerando soluções, isso vai reduzir o custo. Estamos empenhados na possibilidade da construção de um modelo em que a grande empresa, discuta soluções com pequenas startups que depois viram gigantes”, conclui o professor.