Um grupo de trabalhadores demitidos da fábrica da Volkswagen de São Bernardo realizou, na manhã desta segunda-feira (21/03), um ato de protesto em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na mesma cidade. Os demitidos seriam 83 trabalhadores, a maioria atuando em postos alocados por estarem com doenças relacionadas ao trabalho, que reclamaram da demora em providências da entidade sindical. O sindicato sustenta que desde a demissão dos trabalhadores vem acompanhando a situação e luta pela reintegração de todos. A Volkswagen não explicou o motivo das demissões, e disse que apenas em alguns “casos pontuais” os trabalhadores foram demitidos “com direitos”.
Os operários contam que no último dia 07/03 foram demitidos sem nenhuma justificativa da empresa e tentaram ajuda da representação da entidade sindical, mas não obtiveram apoio. Fábio Veloso Martins, que trabalhou quase 14 anos na fábrica da Anchieta, disse que os trabalhadores estavam sob acordo de estabilidade. “Procuramos a comissão de fábrica que fechou as portas para nós. Pedimos explicações e já se vão 15 dias, fomos abandonados. Toda vez que o sindicato precisou de nós ficamos do lado deles, agora nós precisamos deles”, lamentou.
Paulo Sérgio Diniz tem dois problemas de saúde que estava tratando até ser mandado embora; um no joelho e outro no ombro. Segundo ele os problemas foram gerados pelo trabalho na montadora. No dia 08/03 ele tinha uma cirurgia marcada para operar o ombro, mas cancelou, por conta da demissão um dia antes, pois não sabe como ficará a situação do seu convênio médico. “Depois que o INSS me deu alta, o próprio médico da empresa falou que eu não tinha condições de trabalhar, mas na hora da demissão disse que eu estava apto. Não dá para entender”, reclamou o operário que trabalhou 12 anos na montadora.
Débora de Sousa Leal foi a única mulher do grupo de 83 trabalhadores demitidos. Lesionada na coluna, ombro e punhos ela estava em um dos postos alocados dentro da empresa, por não ter condições de trabalhar mais na linha de produção. Ela suspeita que a empresa não tenha conseguido o resultado desejado com o PDV (Plano de Demissão Voluntária) e que por isso resolveu cortar os trabalhadores lesionados. “Mas a gente trabalha lá dentro como qualquer outra pessoa, trabalhamos até mais, só não conseguimos mais levantar peso ou ficar fazendo movimentos repetitivos como antes”, conta. Com a demissão Débora não sabe como fará para pagar as contas de casa, ela morava com o pai que faleceu durante a pandemia e agora ela arca sozinha com todas as despesas da casa.
Através de sua assessoria de imprensa, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC disse que também foi pego de surpresa pelas demissões, mas que não fechou as portas para os trabalhadores e que todos que procuraram a entidade foram atendidos. Segundo o sindicato a empresa não comunicou as demissões, mas soube da situação através dos trabalhadores. De acordo com a entidade sindical, a empresa alegou as demissões por absenteísmo (faltas) o que, para o sindicato não procede. O SMABC também considera que os trabalhadores lesionados não poderiam ter sido demitidos e que a luta é pela reintegração de todos e para isso os diretores do sindicato estarão reunidos com a empresa durante a semana e esperam ter uma posição até sexta-feira.
Em nota, a montadora não explicou a razão dos desligamentos. “A Volkswagen do Brasil esclarece que os desligamentos ocorridos em sua unidade de São Bernardo do Campo nesses primeiros meses do ano são em sua maioria decorrentes de adesões ao Programa de Demissão Voluntária (PDV) aberto pela empresa, além de alguns outros casos pontuais de ‘Desligamento com Direitos’. A empresa reitera que todos os direitos previstos na legislação vigente estão sendo disponibilizadas aos empregados envolvidos”.
(Colaborou Leandro Amaral)