Tendência na pandemia da covid-19, as hortas urbanas ganharam espaço em cantinhos de diversas residências nos últimos dois anos. Além de saudáveis e sustentáveis, também aproximaram as pessoas da natureza em meio ao confinamento social imposto pelo novo coronavírus. O aumento do interesse do brasileiro pela agricultura urbana também motivou a criação do projeto Nossa Horta, que tem como foco incentivar o cultivo de hortas urbanas comunitárias em mais de três mil condomínios do Estado de São Paulo.
Lançado em dezembro do ano passado, a proposta do Grupo Lello, por meio do Lellolab, – laboratório da administradora de condomínios criado em 2018 para melhorar a experiência de viver em comunidades -, conta com a parceria da startup Loa Terra, que já desenvolve ações para uma comunidade urbana mais saudável, integrada e sustentável. Desde 2017, a empresa faz projetos de hortas em escolas, empresas e residências de São Paulo.
Nos condomínios, a iniciativa pretende aproveitar espaços subutilizados nas áreas comuns para o plantio de ervas, temperos e alimentos frescos e orgânicos para serem colhidos e consumidos pelos moradores, fortalecendo, desta forma, a sustentabilidade e o convívio entre os vizinhos.
“O objetivo é apoiar os condomínios de São Paulo na sua jornada rumo à sustentabilidade. A ideia é que as hortas sejam o começo desse processo de transição sustentável dos condomínios. Durante a pandemia, as pessoas buscaram trazer um pouco de vegetação para suas casas. E quando essas hortas vão para um espaço comum de um condomínio acabam por produzir um efeito de coletividade muito positivo. Essa interação entre as pessoas – crianças, idosos e adultos – está na origem deste projeto”, afirmou Lucas Girard, líder em Inteligência e Inovação Urbana do LelloLab.
Ainda no ano passado, Roberta Mourão, fundadora da Loa Terra, inscreveu a sua empresa no processo de seleção do LelloLab. Depois de passar por diversas etapas, a Loa Terra foi uma das escolhidas para participar do projeto Nossa Horta.
“A ideia é que a gente, como startup, consiga estruturar um modelo de negócio para ajudar os condomínios a melhorarem a vida em comum. Nós nos inscrevemos na categoria de Plantio Urbano. Fomos selecionados para desenvolver junto com a Lello um projeto de horta em condomínios. É um modelo que visa a transformar ambientes que já existem nos condomínios em um espaço produtivo que sirva como produção de alimentos, de encontro e, que acaba promovendo a biodiversidade”, afirma Roberta.
Desde janeiro, a Loa Terra também recebe contatos de condomínios interessados. Está na fase de apresentar propostas para viabilizar o projeto em cada condomínio. “Para dar andamento, procuramos entender qual área cada condomínio tem disponível, quantas pessoas moram ali e qual perfil dos moradores, para que a gente possa avançar para o segundo passo, que é a implantação do projeto, desde que o condomínio tenha aprovação em assembleia”, explica a fundadora da Loa Terra.
Segundo ela, a partir de cinco metros quadrados, já é possível ter uma boa diversidade de alimentos em uma horta. “Conseguimos plantar de cinquenta a oitenta mudas neste espaço. Muitos condomínios possuem canteiros que podem ser melhor aproveitados. Procuramos esse local, fazemos a adubação da terra e depois que o solo fica pronto, convocamos os moradores para um evento. No dia, educadores fazem uma vivência com moradores, ensinando como devem plantar e colher os alimentos. A ideia é que a própria comunidade faça o plantio”, acrescenta Roberta.
Realizado na sede do Grupo Lello na Mooca, na zona leste de São Paulo, o piloto do projeto indica como pode ficar a horta urbana em um condomínio. No local, um canteiro de plantas e flores no térreo da unidade foi transformado em uma grande horta, com plantio coletivo de tomates, manjericão, couve, alecrim, tomilho, salsinha e cebolinha.
Para a ideia ser colocada em prática, a criação de hortas urbanas nos condomínios depende de aprovação em assembleias de moradores, mas ao que tudo indica há interesse por parte de muitos prédios. “Temos muitos condomínios procurando a gente para ter esse apoio. Mas para todas as hortas coletivas serem criadas, por ser uma ação nas áreas comuns, precisamos ter todas as devidas aprovações em assembleias. Depois, teremos que elaborar um projeto, o local onde será feita a horta, se é ensolarado e com chuva, entender quem irá cuidar dela e quais hortaliças e ervas, por exemplo, serão plantadas no local. Isso vai depender muito do perfil de cada prédio”, acrescentou Girard.
Como participar da iniciativa
Para fazer parte do projeto ‘Nossa Horta’, o condomínio interessado deve entrar em contato com a Lello Condomínios, que, em parceria com a Loa Terra, planejará o desenvolvimento da horta a partir das características do local.
Esse processo é realizado com base em conversas com os moradores e com o síndico, seguindo a capacidade de investimento do condomínio, que será o responsável pelos custos da horta.
Antes de ser colocada em prática, a criação da horta precisa ser aprovada em assembleia pela maioria dos proprietários.
No caso de condomínios que queiram fazer uma horta urbana comunitária por conta própria, devem se atentar para os custos financeiros para a instalação da estrutura, assim como da manutenção. Deve haver a participação de profissionais especializados, mas também a convocação de voluntários do edifício para que aprendam como cultivar e realizar a colheita. Além de aprovação em assembleia do condomínio, a iniciativa deve levar em consideração também quais alimentos serão plantados na horta.