O presidente do Coren SP (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo), James Francisco dos Santos, disse que mais de 10 mil enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem estão afastados do trabalho no Estado vítimas de síndromes gripais ou covid-19. O número de profissionais ausentes nos postos de trabalho ajuda aumentar a sobrecarga no sistema que, há cerca de um mês, vê crescer o número de doentes por covid-19, dada a maior capacidade de transmissão da variante ômicron, e de influenza H3N2.
O dirigente do conselho regional diz que fatores ,como o isolamento social por longo período e o cansaço da população, fizeram com que as pessoas deixassem de se precaver da mesma forma e com isso a nova variante, que é mais infecciosa, aumentou o movimento nos hospitais. “A população ao longo desse período começou a se descuidar daquilo que sempre preconizamos que é o uso da máscara, higienização das mãos com água e sabão ou álcool a 70% e distanciamento social, e isso veio num momento onde o vírus, que é um agende parasitário que está o tempo inteiro se modificando, vem com a cepa da ômicron aumentando o seu poder de contaminação e por isso temos um grande número de casos em todos os serviços”, avalia James Francisco dos Santos, em entrevista ao RDTv.
Em todo o Estado são mais de 600 mil profissionais de enfermagem, cerca de 25% do continente do país e esses profissionais estão sofrendo com a sobrecarga de trabalho. “Com a variante ômicron percebemos que houve um aumento substancial da quantidade de casos e isso se reflete na assistência direta prestada a população. Para se ter uma ideia o atendimento a um paciente que chegava a uma UBS (Unidade Básica de Saúde) ou uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) que era de uma hora e meia, hoje passa de seis horas, não porque estamos atendendo de forma mais lenta ou porque temos menos profissionais, mas porque a quantidade de casos aumentou e não só a população foi acometida, mas também os profissionais de enfermagem. Hoje temos um número muito grande de profissionais afastados por síndrome gripal, seja H3N2 ou mesmo a variante ômicron que levam ao afastamento de profissionais de saúde. Em especial o pessoal de enfermagem que está ali, 24 horas beira leito. Então a gente sofre muito com essa deficiência”, comenta o presidente do Coren SP.

Para Santos as festas de fim de ano ajudaram a aumentar o número de casos. “Estamos vivendo o reflexo do Natal e do Ano Novo. As pessoas resolveram se reunir depois de dois anos de distanciamento porque os casos estavam diminuindo”, comenta. Na Capital paulista as UBSs não tiveram folga e vacinaram inclusive no Natal e Ano Novo. “O profissional teve que estar lá para vacinar a população. Então a doença mental, o stress, a síndrome de Burnout e a depressão, que já eram fatores presentes na vida do profissional de enfermagem, com esse desgaste da pandemia se tornaram muito maiores. Segundo o Observatório da Enfermagem, temos mais de 10 mil afastados por conta de síndromes gripais e por covid. O Brasil é um dos países que mais profissionais de enfermagem perdeu, foram 800 profissionais que perderam suas vidas, esse é um número extremamente triste para a população”, afirma.
Baseado nas informações que chegam até o Coren SP, Santos diz que os casos de pacientes mais graves e que precisam de internação e até de UTI, são aqueles de pessoas que não se vacinaram ou que não completaram o ciclo de imunização. “Vivemos um momento de polarização muito grande onde as pessoas criam movimentos anti-vacina e o relato que nos chega através dos profissionais é que as pessoas que hoje buscam atendimento de saúde, infelizmente, são aqueles que não foram vacinados, ou que não completaram o esquema vacinal. A vacina não vai impedir de pegar a covid-19 ou desenvolver uma síndrome gripal, mas a gente sabe que a medida vacinal diminui a gravidade dos casos e permite que os hospitais não fiquem superlotados de casos graves”, diz.
Violência
Além da jornada de trabalho, das folgas cortadas e do risco iminente de contaminação, o profissional de enfermagem também tem que lidar diariamente com outro drama; a violência. Segundo dados do Coren SP, que fez uma pesquisa na categoria, de dezembro até agora, 40% dos profissionais relataram terem sido agredidos de forma verbal e 9% foram agredidos de fisicamente. “Imediatamente o Coren encaminhou a todos os secretários de saúde e gabinetes de prefeitos pedidos para que houvesse um reforço do contingente de guardas civis ou de policiais militares nas unidades de saúde”, disse James Francisco dos Santos. “Quando se tem um profissional agredido de forma verbal ou física isso reflete diretamente no afastamento deste profissional. Temos diversos profissionais afastados por depressão e por síndrome de burnout”, afirma o presidente do Coren SP.