Como no ABC nenhuma cidade terá desfiles de Carnaval ou blocos de rua, muitos foliões devem ir para a Capital onde, ao menos por enquanto, os desfiles no Sambódromo do Anhembi estão mantidos, apesar dos blocos de rua estarem proibidos de circular. Essa movimentação de pessoas e as aglomerações que podem ocorrer acendem uma luz de alerta no painel das preocupações dos especialistas ouvidos pelo RD. Por outro lado carnavalescos criticam a falta de vontade política para a realização de um Carnaval regional que poderia ser feito em local fechado como em São Paulo.
Segundo a infectologista Elaine Matsuda, as aglomerações podem favorecer inclusive uma nova cepa do coronavírus. “É difícil prever se no carnaval já não teremos mais suscetíveis a ômicron, com tantos casos já em janeiro. Mas sempre há o risco de surgir uma nova variante e começamos tudo novamente. Visto o número de pessoas que já tiveram covid e foram reinfectados”, disse.
O médico pneumologista e professor da disciplina na Faculdade de Medicina do ABC, Elie Fiss, também considera perigosa a aglomeração de pessoas. “O Carnaval não pode ter aglomeração. O que estamos vendo agora é uma grande demanda de consultas na rede pública e privada, mas sem o aumento correspondente do número de internações. Vamos aguardar o decorrer da semana para ver se isso se mantém. Quanto aos desfiles eu acredito que, se tiver, que seja sem público, porque se houver aglomeração vamos ter uma outra onda novamente sim”, analisa.
O RD também ouviu carnavalescos da região, que foram favoráveis a decisão do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB) de cancelar a circulação dos blocos de rua e manter apenas o Carnaval no Sambódromo onde, na teoria, é possível um controle maior dos frequentadores com apresentação de comprovante de vacina e também uso de máscara. “O Carnaval de São Paulo vai seguir todos os protocolos de testagem, comprovação de vacinação, tudo direitinho. Não vamos ser hipócritas de que o povo vai fica na arquibancada de máscara, mas vai ter um controle maior, vão vender menos ingressos na arquibancada, vai ter um certo controle. Já o Carnaval de rua não tem controle. Todo mundo que estiver passando e quiser pular vai estar ali, é muito risco e eu concordo com o prefeito de São Paulo”, disse Hamilton de Paula, presidente da Uesa (União das Escolas de Samba de Santo André).
De Paula trabalhou bastante para o Carnaval da Capital de seu ateliê de fantasias em Santo André. Ele avalia que a tentativa de fazer este Carnaval, o primeiro desde o início da pandemia, pode ser uma prova se a estratégia vai funcionar. “Vamos tentar. As escolas do primeiro grupo vão ter um distanciamento dos componentes, vai ser tudo passado para os presidentes (das escolas de samba) e o que for descumprido, a escola perderá pontos. Eu estou acreditando nisso e pedindo que Deus cubra todos com muita saúde. Para os hipócritas a covid-19 está dormindo e só vai acordar no Carnaval, mas tem muito show acontecendo, igreja lotada, estádio lotado, as praias e bares estão entupidos de gente. Tem um pouco de preconceito com o sambista”, aponta.
A presidente da Uesma (União das Escolas de Samba de Mauá) Meire Terezinha da Silva, disse que alas inteiras sairão da região para a Capital. “Temos oficinas costurando fantasias, alegorias, são muitos do ABC trabalhando nos barracões; daqui estão saindo alas fechadas para desfiles”, disse. Ela também concordou com a determinação de Ricardo Nunes e criticou os prefeitos do ABC. “Aqui está se resolvendo tudo no Consórcio Intermunicipal sem uma pesquisa pública e sem as escolas, ou as ligas que as representem. Os gestores esquecem que os desfiles geram renda para o município e que o povo precisa de cultura e lazer. Estamos de acordo em não ter desfiles dos blocos para garantir que não sejamos contaminados. No sambódromo tem como seguir os protocolos já aqui no ABC não temos um lugar totalmente fechado para garantirmos os protocolos, mas no entanto quero ressaltar que também não se tem vontade política para realizar o evento, sinto um certo preconceito em relação a nossa atividade cultural afro brasileira, já que não é de hoje que o Carnaval e blocos vem sofrendo com a falta de interesse do governo. Estamos abertos a dialogar sobre os rumos da cultura carnavalesca no ABC. Não podemos negar que os desfiles são uma cadeia produtiva onde muitos profissionais estão envolvidos”, resume.