
Os ex-moradores do edifício Di Thiene têm passado noites na rua, em frente do Clube Fundação, em São Caetano. O grupo está nesta situação desde que a Prefeitura fechou o espaço que havia sido cedido para abrigo das famílias há dois meses.
A Prefeitura sustenta que haviam poucas pessoas no local e manter o abrigo não se justificava, de outro lado os moradores dizem que saíram para trabalhar na quarta-feira (04/08) e, à noite, quando voltaram encontraram portões fechados e a Guarda Civil Municipal na porta do ginásio. Desde então, as famílias dormem em colchões e barracas na rua em frente ao centro de esportes.
Os moradores consideram que a Prefeitura descumpriu ordem judicial que obriga a administração municipal abrigar as famílias até o reestabelecimento do auxílio-aluguel. “A Prefeitura não respeita ordem judicial, as famílias estão sofrendo na rua com esse frio, parece que tentam vencer a gente pelo cansaço, porque quem tem criança não vai aguentar ficar lá na rua muito tempo, vai arrumar uma casa de parente, se apertar em algum lugar. Enquanto estávamos lá dentro tínhamos uma cozinha comunitária e a gente se virava, agora não tem como fazer comida na rua. Eu consegui marmitex de doações para este sábado e domingo (7 e 8/8), depois não sei o que vai ser da gente”, comenta Leandro Gonçalves Montijo, que morou no Di Thiene durante 10 anos.
O Di Thiene foi demolido em 2019 após desabamento parcial da estrutura. Os moradores tiveram da Prefeitura um compromisso de que seriam contemplados com unidade em conjunto habitacional, que seria feito em parceria com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), enquanto isso receberiam auxílio-aluguel, no valor de R$ 400 por 18 meses, período que acabou em junho. Sem o auxílio, parte dos moradores ocupou o terreno onde ficava o prédio, depois foram para o CRAS (Centro de Referência e Atenção Social) do Bairro Fundação. Uma decisão judicial fez com que a Prefeitura disponibilizasse um local para abrigo das famílias, no caso o Clube Fundação, aberto no dia 5 de junho para o CRAS ser liberado. Lá nova confusão aconteceu, porque a estrutura montada não comportava todas as famílias, mais de 50 pessoas. Mesmo assim o grupo ocupou o espaço.
O advogado e ex-vereador Horácio Ranieri Neto, que acompanha o desenrolar jurídico da situação das famílias disse que tenta, juntamente com outros advogados, desde quinta-feira (5/8) reunião para sensibilizar o judiciário sobre a situação das famílias. “Ate agora não conseguimos falar com a juíza, acredito que até terça-feira tenhamos alguma novidade, mas por enquanto nada”, lamenta.
De acordo com Montijo, 1o2 famílias viviam no Di Thiene quando teve a estrutura condenada. A Prefeitura, a CDHU (Companha de Desenvolvimento Habitacional Urbano) e a Enel estão envolvidas em uma negociação para dar abrigo a essas famílias. Um terreno foi doado para a companhia estadual erguer um conjunto de apartamentos, mas parte dele é da Enel. Segundo o secretário executivo de Habitação, Fernando Marangoni, a bola ainda está com a Prefeitura que precisa acertar a situação com a Enel.
Questionada, a Prefeitura o manteve a mesma nota oficial divulgada quinta-feira, em que sustenta que apenas quatro pessoas ocupavam o ginásio e politizou a situação por culpa do PSol. “A Prefeitura de São Caetano do Sul esclarece que, em monitoramento diário do abrigo montado no Clube Fundação, constatou que, desde segunda-feira (2/8), apenas 4 das 60 pessoas que invadiram o local em junho permaneciam abrigadas. As demais deixaram o espaço por livre e espontânea vontade, não retornando sequer para dormir. Diante disso, a Prefeitura acionou a Justiça requerendo a extinção do processo de reintegração de posse, por perda do objeto. Paralelamente, posicionou a GCM (Guarda Civil Municipal) na entrada para a preservação do patrimônio público. Reforçando o compromisso humanitário da Prefeitura, na noite de quarta-feira (4/8) equipe do SOS Cidadão 156 esteve no local para encaminhar as pessoas que permaneciam em frente ao clube para o abrigo municipal, no Bairro Santa Maria. A ajuda, no entanto, foi recusada. A Prefeitura lembra que, além do abrigo montado no Clube Fundação, com camas, colchões e cobertores, distribuiu cestas básicas aos ex-moradores do Edifício Di Thiene. E reitera que movimento político do PSOL, que incentivou a invasão em junho, novamente convocou pessoas não originárias do Edifício Di Thiene para comparecerem ao local, sem qualquer tipo de vínculo com o fato”.
Os ex-moradores do condomínio, que receberam auxílio-aluguel entre 2019 e 2020 foram convocados a comparecer à Câmara a partir desta segunda-feira (9/8) até 10 de setembro para fornecer documentos para cadastro, que vai balizar a votação de um novo projeto para reestabelecer o auxílio-aluguel.