Os ex-moradores do edifício Di Thiene, que estavam abrigados há dois meses no Clube Fundação, foram impedidos de entrar no local na noite desde quarta-feira (04/08) e parte das famílias passou a noite no relento. Durante esta quinta-feira, colchões e pertences dos moradores ocuparam a rua em frente ao ginásio que acabou fechada. Os moradores não pretendem deixar a via pública até que a prefeitura permita o ingresso no clube que foi cedido para abrigo até que os moradores do edifício, que desabou em 2019, voltem a receber o auxílio aluguel, que parou de ser pago em junho após 18 meses.
O Di Thiene foi demolido em 2019 após desabamento parcial de sua estrutura. Os moradores tiveram da prefeitura um compromisso de que seriam contemplados com unidade em conjunto habitacional que seria feito em parceria com a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), enquanto isso receberiam auxílio-aluguel, no valor de R$ 400 por 18 meses, período que acabou em junho. Sem o auxílio, parte dos moradores ocupou o terreno onde ficava o prédio, depois foram para o CRAS (Centro de Referência e Atenção Social) do Bairro Fundação. Uma decisão judicial fez com que a prefeitura disponibilizasse um local para abrigo das famílias e o Clube Fundação foi disponibilizado no dia 5 de junho para o CRAS ser liberado. Lá nova confusão aconteceu porque a estrutura montada não comportava todas as famílias, somando mais de 50 pessoas. Mesmo assim o grupo ocupou o espaço.
Nesta quarta-feira, alegando que havia poucas pessoas no ginásio a prefeitura fechou o espaço. Os moradores alegam que saíram para trabalhar e, quando voltaram não puderam mais entrar. Em nota a prefeitura sustenta que não houve mais interesse das pessoas em voltarem para o local e aponta que o movimento é político. “A prefeitura esclarece que, em monitoramento diário do abrigo montado no Clube Fundação, constatou que, desde segunda-feira (2/8), apenas 4 das 60 pessoas que invadiram o local em junho permaneciam abrigadas. As demais deixaram o espaço por livre e espontânea vontade, não retornando sequer para dormir. E reitera que movimento político do PSol, que incentivou a invasão em junho, novamente convocou pessoas não originárias do Edifício Di Thiene para comparecerem ao local, sem qualquer tipo de vínculo com o fato”, sustentou.
O advogado e ex-vereador Horário Ranieri Neto, é um dos que acompanha o movimento e disse que a decisão que obrigou a prefeitura a ofertar local para abrigo dos antigos moradores do Di Thiene ainda não foi reformada. “A prefeitura alega pouca gente no local porque os moradores saem para trabalhar e que a administração divulgou uma nota mentirosa. A determinação judicial se mantém e importante destacar que o Ministério Público manteve o parecer contrário à reintegração de posse. Virou uma queda de braço”, comentou. O PSol também divulgou nota
Enquanto a prefeitura não oferece outra alternativa, os moradores já estão há 24 horas no relento. Leandro Gonçalves Montijo, morador do Di Thiene por dez anos, juntamente com a esposa e a filha, disse que as pessoas sofreram para passar a madrugada fria na rua. “Estamos pedindo doações de mais cobertores e barracas. Nós não vamos sair da rua até a prefeitura permitir nossa entrada no ginásio”, contou. Segundo Montijo apenas 5 pessoas ficaram dentro do clube. “Elas podem sair, mas se saírem não deixam voltar mais, pois a prefeitura colocou a GCM direto aqui na porta”, relatou. O morador também diz que as ações para solucionar o drama dos moradores são muito demoradas. “Estão chamando a gente para um cadastramento na segunda-feira para votarem o auxílio aluguel na Câmara, mas até lá temos sexta, sábado e domingo, como vamos aguentar o frio até lá?”, indaga.
Montijo se refere a um chamamento para os ex-moradores do condomínio, que receberam auxílio-aluguel entre 2019 e 2020 para que compareçam à Câmara de segunda-feira (09/08) até 10 de setembro para fornecerem seus documentos. “Eles dizem que vão fazer um novo auxílio-aluguel, mas até aprovar vai ser outubro ou mais para a frente. As famílias não tem onde morar, tudo demora muito, estão enrolando a gente desde 2019. e até agora nem notícia de quando vão construir o conjunto”, lamenta.
O secretário executivo de Habitação do Estado, Fernando Marangoni, disse que ainda aguarda a regularização do terreno escolhido por parte da prefeitura. O terreno é público, mas parte dele pertence à Enel, e havia um entendimento para a cessão do mesmo ao município. “Estamos prontos aqui para começar, mas falta a regularização do terreno pela prefeitura”, resumiu.
Íntegra da nota da prefeitura:
A Prefeitura de São Caetano do Sul esclarece que, em monitoramento diário do abrigo montado no Clube Fundação, constatou que, desde segunda-feira (2/8), apenas 4 das 60 pessoas que invadiram o local em junho permaneciam abrigadas. As demais deixaram o espaço por livre e espontânea vontade, não retornando sequer para dormir. Diante disso, a Prefeitura acionou a Justiça requerendo a extinção do processo de reintegração de posse, por perda do objeto. Paralelamente, posicionou a GCM (Guarda Civil Municipal) na entrada para a preservação do patrimônio público.
Reforçando o compromisso humanitário da Prefeitura, na noite de quarta-feira (4/8) equipe do SOS Cidadão 156 esteve no local para encaminhar as pessoas que permaneciam em frente ao clube para o abrigo municipal, no Bairro Santa Maria. A ajuda, no entanto, foi recusada.
A Prefeitura lembra que, além do abrigo montado no Clube Fundação, com camas, colchões e cobertores, distribuiu cestas básicas aos ex-moradores do Edifício Di Thiene. E reitera que movimento político do PSOL, que incentivou a invasão em junho, novamente convocou pessoas não originárias do Edifício Di Thiene para comparecerem ao local, sem qualquer tipo de vínculo com o fato.
Íntegra da nota do PSol:
“Questão social é caso de polícia”. Mais uma vez essa é a postura da Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul sob o governo “tampão” de Tite Campanella. No dia de ontem (04/08) por volta das 11:00 a Prefeitura ordenou o fechamento do cadeado do portão do Clube Fundação com pessoas dentro do espaço e, aqueles que tiveram que sair durante o dia por algum motivo, não puderam retornar. Importante frisar que sem qualquer medida judicial.
Essa atuação desumana demonstra o perfil conservador e autoritário do governo Tite Campanella: o primeiro braço da Prefeitura a chegar é o armado. Algum alento, como a entrega de cobertores, só foi feito horas depois e após o contato dos próprios ex-moradores do Edifício Di Thiene com o serviço 156.
O governo Tite Campanella, pressionado pela opinião pública, bem como pela divulgação do caso na grande mídia, recorre mais uma vez aos métodos bolsonaristas de divulgação de mentiras. Diferente do que afirma a nota, o PSOL não “convocou pessoas não originárias do Edifício Di Thiene”, a decisão de quem faz parte da luta é única e exclusiva do movimento social.
As mentiras da prefeitura servem apenas para tentar esconder o que está evidente: a falta de vontade política de resolver o problema dessas pessoas. Nós do PSol seguiremos lutando na Câmara Municipal, nas redes e nas ruas pelo imediato pagamento do auxílio aluguel para essas famílias até a entrega das chaves de sua habitação.