Criticado pela resposta à pandemia do novo coronavírus, o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte (foto), renunciou ao cargo nesta terça-feira, 26. A saída, que já era esperada, foi confirmada pelo gabinete do presidente Sergio Mattarella, que iniciará um processo de consulta aos líderes partidários para formar um novo governo.
A renúncia Conte já havia sido anunciada por aliados após o premiê perder a maioria no Senado na segunda-feira, com a saída do partido Itália Viva da coalizão governista. A sigla do ex-premiê Matteo Renzi rompeu por considerar equivocada a abordagem de Conte à pandemia – o país registrava até ontem 2,4 milhões de casos e 85.881 mortes e foi o primeiro do Ocidente a registrar a infecção.
Após o revés na segunda-feira, Conte convocou o Conselho de Ministros para uma reunião ontem pela manhã para informar sua renúncia. O gabinete de Mattarella confirmou que recebeu o pedido de Conte e agora iniciará um processo de consulta aos líderes partidários para tentar compor um novo governo. Segundo o presidente, Conte foi convidado a permanecer no cargo até que as negociações sejam encerradas e um novo nome seja anunciado – ele mesmo pode continuar se conseguir costurar uma nova aliança política.
A renúncia do primeiro-ministro ocorre antes de uma votação de reformas no Judiciário, que estava prevista para ocorrer nesta semana. Analistas políticos sugerem que o governo estava prestes a ser derrotado na Casa.
Além disso, sem maioria no Senado, os governistas teriam dificuldade para aprovar qualquer outra matéria, mesmo mantendo o apoio do maior partido do Parlamento, o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), que garantiu que continuaria a apoiar Conte.
Futuro indefinido
Com o fim do segundo governo Conte, também chega ao final a coalizão formada em setembro de 2019, que uniu o PD (centro-esquerda) e o Movimento 5 Estrelas (antissistema). O governo durou 509 dias.
No entanto, Conte quer continuar no cargo para um terceiro mandato e espera conquistar o apoio de parlamentares independentes e do centro. A oposição de extrema direita, liderada pela Liga – segundo partido numeroso no Parlamento italiano -, tenta pressionar para que as eleições sejam convocadas o mais rápido possível, acreditando que pode ser beneficiada.
Já o partido Forza Italia, do ex-premiê Silvio Berlusconi, ofereceu apoio para a formação de um governo de unidade nacional. A sigla tem 93 deputados, sendo a terceira bancada.
Camaleão
O primeiro-ministro, um advogado sem experiência política, revelou-se um “camaleão”, capaz de governar com a direita e com a esquerda. Ele ganhou apoio logo no começo da pandemia, ao anunciar medidas para conter as infecções. No entanto, após tantos meses de sacrifícios, a classe política e a população passaram a considerar que era preciso ter mais alternativas para tirar o país das crises sanitária e econômica.
A decisão está agora nas mãos do presidente Mattarella, árbitro da situação, segundo o atual sistema parlamentar na Itália.
Um possível terceiro governo presidido por Conte, já chamado pela imprensa de “Conte ter”, teria como objetivo implementar planos-chave para reativar a terceira economia da zona do euro após a pandemia.
“Com um governo que renunciou, tudo fica mais lento e difícil”, disse o chanceler Luigi Di Maio, um dos líderes do M5E. A busca de consenso é, por enquanto, muito complicada. Ele tem o apoio do PD e do M5E, mas teria de buscar aliança com setores da direita moderada e “europeístas”.
A reforma do Judiciário também foi um fator que enfraqueceu Conte. As mudanças propostas pelo ministro da Justiça, Alfonso Bonafede, um dos líderes do M5E, incluíam a adoção de novas regras para julgamentos civis e penais e abolição da controvertida prescrição após a primeira condenação.
Mas o “advogado do povo”, como Conte é conhecido, ainda se mantém como favorito a continuar no cargo pelo fato de não haver um nome alternativo claro. A hipótese de trocá-lo por Di Maio ou pelo ministro da Cultura, Dario Franceschini, do PD, não ganhou o respaldo dentro da coalizão. Outro fator que afasta os interessados é a eleição presidencial em janeiro do ano que vem, quando certamente uma nova aliança terá de ser formada para dar sustentação ao mandatário que assumir. (Com agências internacionais).