Morre de covid-19 Raymundo Magliano Filho, ex-presidente da Bovespa

 Raymundo Magliano Filho (Foto: Divulgação)

Mesmo nos últimos anos afastado do dia a dia de mercado financeiro, Raymundo Magliano Filho não deixava, um dia sequer, de saber como estava a Bolsa. Acompanhava sempre de perto as notícias e não recusava uma conversa para contar sobre os dias em que o pregão da bolsa paulista, a Bovespa, no centro de São Paulo, estava cheio de operadores espremidos para fazerem seus negócios. Ou para mostrar uma coleção de fotos e notícias que narravam sua empreitada, a qual guardava em seu escritório, que mantinha no bairro de Higienópolis, no centro de São Paulo. Magliano filho, de 78 anos, faleceu às 6h30 desta segunda-feira, 11. Ele lutava contra a covid-19 deste novembro.

Comandante da Bovespa entre 2001 a 2008, até a fusão com a BM&F, que deu origem à BM&FBovespa, Magliano sempre foi conhecido na sua batalha para o desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil, algo que há vinte anos era muito mais desafiador dada as elevadíssimas taxas de juros que afastavam os investidores do mercado de ações. Como presidente da Bolsa, ele foi conhecido por uma ampla campanha para popularização do investimento em ações. Criou o programa “Bovespa vai até você”, que levava equipes da bolsa a diferentes cidades do País.

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Nesse programa, em 2001, a Bovespa montou uma tenda na comemoração do Dia do Trabalho, promovida pela Força Sindical em São Paulo. Na festa, mais de 30 mil pessoas passaram pela estrutura da Bolsa, tendo ali um dos seus primeiros contatos com o mercado de ações. Depois ousou mais e lançou o “Bovmóvel”, um furgão com o logotipo da Bovespa, no qual Magliano Filho visitou o litoral paulista para falar com investidores. O veículo também foi até Carajás, no Pará. Outra empreitada foi o “Mulheres em Ação”. Quando Magliano tomou posse, cerca de 75 mil pessoas físicas negociavam ações na Bolsa. Em 2008, quando deixou o cargo, esse número alcançava 536,5 mil.

Magliano Filho era formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e seu contato com o mercado começou muito cedo. Seu pai, Raymundo Magliano, fundou, em 1927, a corretora homônima, dona do título patrimonial número 1 da bolsa. A corretora, que estava sob o comando de Raymundo Magliano Neto, já na terceira geração da família, foi vendia à corretora Neon, uma fintech.

Magliano Filho também se dedicou aos estudos de filosofia e nunca escondeu sua admiração pela obra de Norberto Bobbio, Hannah Arendt e Antonio Gramsci. Há alguns anos publicou o livro “A força das ideias para um capitalismo sustentável”. “Passei a acreditar que esses conceitos, quando devidamente aplicados, podem gerar uma mudança cultural profunda, capaz de resultar na ampliação de oportunidades, inclusão social e responsabilidade socioambiental. Dessa forma, com o pensamento e a ação conjugados para enfrentar os desafios, é possível, vivenciar de fato, a força das ideias, da cooperação interpessoal e do espírito cívico”, escreveu Magliano Filho, em seu livro.

O antigo espaço do pregão da bolsa, hoje a B3, fruto da fusão entre a BM&FBovespa e a Cetip, que com o fim do pregão viva-voz passou a ser um espaço de eventos, além de marco turístico da capital paulista, teve por cerca de dez anos o nome de Magliano Filho estampado.

Agora, a homenagem está indo para o Museu B3, onde serão contadas a história do mercado de capitais no Brasil e a trajetória da Bolsa, incluindo a de Magliano Filho.

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