Não é apenas na adaptação de ruas e espaços públicos que as necessidades dos deficientes não são respeitadas, mas também na política há ausência de debate qualificado e de proposta para esse público. Para tentar mudar a situação, os próprios deficientes colocam seus nomes na disputa eleitoral. O RDTv desta sexta-feira (02/10) ouviu dois moradores de Mauá que são candidatos a vereador, são eles: Marcio Barzi (PSDB), portador de dificuldade motora por conta de dano cerebral, e Zeca Mariano (Democratas), que ficou cego aos 27 anos após um acidente de trabalho.
Ambos candidatos relatam que as limitações não os impedem de sair às ruas para fazer campanha. “Para nós é muito mais difícil porque não podemos marcar reunião todo dia, nossa campanha é diferenciada quando vai para a rua e a feira, não faço a campanha de casa em casa devido à falta de mobilidade”, explica Barzi que, para se locomover precisa da ajuda de outras pessoas. “Preciso de um só para me carregar e quem faz isso é meu sobrinho, e levo mais cinco comigo para panfletar e dar um suporte”, explica o tucano.
O democrata Zeca Mariano, tem quem o acompanhe nas atividades, porém relata que, na maioria das vezes encara a jornada sozinho, apesar de relatar que as dificuldades são enormes porque os espaços públicos não estão preparados para os deficientes. “Mesmo na pandemia a gente sai com máscara, álcool gel e usa água e sabão. Tem que levar a vida normal porque dentro de casa não dá para ficar. A gente sai para buscar aquilo que almeja, mas não é fácil porque dentro do terminal, no calçadão, no shopping, nenhum lugar tem piso táctil. Mesmo com dificuldade eu vou”, diz o deficiente visual
Mariano conta que seu objetivo em buscar o Legislativo é reforçar a luta por melhores condições de mobilidade. “Não dá para ficar parado, acho inaceitável chegar numa estação de trem e o cadeirante ter que ser carregado para embarcar. Eu mesmo peço para a esposa ir comigo, mas na maioria do tempo vou sozinho, pedindo para Deus iluminar a escuridão”.
Da mesma forma Barzi comenta a falta de acessibilidade no prédio do Legislativo de Mauá, para o qual disputa uma cadeira. “A acessibilidade na Câmara é muito precária, o elevador parece de carga e já fiquei preso nele uma vez”, comenta. Além disso na Casa não há rampa para acesso a Tribuna e o acesso aos gabinetes é por escadas. “Isso acontece porque não tem um vereador deficiente”, comenta o tucano que se espelha na senadora Mara Gabrilli (PSDB) que é tetraplégica. “Agente não tem a voz, isso é crucial. Tanto em Mauá como no ABC todo o deficiente tem que ter voz e infelizmente não tem. O deficiente em Mauá é invisível”.
Todo o esforço extra que os dois candidatos enfrentam acaba sendo valorizado pelos eleitores que encontram nas ruas. “A maioria acredita, incentiva, manda a gente para a batalha, no meio das pessoas recebemos muito incentivos”, analisa Marcio Barzi.
Os dois postulantes à vereança também enfrentam as dificuldades dentro do meio político, pois não há entre os candidatos majoritários propostas específicas para os deficientes. “Isso prejudica muito porque o debate é muito importante. Esse debate tem que ser com os políticos de Mauá”, diz Barzi. “Aqui em Mauá não tem nenhum debate com o deficiente, parece que a gente não existe, mas existimos e pagamos impostos. Acontece alguma coisa, mandam esperar e nunca tem uma resposta, por isso estamos nessa batalha pelo deficiente”, finaliza Zeca Mariano.