Aeroporto no ABC não deve ser construído, avalia ex-superintendente da Infraero

Edgar Brandão, ex-superintendente da Infraero, elenca obstáculos para construção de aeroporto / Foto: Marciel Peres

A construção de um aeroporto regional no ABC esbarra em quatro empecilhos que, dificilmente, poderão ser superados. A falta de área e de integração do transporte coletivo, além da questão ambiental e do congestionamento aéreo – devido à proximidade de Congonhas, Cumbica e Viracopos – deixam o sonho cada vez mais longe de ganhar a realidade.

Depois da proposta da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, que na posse da nova direção, por meio do presidente Walter Moura, elencou o item no tripé prioritário, o Repórter Diário repercutiu o assunto com o ex-superintendente da regional sudeste da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) Edgar Brandão Júnior que há décadas reside na região.  

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O principal obstáculo, na avaliação dele, é a área para a construção do aeroporto que demandaria um espaço do tamanho da cidade de São Caetano (mais de 10Km quadrados). “Tem que ser um local maior do que Congonhas (8Km quadrados), pois seria de médio porte para atender a demanda. Deve ter uns 4Km quadrados somando pista, parte de segurança da operação e área de escape. Devem ter duas pistas ou uma, mas com área para a segunda num futuro próximo. Neste sentido, o espaçamento entre elas deve ser de 3 Km quadrados. Multiplicando isso, chegamos a 12Km quadrados”, explica Edgar, ressaltando que os antigos aeroportos são menores em área porque a realidade era diferente.

“Se você me perguntar se é inviável, eu digo que não. Porém não deveria (ser construído)”, diz. O especialista destaca que, mesmo se o terreno fosse angariado, a iniciativa travaria uma queda de braço com o licenciamento ambiental, a exemplo do que ocorreu com a construção do trecho sul do rodoanel.

Os outros impasses também pesam contra. O ABC não possui hoje integração com o transporte coletivo paulistano. Neste prisma, o escoamento dos passageiros não encontraria logística favorável para os seus destinos. Além disso, poderia resultar no congestionamento aéreo das rotas, devido à proximidade dos aeroportos de Congonhas, Cumbica e Viracopos. 

Demanda

Com a ascensão de 29 milhões de pessoas da classe D para classe C, na composição da chamada nova classe média, a demanda de passageiros também inflou. Segundo dados oficiais da Infraero, em 2005 o número de passageiros nos aeroportos do Brasil era de 96 milhões. Já no ano passado, o montante saltou para 155 milhões e as projeções estimam 250 milhões para 2015.

Os números são alarmantes tento em vista o limite da capacidade – mesmo com as expansões – de Cumbica e Congonhas. Neste momento, a menina dos olhos que pode prolongar a sobrevida aeroportuária paulista é Viracopos. “Hoje ocupa, 8,9Km e nós deixamos desapropriação de mais 12Km e uma reserva de 9Km. Ou seja, praticamente duas São Caetano”, compara Edgar Brandão.

Passado

Segundo Edgar Brandão, na década de 70, o ABC já havia protagonizado a discussão. Na oportunidade, uma área de Campo Grande (na região de Paranapiacaba) estava entre as concorrentes para abrigar o aeroporto de Cumbica. A empreitada, no entanto, não foi exitosa.

Região deve investir no valor agregado, sugere especialista

Edgar Brandão afirma que o ABC pode se beneficiar economicamente do complexo aeroportuário, sem ter um aeroporto. A sugestão do especialista visa a instalação de um Pólo Aeronáutico.

Como uma das prioridades da Agência de Desenvolvimento do ABC e dos prefeitos é a instalação de um parque tecnológico, o mesmo, segundo Brandão, deverá estar voltado aos produtos paralelos da aviação civil.

“Nenhum empresário da região me procurou (quando estava na Infraero) para tratar de transporte de carga. É aí que a região perde muito. Nós estamos muito próximos de Congonhas e Cumbica para escoamento de carga. É possível ter na região indústrias – até do Pólo Tecnológico – que trabalhem com materiais que dependem do transporte aéreo”, diz. “A Agência pode incentivar junto com os prefeitos a instalação de indústrias como se fossem `dentro do aeroporto`, que são as áreas congregadas ou as chamadas retroáreas”, sustenta.

Além disso, Edgar cita que o “complexo aeroportuário” necessita também de uma boa rede hoteleira, atualmente “no limite”da capacidade em São Paulo. “Ao invés de pensar no produto final, vamos pensar nos produtos paralelos”, sugere tendo em vista, por exemplo, a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 que serão realizadas no Brasil.

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