
De acordo com uma ex-funcionária do Hospital Santa Ana, em São Caetano, desde o início da pandemia, quando o local passou a atender pacientes contaminados por covid-19, a unidade de saúde mantém os trabalhadores em más condições de segurança. A orientação da coordenação de enfermagem, segundo a denunciante, era usar o avental descartável e não impermeável por sete plantões de 12 horas cada. De acordo com o diretor e médico infectologista do hospital, o direcionamento foi inapropriado e o ocorrido será checado.
Após perceber que corria riscos de saúde ao atuar sem a devida proteção, a ex-colaboradora, que preferiu não ser identificada, decidiu se desligar da empresa. “A minha saúde e família vem em primeiro lugar. Eu e eles estávamos em risco de se contaminar”, desabafa. Ainda de acordo com a auxiliar de enfermagem, o local de armazenagem do EPI é inapropriado. “Ficam cerca de 40 aventais contaminados pendurados em um quarto, jogados um por cima do outro para posteriormente ser reutilizados”, conta.
Máscaras também são limitadas pela coordenadoria do setor, conforme relato da ex-funcionária, que diz que precisava utilizar apenas duas máscaras cirúrgicas por dia. “No início da pandemia, não podíamos usar máscaras no plantão diurno, diziam que era para não assustar os pacientes. Depois a orientação foi usar duas por dia”, aponta. A profissional, que pediu demissão no início deste mês, ainda afirma que ao exigir explicações do hospital, nunca obteve retorno. “Quem reclama corre risco de ser mandado embora”, conclui.
Posicionamento do diretor
Em contato telefônico com a equipe do RD, o médico infectologista e diretor no Hospital Santa Ana, Paulo Rezende, informou que a unidade segue todos os protocolos determinados pelos órgãos de saúde e pela Anvisa, apesar da dificuldade da aquisição de EPIs no início da pandemia, o que segundo o profissional, já foi normalizado. Além disso, o diretor ainda diz que o hospital triplicou os gastos com EPIs nos últimos meses. “Recebemos a vigilância sanitária recentemente e não constataram nenhuma irregularidade”, explica.
Sobre a utilização prolongada dos EPIs, Rezende conta que o protocolo é que os aventais sejam usados até um turno inteiro se não estiverem danificados ou sujos, e que o armazenamento coletivo não oferece riscos, visto que o material não é estéril. Já as máscaras cirúrgicas podem ser utilizadas até 6 horas se não houver umidade, segundo o especialista. “Dependendo do líder, pode ter ocorrido um erro de interpretação. Portanto, se houve orientação para serem usados por um tempo maior do que este, foi inapropriado. Iremos checar com a equipe o ocorrido”, conclui.
Nota de esclarecimento
Em nota, o hospital respondeu: “O Hospital Santa Ana esclarece em forma de nota oficial que desconhece a denúncia feita por uma ex-colaboradora com relação ao uso irregular de EPI. Estamos seguindo as orientações do Ministério da Saúde com relação à proteção de nosso quadro de profissionais, tanto que, atualmente, temos apenas quatro colaboradores afastados por suspeita de Covid-19. Se nossos profissionais não estivessem equipados de maneira correta, esse número seria muito maior.
Ainda afirmamos que os aventais de proteção são descartáveis, ou seja, não são reutilizáveis. Com relação à troca de máscaras durante o plantão, estamos novamente agindo dentro da lei e prezando pela saúde e segurança de nossos colaboradores, já que seguimos as orientações passadas pela Anvisa, de acordo com a Nota Técnica GVIMS/GGTES/ANVISA No 04/2020 que orienta os profissionais de saúde a utilizarem máscaras N95 ou equivalentes por um período maior que o indicado pelos fabricantes”.