Como parte de sua estratégia de testar o maior número de pessoas possível, a prefeitura de São Caetano quer iniciar esta semana a testagem dos moradores de habitações coletivas, os cortiços. Estudo da prefeitura mostra que a cidade tem pelo menos mil imóveis com mais de três habitações, se considerado o número de cinco pessoas por residência, a estimativa é de que pelo menos 15 mil pessoas sejam testadas.
A prefeitura pretende testar ao menos um terço da população, começou o teste pelos que apresentam sintomas, passou a testar algumas categorias de trabalhadores e a próxima etapa começa nesta semana entre 26 e 30/05 quando tem início a testagem dos moradores de cortiços. Para tanto a prefeitura já iniciou o processo seletivo para contratar entre 30 e 40 agentes epidemiológicos, que vão visitar essas habitações coletivas. O prefeito José Auricchio Jr (PSDB), que participou do RDtv deste domingo (24/05) detalhou como essa nova etapa de testagem vai funcionar e, para ele, o número de testados muito provavelmente vai ultrapassar a estimativa.
“O objetivo com testagem ampla é identificar os pacientes assintomáticos que sejam portadores do vírus. Esse é um grande problema; você tem um contingente populacional que está contaminado, não sabe que está, e anda na rua, indo no supermercado, tá indo trabalhar, A testagem nos dá amplitude de visão de quem são esses pacientes. A gente quer testar o máximo possível. Nossa meta é chegar a um terço da população testada, estamos falando aqui de 50 mil a 60 mil. Vamos entrar de fato nos cortiços, primeiro porque são locais com condições habitacionais graves e que impedem que seus habitantes façam o isolamento social. Pretendemos visitar entre mil e 1,5 mil habitações desse porte, atingindo de 14 mil a 15 mil moradores que serão testados”, calcula Auricchio.
Para atendimento daqueles moradores que tiverem com a Covid-19, a prefeitura de São Caetano irá isolá-los em uma ala do antigo hospital São Caetano, em ala separada daquela que já é usada como hospital de campanha. “Vamos convidá-los a vir para um centro de acolhimento e isolamento social que nós estamos montando dentro do antigo hospital São Caetano, que não tem nada a ver com o hospital de campanha, é uma unidade de hotelaria, com acomodações para que esse morador de habitação coletiva tenha onde passar os 15 dias de isolamento sem contato com seus familiares para a gente tentar quebrar a cadeia de transmissibilidade”, disse o prefeito. “Essas pessoas terão tudo; tevê, leitura, alimentação. É uma unidade de acolhimento”, completa.
Moradores de rua
Auricchio também falou sobre a abertura de um albergue municipal para o atendimento a moradores de rua. O abrigo será montado no ginásio do Clube Fundação, que já foi usado para receber os moradores de prédio que foi condenado. O espaço será provisório, mas a prefeitura já estuda fazer um abrigo permanente que será gerido por uma OS (Organização Social) que já vai manter deste já o atendimento. “Será nas instalações do ginásio do clube Fundação, onde estamos montando estrutura nova. Agradeço a Móveis Bartira que foi parceira. Vamos respeitar o direito das pessoas de ir e vir”, explicou o prefeito. Ainda não foi fechada a capacidade de atendimento
Lockdown
O prefeito José Auricchio Jr (PSDB), que também é médico, disse temer que o lockdown seja uma medida tardia, no atual cenário da covid-19. “É indiscutível a questão do lockdown, não sei se já não é tardio, depois de 60 e poucos dias de confinamento, não sei qual o grau de adesão que vamos ter. Tem fatores com a difícil aplicação pois estamos numa região metropolitana com 22 milhões de habitantes e a fiscalização disso é terrível. Temos um nível de desigualdade social, grande parte da população que não faz o isolamento, não é porque quer ir para à praia, ou não quer fazer o isolamento, não faz porque tem que sair de casa para a sobrevivência dela e da família, ganhar de dia para jantar à noite”, comenta o prefeito de São Caetano.
Apesar da taxa de letalidade da covid-19 em São Caetano ser a menor do ABC, de 3,6, há bairros com mais casos como o Santa Maria e o Santa Paula “ A cidade é muito pequena, muito conurbada, tem fácil deslocamento de um bairro para o outro. Tentamos dar um olhar geral da cidade”, destacou o tucano. “Se precisar vamos aumentar o isolamento, mas isso tem que ser feito de forma uniforme na região metropolitana. Eu manteria o isolamento, mas sem o lockdown. 50% é insuficiente, mas certamente conseguimos salvar muitas vidas, muitos deixaram de se infectar e de morrer. Como acaba a epidemia, ou tem isolamento, ou tem imunização, o que não é possível porque não tem a vacina. Isso deve se arrastar por meses, se não tiver controle. Vamos assistir por três quatro meses mil pessoas morrendo por dia. São seis aviões da ponte a aérea caindo por dia. Nos chocamos tanto com a tragédia de Brumadinho e estamos perdendo 4 a 5 Brumadinhos por dia”, calculou o prefeito.
Leitos Custeio
Segundo José Auricchio Jr.São Caetano perde R$ 100 mil por dia para manter os leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e não recebe reembolso do governo federal. “Se colocar 60 dias de crise nós estamos falando em torno de R$ 6 milhões que deixaram de ser reembolsados. Seja o que for credenciado pelo governo federal já ameniza a conta para a prefeitura. Um leito de terapia intensiva custa, numa conta rasa, R$ 5 mil por dia”. Com essa conta mais os efeitos do isolamento na economia, a prefeitura já estima uma perda de R$ 125 milhões na expectativa de arrecadação. “Estamos fazendo o máximo para que a cidade não perca em qualidade de vida, que mantenha a estabilidade fiscal que foi tão dura de se reconquistar e fazendo com que todos os serviços e obras públicas continuem funcionando. Governo federal deve repor R$ 19 milhões em quatro parcelas sendo que a primeira ainda não foi depositada. Então ainda vamos ter R$ 105 milhões de frustração”, lamenta.
Mesmo com a curva de doentes em ascensão e com a perspectiva nada animadora na economia, Auricchio disse que a cidade está mantendo uma boa atenção aos infectados. A ocupação dos leitos de UTI flutua em torno dos 70% e não há falta de respiradores. “Temos uma oferta de respiradores maior que a demanda até como forma de backup, temos ai uma reserva técnica. Temos conseguido fornecer os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) suficientes. Nosso índice de ocupação de UTI está em 70%, mas nós temos uma curva de infectados altamente preocupante”, ponderou.