Duas famílias separadas por quilômetros, uma em São Caetano viveu um drama sem precedentes com o nascimento da pequena Maria Clara, e outra em Diadema, com mãe e filho infectados pela covid-19. Mas nas duas situações uma coisa em comum, o final feliz com a superação da doença e de outros obstáculos. Nesta quarta-feira (12/05) quando se comemora o Dia do Enfermeiro, as duas famílias relataram ao RD sua gratidão a todos os profissionais da saúde, dos funcionários da limpeza, passando pelos enfermeiros até os médicos e diretores dos hospitais, que estão trabalhando incansavelmente, deixando inclusive suas famílias para dar conta dos atendimentos dos doentes do novo coronavírus e de outras enfermidades que continuam chegando aos hospitais.
O caso de São Caetano selou para sempre a ligação do casal Cleiton e Andreli Silva Ribeiro, com a médica neonatologista Daniela Gomide Cunha Moura. A pequena Maria Clara, nascia há 2 meses e seis dias, mas por ser prematura precisou ficar todo esse tempo na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Neonatal, para ganhar peso. Para nascer a pequena já enfrentou grandes desafios, precisou de transfusões de sangue intrauterinas, procedimento inédito na rede pública de São Caetano. Depois durante sua recuperação os pais descobriram estar infectados pela Covid-19, surgia aí outro desafio a ser transposto, mas na última sexta-feira, antevéspera do Dia das Mães, a família finalmente se reuniu, com a criança recebendo alta depois dos pais curados.
O primeiro desafio que Maria Clara enfrentou foi a incompatibilidade sanguínea com a mãe. Há dez anos o casal perdeu um filho no meio da gestação pelo mesmo problema. Desta vez assim que souberam da gravidez procuraram especialista no Hospital Marcia Braido, onde foram feitas duas transfusões de sangue intrauterinas. “Foram feitos exames no bebê e percebeu-se que estava com uma anemia muito forte. A hemoglobina era para estar em 15 e ela estava com 2. A equipe do Dr. Guilherme, puncionou o cordão umbilical e esse procedimento é inédito na saúde pública é algo novo para a classe médica; a gente nunca viu um procedimento desse, só em livros. Esse milagre veio para mim com um quilo e 28 semanas. Tive todos os exames, tivemos tudo e assim a gente consegue fazer o melhor para o paciente. Foram 63 dias conosco”, relatou a médica.
Daniela, com a notícia de que os pais estavam com a covid-19, passou a atuar também como meio de contato entre a menina e os pais. Usando seu celular fazia chamadas de vídeo e colocava o aparelho próximo à incubadora para a criança ouvir os pais. “Como pais o sentimento foi de desespero, sabendo que ela estava acolhida, mas não poder estar perto dela, ficamos 21 dias sem ver, foi uma situação muito angustiante. Foi muito difícil superar”, conta o pai. “Todo o dia tínhamos notícias dela, eram foto, chamadas de vídeo. Teve um dia que ela estava dormindo e quando a dra. pôs o celular e ela acordou quando ouviu nossa voz, aí choramos juntas”, disse Andreli.
A médica relata que a emoção tem sido uma constante e que apesar da tensão nos hospitais por conta da pandemia, a humanização do atendimento melhora a situação do paciente e dos profissionais também. “É agir com empatia e com amor. Ela (Maria Clara) passou 63 dias lá, ela me viu pelo menos uns 50 desses dias. Eu costumo convidar a equipe para uma reflexão e uma oração. Meu agradecimento aos profissionais de enfermagem, sem eles não somos nada. Se eu não enxergar na Maria Clara o rosto dos meus filhos não adianta nada e é assim que a gente tem que agir no dia a dia, estabelecendo vínculos”, disse a médica.
Andreli, que tem outros três filhos, passou esse ano o melhor Dia das Mães, após superar a Covid, e ter a filha nos braços. “Pensei em passar o Dia das Mães com a Maria Clara no hospital ainda, a alta foi uma surpresa, fiquei muito feliz, foi muito lindo. Queria agradecer todo mundo da UTI neonatal e também o dr. Guilherme”, concluiu.

Diadema
No outro caso que retrata a gratidão dos pacientes aos profissionais de saúde, temos o caso do técnico em TI (Tecnologia da Informação) David Gonçalves Silva e da sua mãe, a técnica em enfermagem Inês Gonçalves da Silva, que trabalha há 13 anos no Hospital Público de Diadema. Os dois ficaram doentes, não se sabe ainda quem contaminou quem, o rapaz que tem 28 anos e é diabético apresentou os sintomas primeiro, depois foi a vez dela.
Conscientes da necessidade de se prevenirem, ambos tomaram todos os cuidados, inclusive com o uso de máscara. No dia 2 de abril David sentiu o primeiro sintoma que foi a perda dos sentidos paladar e olfato, depois vieram a febre, dor de cabeça e por último falta de ar. “Fui até o hospital público a dra. Ingrid pediu raio-X e não gostou do que viu, pediu uma tomografia que fiz no Heliópolis, em São Paulo, voltei com o resultado quando ela disse que eu estava doente e a situação começara ase agravar”, relatou o rapaz.
Lá pelos dias 15 e 16, Davi começou sentir um dos sintomas mais clássicos da covid-19, a falta de ar. A dra. não me olhou com indiferença, cuidou com muita atenção do meu caso. Fiquei em casa mesmo tomando Azitromicina e Tamiflu, mas quando eu estava melhorando minha mãe caiu. Nela o sintoma foi a pressão alta. O tratamento dela foi diferente”, conta o técnico em TI. No 14° dia os dois tiveram sintomas iguais, ambos tiveram cólica renal. “Em cada um a doença é diferente”, comenta.
Mãe e filho estão em recuperação os dois moram com a filha de David, de 8 anos, que não apresentou nenhum sintoma. O rapaz agora procura fazer do seu caso um exemplo. “Muita gente não acredita no risco porque não viu a cara da doença, não conheceu ninguém que se contaminou. Eu digo para todo mundo que a situação é grave, falo para olharem no meu rosto e digo que esse é um rosto de quem passou pela doença. Ela tem cara e você não vai querer sentir o que eu senti. A sensação de voltar a respirar normalmente é muito boa”, disse o jovem que faz questão de destacar o papel dos profissionais de saúde no enfrentamento da covid-19.