Agências de viagens, aeroportos e companhias aéreas sofrem um duro golpe por conta da redução do movimento causada pela pandemia do coronavírus. O medo do contágio fez praticamente zerar as viagens para Ásia e países da Europa, principalmente a Itália.
A consultora de viagens Priscila Reis, da agência de viagens Interpolo, de Santo André, diz que está difícil vender pacotes para o Exterior. “O mercado está parado por conta do coronavírus e da alta do dólar, este último já influencia muito o setor”, afirma ao contar que o principal motivo é medo da doença. “Os passageiros têm segurado bastante as compras de viagem para o Exterior”, completa.
As opções são os pontos turísticos no Brasil. “Os destinos nacionais mantiveram a demanda, viajar pelo Brasil ainda tem procura”, comenta Priscila. Entre os destinos no Exterior, os Estados Unidos ainda são destino com procura. “Não está causando muito cancelamento e ainda tem procura”, disse.
A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) informa, em nota, que ainda não tem levantamento sobre o número de viagens que não foram realizadas após os adventos do coronavírus e a alta do dólar. Os dados mais recentes são de antes da proliferação da doença e das alterações de câmbio. “No momento, o foco da entidade e de suas associadas é na implementação das medidas de prevenção e gerenciamento de risco relativas ao coronavírus (Covid-19). Nesse sentido, a associação avalia que ainda é cedo para analisar os impactos no setor aéreo brasileiro.
Em relação à variação do fluxo de passageiros em viagens aéreas, a Abear informa que os dados mais recentes disponíveis se referem a janeiro, não sendo possível associar os resultados ao coronavírus. Na comparação com 2019, a demanda por viagens internacionais operadas por companhias aéreas brasileiras caiu 10,24% em janeiro, quando foram transportados 852 mil passageiros em voos internacionais”.
Negócios
No turismo de negócios os prejuízos podem ser incalculáveis. Para Adalberto Vial, diretor da Originale Turismo, especializada em atendimento corporativo e eventos, o maior volume de trabalho em sua agência neste mês se concentra na realização de cancelamentos. Somente neste mês foram canceladas cinco missões empresariais aos EUA e Canadá, com aproximadamente 40 pessoas cada viagem. “As empresas têm soltado notas em que proíbem os funcionários de viajar. Acredito que, se depender do panorama mundial, não devem liberar as viagens antes de abril”, afirma.
Mesmo quem precisa fazer viagens dentro do Brasil tem evitado aeroportos. “Atendemos clientes do agronegócio que optaram por viajar de carro para o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Outros cancelaram eventos e recorreram a videoconferências”, diz.
Para Vial, as agências que atuam com lazer vão sofrer mais. “Quem não tiver reservas vai quebrar” acredita. O executivo atua há 34 anos no ramo e comenta que nunca viu uma crise como essa. “Tivemos a Sars (síndrome respiratória aguda severa), mas não foi tão séria como essa do coronavírus”, relata.
Procon orienta bom senso da empresa no cancelamento
Os cancelamentos de viagens, principalmente por medo do coronavírus, têm gerado muita discussão entre clientes e agências, companhias aéreas e hotéis. A cobrança por cancelamento da viagem ou remarcação, prevista em contrato, é motivo de discórdia, uma vez que o consumidor desiste da viagem para evitar o risco de se contaminar. O diretor executivo do Procon de São Paulo, Fernando Capez, diz que o bom senso deve ser a regra nesta relação de consumo.
O Procon-SP recomenda que as empresas aéreas não fiquem passivas no aguardo de serem provocadas pelos órgãos de defesa do consumidor. “Elas devem tomar iniciativa, aumentar os serviços de atendimento ao consumidor e discutir caso a caso a melhor solução. As empresas não têm culpa, mas o consumidor também não tem culpa e ele é a parte vulnerável na relação de consumo. Por isso, o Procon-SP tem orientado as empresas a não resistirem juridicamente, mas com bom senso chegarem a um acordo com os consumidores”, diz Capez.
E isso tem acontecido na prática, segundo relata a consultora Priscila Reis, da Interpolo. “Depende muito da situação. Algumas empresas aéreas esperam até bem próximo do embarque para isentar as multas, e a hospedagem tem funcionado da mesma forma”, comenta.
A empresa aérea Latam informa que tem flexibilizado suas regras e, muitas vezes, devolve o dinheiro de forma integral ou possibilita remarcação sem taxa. “Desde 2 de março, todos os clientes com voos para a Itália, programados até 30 de abril de 2020, poderão remarcar a data ou o destino do voo (sem multa, mas sujeito à diferença tarifária). Os clientes com passagens aéreas adquiridas para Israel em voos programados até 1º de abril de 2020 podem remarcar a data ou o destino do voo (sem multa, mas sujeito à diferença tarifária)”, informa a companhia. Nos dois casos, a viagem deve ser feita até 31 de dezembro de 2020.
No dia 6 de março a Latam também flexibilizou regras para todos os demais voos internacionais. Clientes que realizam novas reservas entre 6 e 22 de março podem remarcar a data e/ou destino do voo (sem multa, mas sujeito à diferença tarifária) para viajar até o fim do ano. A alteração deve ser feita até 14 dias antes da partida do voo original. Em fevereiro, o número de passageiros transportados pela Latam em voos internacionais caiu 8,1% se comparado com o mesmo mês de 2019.
A CVC não confirmou o cancelamento de voos e sustenta que 70% dos pacotes de viagens são para destinos no Brasil. “No momento, as restrições para a realização de viagens ocorrem por parte de autoridades internacionais da Itália e Israel, e a CVC tem acompanhado as orientações oficiais dos órgãos governamentais brasileiros e internacionais. Nos casos de Itália e Israel, com restrições de viagens, a CVC oferece a possibilidade de alterar itinerário ou data da viagem, conforme preferência do cliente. Nas demais regiões que não existem restrições, as programações seguem normalmente”.