
Em março completam-se dois anos da entrega, pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB), das obras da unidade de Diadema da Rede de Reabilitação Lucy Montoro. O serviço, no entanto, não funciona até hoje. Entrada, recepção, salas, tudo está pronto, mas sem nenhum móvel ou profissional trabalhando. Somente agora o governo assinala com a possibilidade de abrir as portas da unidade, o que está previsto para abril. A OSS (Organização Social de Saúde) que vai administrar o serviço será a Fundação do ABC, vencedora da licitação.
O município fez a adequação necessária no prédio do Quarteirão da Saúde. Está destinado à rede Lucy Montoro um espaço de 2 mil metros quadrados, onde foram gastas verbas estaduais e municipais. Na data da entrega, no dia 27 de março de 2018, o governador que logo se licenciaria do cargo informou que ainda naquele ano seria aberta a licitação para a escolha da OSS, o que somente aconteceu este ano.
Se estivesse funcionando, a unidade de reabilitação já poderia estar atendendo aproximadamente 250 pessoas por dia, não apenas de moradores de Diadema, já que o serviço é estadual. Casos como o do aposentado José Nonato, de 64 anos de idade, 46 deles vividos na cidade, seria um deles. Sem convênio médico, ele usa o serviço público de saúde. O morador era cobrador de ônibus até descobrir que estava diabético e ter que amputar parte da perna esquerda; hoje usa prótese e necessita de fisioterapia. “O povo comenta desse centro aí, o próprio prefeito já falou, mas até agora nada. Preciso (de fisioterapia) na mão, porque coloquei um acesso por causa da hemodiálise, aí deu um problema que eu não consigo mexer direito, não tenho força, nem escrever mais. Preciso de encaminhamento e o mais próximo para mim seria aqui”, lamenta.

A secretaria de Saúde do governo do Estado não explicou os motivos do atraso de dois anos para colocar em funcionamento o serviço. Em nota, a pasta informa que a FUABC está contratando pessoal para que a rede inicie as atividades em abril. “A Secretaria de Estado da Saúde informa a unidade Rede Lucy Montoro de Diadema está pronta e a Organização Social de Saúde (OSS) Fundação do ABC foi contratada para gerir a unidade. No momento, a OSS está recrutando profissionais para ativação da unidade até abril. A unidade ofertará atendimento nas áreas de reabilitação física e visual e contemplará toda região do ABC. A previsão é de que, até o fim do ano, o equipamento faça mais de 28 mil atendimentos médicos e não médicos, além de oficinas terapêuticas, tecnologias assistivas e atividades educativas”.
A prefeitura de Diadema informou as chaves do espaço já foram entregues para a secretaria estadual de saúde. “O município tem cobrado constantemente o Governo do Estado, bem como a atuação do deputado estadual eleito pelo município Márcio da Farmácia (Podemos) para que a unidade da Rede de Reabilitação Lucy Montoro, prometida para Diadema em 2013, entre em funcionamento. Recentemente, após a conclusão do processo de contratação da Organização Social responsável pela gestão da unidade, o município procedeu a entrega das chaves ao Governo do Estado. De acordo com as informações provenientes do Governo do Estado, a unidade deve iniciar suas atividades em abril, o que espera-se com ansiedade já que, desde seu anúncio, milhares de pessoas aguardam para que possam ser atendidas em equipamento especializado único na região”, informou a assessoria de imprensa da administração municipal.
Sequência de atrasos marcou a obra

O início do funcionamento da Rede Lucy Montoro encerra uma novela iniciada em 2013, quando o Estado anunciou a unidade. A prefeitura, com verba do Estado, deu início às reformas para atender as exigências da Rede Lucy Montoro. Em 20 de fevereiro de 2014 foi assinado o convênio entre Estado e prefeitura para implantação do serviço. O município cederia o espaço e o governo do Estado repassaria cerca de R$ 6 milhões para a cidade promover as adequações. A previsão era para o serviço iniciar a operação em 2016, mas a obra atrasou e a prefeitura rescindiu o contrato com a construtora Eplan após sucessivos atrasos. Os vereadores chegaram a ensaiar a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os atrasos. Em dezembro de 2016 entrou na obra a CEP Construções e Projetos, que também atrasou e teve o contrato aditado por mais quatro meses.
Em março de 2018 a obra finalmente estava quase pronta, quando o governador Geraldo Alckmin fez a entrega à distância. Em um de seus últimos atos antes de se afastar do governo, o tucano inaugurou a Fábrica de Cultura de Diadema e entregou o espaço da Rede Lucy Montoro, distante 400 metros, mas não foi até lá ver como estava. A obra seria encerrada naquele semestre, mas desde então virou um verdadeiro hospital fantasma.