A emergência internacional declarada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) sobre o coronavírus, que já matou 632 pessoas na China, até quinta-feira (6), epicentro da doença, tem causado pânico na população, que evita circulação em locais com grande concentração. Os especialistas, no entanto, recomendam apenas uma higienização mais frequente das mãos e dizem que não há qualquer perigo. O pânico é disseminado, principalmente, por notícias falsas em redes sociais, que têm motivado até manifestações preconceituosas contra chineses.
Dados oficiais dão conta de que não há nenhum caso confirmado da doença no Brasil, apenas casos suspeitos. No Estado de São Paulo, quarta-feira (5), quatro casos investigados foram descartados e seis casos suspeitos estão ainda sob análise. Nenhum na região.
Segundo Adriana de Brito, gestora do curso de Biomedicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), trata-se de um vírus respiratório que apareceu por meio de mutação e já existem outras mutações, como o vírus causador da Sars (Síndrome Respiratória Aguda), de 2003, e o vírus que causou a síndrome respiratória no Oriente Médio. O coronavírus causa uma doença respiratória, que afeta, principalmente, o pulmão, provoca febre, coriza, dores no corpo e mal-estar, muito semelhante a gripe. “A taxa de letalidade é menor do que a Sars, mas se disseminou muito rápido”, diz Adriana.
Não há vacina contra o coronavírus e o tratamento é para os sintomas, como na gripe. A capacidade de matar, é baixa, entre 3% e 7%. “Para a China, essa é uma taxa muito alta, porque a população é muito grande”, explica a biomédica, ao informar que os sintomas podem levar de três a 14 dias para se manifestar. “Nesse período, a pessoa pode transmitir e disseminar”, alerta.
A dona de casa, Rosangela Fernandes, moradora de Rio Grande da Serra, é uma que está preocupada com o coronavírus e relata estar com medo até de deixar os dois filhos irem para a escola. “Meus filhos terão contato com outras crianças em um aglomerado e podem contrair o vírus” explica. A mãe avalia que reuniões públicas, como no Carnaval, deveriam ser evitadas. “É um absurdo ter o evento este ano por conta de ser a época em que mais pessoas têm contato físico e indivíduos de diversos países visitam o Brasil, o que aumentam as chances de o vírus chegar até nós”, argumenta.
Para a biomédica, não há motivo para pânico. “Não é caso de desespero ou de achar que não pode participar de uma festa de Carnaval por conta do coronavírus. Claro que onde há uma aglomeração a tendência é maior de pegar qualquer doença. Lavar as mãos e usar álcool gel minimizam o risco”. (Colaborou Nathalie Oliveira)
Chineses são alvo de xenofobia com fake news
O Ibrachina (Instituto Sociocultural Brasil-China) recebeu manifestações xenofóbicas em suas redes sociais com ofensas aos chineses, como “que raça horrível”, “cultura do inferno” e “povo maldito que deve ser extinto”. A entidade denunciou o problema e criou um canal de denúncias (contato@ibrachina.com.br), além do Observatório do Coronavírus, atualizado diariamente com os números da doença na China.
“Isso é ruim; o que será que querem dizer, que é para exterminar todo mundo que tiver olho puxado? Isso tem atingido uma comunidade que está há muito tempo no Brasil”, diz o presidente do Ibrachina, Thomas Law, brasileiro filho de chineses. Para Law, a disseminação do ódio começou com imagens de pratos preparados com morcegos. “Essas imagens são antigas e são da Indonésia”, afirma ao apontar caso de uma jovem hostilizada no Metrô carioca.