O preço dos combustíveis tem assustado consumidores, comerciantes e profissionais que dependem de veículo para trabalhar ou se locomover. Segundo levantamento da ANP (Agência Nacional de Petróleo), somente na semana de 8 a 14 de dezembro o aumento nos postos paulistas foi de 1,06% na gasolina e de 1,91% no etanol. Em 30 dias, os dois combustíveis já subiram 3,43% e 5,93%, respectivamente. Com isso, na média o litro do etanol já custa R$ 3 e a gasolina R$ 4,30 na bomba.
Para o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócioeconômicos), todos os produtos, mas sobretudo os alimentos, são impactados com o reajuste dos combustíveis. A cesta básica pesquisada pela Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) mostra uma alta de 8,26% somente entre a primeira semana de novembro e os primeiros sete dias de dezembro. O engenheiro agrônomo da companhia, Fábio Vezza Benedetto, avalia que o preço dos combustíveis impacta nos preços dos gêneros alimentícios, mas esse efeito só será visto a médio prazo. “No setor de hortifruti já é possível ver uma alta que acompanhou os aumentos nos postos”, analisa.
Na região há postos que vendem o etanol alguns centavos abaixo dos R$ 3 como forma de atrair o cliente, mas há também os que passem dos R$ 3,10 o litro. Já quando a opção é pela gasolina aditivada, o consumidor pode esperar pagar R$ 5 ou mais pelo litro do produto.
O presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do ABDCMRR), Wagner de Souza, admite que os preços estão muito altos. “Isso traz preocupação, por mais que o momento seja favorável – com mais dinheiro em circulação – o combustível está muito caro, com isso o consumidor vai abastecer menos. Quem precisa do carro para trabalhar vai por o necessário e vai cortar o uso para o lazer, por exemplo”, comenta.
Souza diz que os postos não têm mais de onde tirar da margem de lucro, que já é pequena. “Os custos aumentam numa progressão geométrica e os ganhos em progressão aritmética. O custo aumenta para todos, não só para o consumidor, para as empresas, e isso vai para o produto”, analisa.
Mais um aumento que a gente vê com muita tristeza. Este é o comentário de Leandro da Cruz Medeiros, presidente do Stattesp (Sindicato dos Trabalhadores com Aplicativos de Transportes Terrestres Intermunicipal do Estado de São Paulo). “Já pagamos muito para as plataformas e o trabalhador já paga muito. Esse aumento não é repassado para os clientes, porque não existe tabela atualizada conforme o aumento dos combustíveis”, lamenta o sindicalista. De acordo com o Stattesp, somente no ABC são cerca de 10 mil pessoas que trabalham como motoristas de aplicativo, 10% são mulheres.
Para a economista do Dieese, Patrícia Costa, os aumentos seguidos dos combustíveis estrangulam ainda mais o já deficiente orçamento das famílias, uma vez que o preço do combustível não afeta somente quem tem carro, mas toda a logística dos produtos, principalmente, itens de primeira necessidade, como os alimentos. Patrícia diz que são custos que fazem parte do preço dos alimentos, um combustível mais caro cria uma onda de aumentos para outros produtos. “Essa política de preços sem subsídio joga a conta para o consumidor. No caso da carne, que está cara, o consumidor migra para outro produto, mas o combustível não tem opção. São criados problemas mais sérios com o estrangulamento da renda das famílias”, avalia.