
Em tempos difíceis, a arte serve como bálsamo para acalmar feridas e trazer esperança aos corações. É com esta proposta de encontro afetivo por meio do teatro que o Sesc São Caetano recebe a mostra Afeto, composta de três espetáculos, com forte carga emocional, ternura e sensibilidade. As montagens são apresentadas em três sextas-feiras de novembro, dias 8, 22 e 29, sempre às 20h, de forma gratuita, com retirada do ingresso uma hora antes na unidade.
De acordo com Adriana Rachman, técnica de programação do Sesc e idealizadora da mostra, o desejo de falar sobre sentimentos deu origem à programação proposta, que tem como objetivo tocar o coração dos espectadores e gerar uma sensação positiva, ainda que questionadora, sobre as relações estabelecidas no cotidiano. “Nós estamos vivendo tempos muito duros política e socialmente e acreditamos que a fruição da arte pode ser um veículo para gerar reflexões mais maduras e humanizantes nos nossos relacionamentos”, diz.
Nesta sexta-feira (8) é a vez da peça Ledores no Breu, da Cia. do Tijolo, subir ao palco e propor reflexão sobre os múltiplos analfabetismos encontrados na sociedade brasileira. Para Dinho Lima Flor, um dos fundadores da companhia, ator e dramaturgo da peça, falar desse assunto no país de Paulo Freire, um dos maiores educadores do mundo, é essencial. “Como podemos ter uma figura como essa e, ainda assim, em 2019 termos essa chaga social?”, questiona o artista.
Apesar do analfabetismo escolar ser o principal, o ator reforça que não é o único tipo e que é necessário estar atento a todos os demais – como o político e o social -, para que se construa uma sociedade inclusiva e empática. “Quando nós nos alfabetizamos, seja na área que for, passamos a entender o mundo. Acima de tudo, precisamos nos alfabetizar para o afeto, para o amor”, afirma. É a primeira vez que Ledores no Breu é encenada de forma aberta ao público no ABC. A classificação indicativa para o espetáculo é livre.
No dia 22 é a vez do solo Diana, que traz Celso Frateschi na saga de um professor desiludido e cansado das pessoas. A partir do afastamento do outro, gerado por múltiplas decepções, o professor se apaixona pela escultura Saindo do Banho, de Victor Brecheret, a quem batiza de Diana e passa a conviver amorosamente. De acordo com o ator, a peça gera bastante comoção no público, que se identifica com a busca do protagonista por entender o que acontece. “É um espetáculo com carga poética e filosófica muito grande, com reflexões que emocionam”, afirma.
Apesar de ser monólogo e não ter momentos de interação, o artista afirma que a identificação do público com os dilemas é inevitável, principalmente, pela semelhança entre o apresentado no palco e o enfrentado na vida real. “Fala sobre uma pessoa que foi isolada, sobre situações que todos nós já vivemos e sobre aprender a lidar com esse afastamento dos outros e de nós mesmos”, declara Frateschi.
A finalização da mostra é com a peça Stonewall 50 – Uma Celebração Teatral, da Companhia de Teatro Íntimo, no dia 29. No palco, o ator Thiago Mendonça faz uma ode aos 50 anos da rebelião de Stonewall, nos Estados Unidos, que marcou a luta pelos direitos da comunidade LGBT+. A estreia da peça, em junho deste ano, não previa longas temporadas, mas a vivência no palco fez com que o ator percebesse a importância de falar sobre o tema em lugares e para públicos diversos. “É uma questão de honrar as pessoas que lutaram antes de mim para que, hoje, eu tenha oportunidade e voz para contar essa história”, afirma.
Com mistura de documentário, música e performance, a peça quer despertar a discussão sobre a sexualidade e a importância do respeito e da liberdade de ser quem se quiser ser. “A gente está em 2019 e algumas coisas não são tão diferentes assim. O Brasil é o país que mais mata a população LGBT no mundo e é importante falar sobre isso”, afirma. A peça não é recomendada para menores de 14 anos.