O diagnóstico de mal de Alzheimer é capaz de modificar não somente a vida de quem tem a doença, mas de toda a família. De uma hora para outra, os esquecimentos constantes deixam de ser um incômodo e passam a representar preocupações, que vêm acompanhadas de inúmeros questionamentos sobre como lidar com a nova situação e oferecer qualidade de vida para o enfermo. Dilemas assim ganham o palco do Teatro Municipal de Santo André com a peça Mamãe está com Alzheimer, que chega à cidade para única apresentação neste sábado (5).
O enredo é baseado em histórias reais, vivenciadas pelo paulista de Santos, Luiz Thomas, ator e diretor da peça, que se inspirou em situações cotidianas vividas com a mãe, vítima da doença entre 2003 e 2007. Na peça, três filhos entram em disputa ao receberem diagnóstico positivo da doença na mãe, Lígia. Entre os embates estão escolha do tipo de tratamento mais adequado, decisão de internar ou não a mãe em uma clínica e preocupações com a herança.
De acordo com o diretor, colocar em cena tantas dificuldades sentidas na pele não foi tarefa fácil mas, ainda assim, o momento trouxe aprendizado. “Tive de encarar diversas dificuldades, mas cada obstáculo era uma superação”, afirma o artista. Além disso, um dos percalços durante a produção do espetáculo foi manter a distância necessária do tema para que pudesse interpretar a personagem e manter a verdade em cena, apesar da emoção e das lembranças envolvidas.
Por ser tema delicado, o artista conta que é impossível não perceber a emoção do público no desenrolar das cenas. “Nós estamos no palco e conseguimos ouvir as pessoas suspirando. Muitos nos procuram, ao final do espetáculo, emocionados. A comoção é bem forte”, declara.
Por conta da recepção, após um ano e meio em cartaz, a peça teve algumas mudanças no enfoque. O que no começo era uma maneira de exorcizar a dor com a perda da mãe para a doença e o afastamento da família se tornou reflexão sobre cuidado e carinho com quem enfrenta esse momento. “Essa identificação virou nosso foco e isso é muito bonito”, declara Thomas.
Além da arte, Mamãe está com Alzheimer provoca no público um momento de autocrítica sobre a forma com a qual os idosos – não somente os que sofrem da doença – são tratados e considerados no dia-a-dia. O diretor garante que não quer apontar dedos para ninguém e muito menos julgar quem, por conta de dificuldades particulares, interna os entes em clínicas com cuidados especializados, mas mostrar que há outro lado e despertar empatia por essa parcela da população que, muitas vezes, é deixada de lado. “Se você puder cuidar, cuide. Não é só porque a pessoa não te reconhece que você deve abandonar. Ela está ali, você a reconhece e isso é primordial”, acrescenta.
Os ingressos custam a partir de R$ 20 e podem ser comprados no site da Bilheteria Express. Nos dias 4 e 5 de outubro também é possível obter as entradas na própria bilheteria do teatro. O espetáculo começa às 20h30, com classificação indicativa para 10 anos.