
O episódio ocorrido nesta quinta-feira (11) em que uma motorista de van escolar teve de decidir entre a sua vida e a de um homem que anunciava um assalto sob ameaça de arma de fogo é o retrato do estado em que nos vemos no dia a dia. Com vidros dos carros fechados, olhos abertos a todo o momento e, mesmo assim, num minuto de distração, a abordagem de marginais que, com sorte, levam apenas bens materiais. O que choca cada vez mais é que, mesmo que entregue tudo ao bandido, por vezes a vítima é subjugada, agredida e até morta.
Esse foi o caso da motorista. A mulher não sabia se a arma que lhe foi apontada era real. Não sabia se, mesmo com a entrega do carro, dinheiro e outros pertences, o homem não lhe mataria. A motorista já tinha sido assaltada havia pouco tempo e a sensação de terror e o instinto de sobrevivência falou mais alto.
Em Santo André, onde o episódio aconteceu, o número de roubos nunca esteve tão alto quando nos últimos cinco anos. Em 2014, o índice de roubos na cidade chegou à marca de 1.260,19 casos por 100 mil habitantes, o maior número desde que a Secretaria de Segurança Pública começou a divulgar o índice, em 1999. Desde então, o número não caiu. Foram 1.258,89 casos em 2015; 1.314,51 em 2016; 1.264,48 em 2017; e no ano passado fechou com sensível redução de 1.075,38. A cada novo caso a violência demonstrada é maior, as consequências mais graves.
A cada caso de latrocínio – roubo seguido de morte – que acontece a população se fortalece para reagir. Há oito meses uma jovem foi morta na rua Paulo Emílio Salles Gomes, no Sítio dos Vianas, em Santo André, após entregar o celular aos bandidos. Em novembro um cabo da Polícia Militar foi morto na Estrada Guaraciaba, quando bandidos tentaram levar sua moto.
Reagir no entanto necessita de preparo. No livro Não seja mais uma vítima, os autores Ricardo Nakayama e José Roberto Abrahão explicam como reagir e todo o preparo necessário para isso, físico e mental, mas o fato é que heróis geralmente morrem. Quando a vítima é pega de surpresa a chance de êxito nas reações é de menos de 10%. Ou seja, não reagir é estatisticamente mais correto. O difícil é controlar as emoções e a raiva, seguidas de sentimento de insegurança e incapacidade diante do bandido.