Até o final de junho o governo do Estado definirá o destino da linha 18-Bronze (Tamanduateí-Djalma Dutra). Fontes no Palácio dos Bandeirantes falam numa possível mudança de modal, do projetado monotrilho para o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) ou o BRT (Bus Rapid Transit). O RD conversou com especialistas em mobilidade urbana, que explicaram as diferenças dos três modais e alertaram para a necessidade de um plano de integração na região.
Antes de uma possível mudança no apelidado ‘metrô do ABC’, professores dizem que questões técnicas devem ser levadas em conta antes de realizar qualquer alteração na proposta assinada em 2014, principalmente se levados em conta os outros modais já em operação na região, como ônibus, trólebus e trens.
“Porque Paris e outras cidades pelo mundo conseguem resolver essa questão da mobilidade. É dinheiro? Também é, mas também é questão técnica. Temos de aprimorar os nossos técnicos para que as decisões sejam mais carinhosas”, diz Ênio Moro Júnior, arquiteto e gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul).
Para o professor Cauê Sauter Guazzeli, do curso de Engenharia Civil do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), pensar numa integração do transporte em toda a região é fundamental, principalmente por causa da demanda de usuários já existente. “Há trens, então tem uma integração com a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) para chegar a São Paulo, por exemplo, mas existe uma sobrecarga nos modais existentes na região”, afirma.
Cultura do automóvel
O professor do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI e mestre em Transportes, Creso Franco Peixoto vai além. Indica que a questão da mobilidade também passa pela cultura do automóvel existente no Brasil. “A população ainda está aculturada com o carro, ainda não entendeu que é uma cultura velha. Exemplo disso é em Bogotá (Colômbia), com a inauguração do BRT. Muitos elogios no início, mas tempo depois reclamavam, pois tirava uma via para os carros. Temos de melhorar também neste aspecto”, diz.
A falta de integração na mobilidade urbana das sete cidades do ABC também foi alvo dos comentários dos integrantes da delegação de Turim (Itália) que visitaram a região em 2018. Ao conhecer o funcionamento do transporte público, chamaram atenção para a falta de melhor infraestrutura e também sobre a questão tarifária, pois não há sistema unificado para o pagamento de passagens e o acesso aos vários modais disponíveis, o que foi compreendido à época como um dos motivos para que a população não trocasse os carros pelo ônibus, trólebus e trens.
Apesar de o debate ter ultrapassado uma década, a única integração até o momento abordada por aqueles que idealizaram a linha 18-Bronze foi com a Capital, no caso, com a estação Tamanduateí, já integrada com o Metrô (Linha 2-Verde) e com o trem (Linha 10-Turquesa), além das linhas de ônibus da Capital.
Melhor modal divide especialistas
Capacidade, custos e situações diferentes. Questionados pelo RD, especialistas em mobilidade urbana apontaram os detalhes de cada modal avaliado pelo governo do Estado para o projeto da linha 18-Bronze e divergiram sobre o plano ideal para a inclusão de uma nova via de transporte que ligue o ABC com a Capital.
Segundo Ênio Moro Júnior, arquiteto e gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), uma composição de um monotrilho, atual proposta para a linha, é de 600 pessoas em média. Os dados do projeto apontam para que mais de 300 mil pessoas sejam levadas diariamente por este modal.
Apesar da alta capacidade, Moro considera que haveria necessidade na região de modelo de transporte intermediário para fazer com que tal monotrilho realmente funcionasse com qualidade. “Nós vamos passar do ônibus comum, que cabe 80 pessoas, para um modal de alta capacidade. É um pulo muito grande. Seria bom que tivesse um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) que completasse essa situação, mas em caso mesmo de troca vejo como uma boa escolha o VLT”, diz.
No Estado de São Paulo, o VLT já é usado na Baixada Santista. A capacidade média é de 280 pessoas por composição e, diferente do monotrilho, passa pela via terrestre. O modelo de transporte também foi usado no Rio de Janeiro para aumentar a capacidade de deslocamentos de torcedores e turistas que acompanharam os Jogos Olímpicos, em 2016.
O professor Cauê Sauter Guazzeli, do curso de Engenharia Civil do Instituto Mauá, defende a manutenção da proposta inicial do monotrilho. “É um sistema de alta capacidade de transporte de pessoas, mas também muito mais caro que os demais e tem o custo de toda a estrutura elevada, mas tem um impacto maior”, afirma.
O professor do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário FEI e mestre em Transportes, Creso Peixoto, explica que uma linha de Metrô custa em média US$ 100 milhões. Do VLT chega a US$ 50 milhões e de um BRT (Bus Rapid Transit) é de US$ 5 milhões.
“Muitos alegam que existe um problema do BRT no fato de ocupar vias, mas a questão neste caso é o aculturamento em relação ao carro. Outros falam sobre a velocidade que seria baixa, mas se o projeto for bem feito pode ter certeza que a velocidade média seria muito rápida e facilitaria muito”, explica.