Nesta terça-feira (19/03) – 94 dias após o anúncio de fechamento das fábricas de São José dos Campos e de São Caetano pela matriz americana da General Motors, em 14 de dezembro – foram anunciados dois pacotes de benefícios para a montadora, que decidiu ficar no país e ainda anunciou o investimento de R$ 10 bilhões no período de oito anos e também contratações de 400 trabalhadores diretos que podem significar outros 800, contratados indiretamente. Foram dois anúncios oficiais, o InvestAuto, lançado pelo governador João Doria (PSDB) pela manhã, e à tarde o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB) anunciou o ProAuto, um pacote de isenções que impostos que vai significar uma renúncia de R$ 100 milhões em oito anos.
O prefeito, no entanto, prefere usar a expressão “investimento” no lugar de renúncia de receita. “Estamos investindo de forma antecipada, num período de 8 a 10 anos. Vamos deixar de recolher uma parte do ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza) – que passa de 5% para 2% – e a planta passa a ter isenção de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), mas vamos ganhar em produtividade numa escala de 10 para 1, ou seja, vamos abrir mão entre R$ 12 milhões e R$ 15 milhões por ano, em oito vamos deixar de recolher R$ 100 milhões, mas vamos ter um acréscimo de R$ 1,1 bilhão com o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços)”, disse o Auricchio após o anúncio do pacote municipal. O tucano assinou os dois projetos de lei que integram o pacote ao presidente da Câmara, Pio Mielo (MDB), que determinou o trâmite em regime de urgência. Os dois projetos que fazem parte do ProAuto devem ser votados na próxima terça-feira (26/03).
Mais cedo, no Palácio dos Bandeirantes, o governador João Doria anunciou, ao lado de secretários e do presidente da GM para o Mercosul, Carlos Zarlenga, o pacote de incentivos denominado InvestAuto. O pacote prevê redução escalonada de até 25% do ICMS para as empresas sediadas no estado. “Quinze mil empregos estão mantidos com essa iniciativa Agradeço ao Cidão (Aparecido Inácio da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul), muito obrigado, você ajudou muito. Obrigado por terem compreendido e ajudado a conquistar o que hoje estamos anunciando. Os dois prefeitos, de São José dos Campos e São Caetano, poderiam perder 15 mil empregos, pois em dezembro o cenário era desolador. Não foi uma solução fácil”, disse Doria.
O governador destacou os R$ 10 bi em investimentos nas duas fábricas e os empregos gerados. “São investimentos nas duas fábricas que vão implicar em 400 novos empregos diretos e 800 indiretos, além da preservação dos 15 mil diretos e 50 mil indiretos de toda a cadeia. Vamos defender os empregos, sem guerra fiscal. O InvestAuto, é a construção de uma proposta para empresas que já estão em São Paulo e que,i na geração de novos empregos, passarão a ter benefícios advindos disso. Isso, até 2024 vai dar um salto de tecnologia”, destacou Doria que considerou a mobilização, que envolveu os governos estadual e municipal, a montadora, os sindicatos, fornecedores e concessionários da marca, um “momento histórico”. “Foi uma reversão completa de uma notícia trágica de perda de 65 mil postos de trabalho, estamos preservado e gerando mais 1200 postos. Fizemos no entendimento construindo uma boa parceria”, concluiu.
ANGÚSTIA
Zarlenga destacou a mobilização dizendo que inicialmente não acreditava que reverteria a situação. “Hoje é um dia que eu pensei que não ia chegar, mas chegou… Primeiro quero agradecer aos funcionários, o ativo mais importante que nós temos no Brasil, sem eles nós não seríamos o número um como somos hoje porque eles mostraram rapidamente o apoio e trabalharam juntos para organizar a nossa empresa, os nossos fornecedores fizeram um esforço enorme; fizeram acordos de longo prazo segurando a inflação e dando até redução de preços, mostrando visão de futuro e visão de parceria. Os sindicatos também mostraram uma atitude madura e inteligente de compartilhar as ideias e chegamos a acordos impensáveis que viabilizam a nossa indústria e o nosso futuro”.
O vice presidente para a América Latina não revelou como serão aplicados os investimentos . “Hoje a GM vai anunciar o investimento de R$ 10 bilhões para o Estado de São Paulo, destinado às fábricas de São José dos Campos e São Caetano. Esse investimento vai ser para lançar novos produtos nas duas fábricas. Esse acordo viabiliza a planta de São Caetano e mantém nossa presença por muitos anos”.
Para Cidão o acordo foi celebrado muito rapidamente. “Isso representa aquilo que a gente já vem trabalhando nos últimos 10 anos; foi super produtivo e agradeço ao governo pela rapidez. Os trabalhadores não perdem nada e não vão perder, terão a garantia dos seus empregos e vão consumir também, fazendo girar a roda da economia”, resumiu. .
FEDERAL
O acordo que levou permanência da GM em São Caetano e também em São José não teve nenhuma participação do governo federal. Apenas estado e município abriram mão de receita pelos empregos e por mais arrecadação no futuro. Marcos Munhoz, vice-presidente da GM para a América do Sul disse que os investimentos devem demorar dois anos para serem totalmente implantados. Serão feitas linhas de montagem para novos veículos, porém a montadora não revelou quais são. “São investimentos em três fases: engenharia, construção de máquinas, e o começo da produção, isso demora uns dois ou três anos”, disse Munhoz.
Munhoz é de São Caetano e revelou a angústia que passou desde o anúncio de fechamento pela matriz. “Um grupo de nós esteve em Detroit em dezembro e voltamos de lá com situação extremamente delicada. Esse desafio foi mais ou menos trazer a reflexão de montar um plano conversando com todos os envolvidos. Seria um plano audacioso que geraria desconforto, comentários positivos e negativos, mas é melhor enfrentarmos isso do que aceitar o destino que nos foi dado. Foram 94 dias angustiantes e de muitas emoções. Conseguimos fazer esse pacote completo”, finalizou.