Doenças de pele, do aparelho digestivo e infecções respiratórias são alguns dos problemas que quem teve contato direto com a água de enchentes pode desenvolver. A chuva da noite de domingo e madrugada de segunda-feira (10 e 11/03) alagou diversos bairros do ABC e inevitavelmente as pessoas tiveram contato com a água ou com a lama resultante das enchentes. Para a bióloga, especialista em recursos hídricos e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Marta Marcondes, as pessoas devem observar sintomas e procurar ajuda médica.
Marta conversou com a reportagem do RD, enquanto ajudava a família a limpar o comércio no bairro Fundação, em São Caetano, que foi seriamente atingido pela enchente. “Essa água tem uma série de bactérias e partículas virais, pois ela é resultado do esgoto não tratado do Rio Tamanduateí, mais o lixo que vem das ruas. Isso pode gerar de uma simples dermatite, uma doença de pele, que é fácil de tratar, até um quadro de gastroenterite, que pode ser grave”, aponta. Junto à água há ainda o contato com urina de ratos que pode transmitir doenças, entre elas a leptospirose.
No mês passado Marta Marcondes esteve em Brumadinho, Minas Gerais, onde o rompimento de barragem da Vale deixou 197 mortos, dezenas de desaparecidos e ainda deve causar um grande dano ambiental ao longo do rio Paraopeba. Ela analisou, a pedido da Ong SOS Mata Atlântica a qualidade da água, contaminada pelos rejeitos de mineração. Ela comparou a situação de São Caetano com o desastre mineiro. “Estou me sentindo lá. Essa água suja e as ruas cheias de móveis destruídos”, comparou.
LIMPEZA
A professora da USCS diz que a única forma de higienizar as casas e comércios é usando cloro. “Deve-se usar luvas e botas, lavar tudo com cloro, e uma solução diluída em água, ou água sanitária para lavar as partes do corpo que tiverem contato com a água suja. A contaminação pela enchente tem dois momentos, o primeiro é o contato com a água e a lama, depois, quando essa lama seca, vem o pó, que é igualmente contaminado e , ao ser inalado, traz as doenças respiratórias”. Quem teve contato ou esteve dentro da água da enchente deve monitorar a saúde e ficar de olho em sintomas que podem aparecer.
Segundo Marta Marcondes, as crianças, os idosos, gestantes e portadores de doenças crônicas são mais sensíveis as essas doenças. Ela aponta ainda fatores emocionais. “Quem teve a casa invadida pela enchente perde tudo, tem que jogar no lixo tudo que foi comprado com muito esforço. Então, além de todo o risco de contaminação, ainda tem as doenças psicológicas como a depressão”.