
No momento da virada de ano é comum que muitas pessoas recorram a pequenos rituais que prometem trazer paz, amor, saúde, dinheiro e harmonia para o ano que se inicia. No Brasil, o ritual mais comum e presente na virada do dia 31 para o dia 1º é o uso de roupas brancas que popularmente simbolizam pureza, simplicidade e paz.
No entanto, o costume – que pode ser observado com maior intensidade na festa de réveillon nas praias – não surgiu no Brasil. O uso de roupas brancas era típico de tribos africanas que escolhiam a cor para representar espiritualidade. Com a chegada dos negros africanos ao Brasil no período de escravidão, diversos costumes se espalharam pelo território nacional e passaram a fazer parte de nosso dia-a-dia.
Na década de 1970 a passagem de ano na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, tornou-se popular, inclusive entre os praticantes do Candomblé que, por questões religiosas, optam pelo uso da cor branca na passagem de ano. Tal costume ganhou visibilidade e passou a ser copiado em outras partes do país, tornando-se tradição. Hoje, pessoas religiosas ou não optam pelo uso de peças brancas como forma de transmitir os desejos de paz e harmonia para o novo ano.
A socióloga e umbandista Marina Barbosa conta que é a religião que a motiva a usar a vestimenta branca no fim de ano. “[branco] é a cor de Oxalá, que é o orixá da fé e da criação […] na virada de ano, para mim é importante estar, de alguma forma, conectada a essa energia”, afirma. A socióloga reconhece que a tradição passou por mudanças e que hoje muitas pessoas usam as cores como forma de representar os desejos para o ano que se inicia. “As crenças brasileiras são formadas a partir dessas misturas de tradições […] são criadas outras simbologias como os significados das cores, sem relação necessariamente com a religião mas representando a fé ou esperança de cada um”, finaliza.
Outros rituais
O uso do branco não é a única contribuição que as religiões de matriz africana trouxeram para a comemoração de Ano Novo. O tradicional “pular sete ondas” também tem origem nas oferendas e pedidos realizados a Iemanjá, rainha dos mares. Mas, quem pula as ondinhas na virada do ano nem sempre direciona seus pensamentos a uma divindade específica. Tatyana Sousa, professora de inglês, conta que costuma pular as sete ondas e mentalizar coisas boas. “Sei que Iemanjá rege os mares, então preço licença a ela […] pulo as ondas pensando em coisas boas, saúde, paz e alegria” afirma. Esse ano, Sousa não irá passar a virada de ano no mar, mas já tem outros rituais preparados para atrair coisas boas para 2019. “Anoto em um caderno durante o ano as coisas que me fizeram bem, minhas realizações. No dia 31, leio tudo que aconteceu, arranco as folhas e coloco fogo, agradeço por tudo e peço coisas boas para o ano que virá”, conta.