A necessidade de mapear a arte contemporânea no ABC se uniu ao talento do artista em aproximar o cidadão da cena artística, e assim quebrar o paradigma de que arte não é para todos. O esforço conjunto resultou na primeira edição do projeto Entre Bordas do Sesc Santo André, que inaugurado nesta quarta-feira (10), com o trabalho Uma Imagem Precisa de Dois, com a curadoria da artista plástica Cristina Suzuki, e segue até 27 de janeiro com visitação gratuita.
Formado pelos talentos escolhidos a dedo Angela Camata, Bruno Novaes, Gustavo Jeronimo e Mariana Viela, Uma Imagem Precisa de Dois é composto por exposição de intervenções; na galeria da unidade; e oficinas, também abertas ao público e realizadas em datas específicas até o fim da mostra.
Os recortes dos artistas usam temas e linguagens comuns aos olhares cotidianos e convidam o público a participar e fazer leitura a partir do próprio repertório. “A ideia foi trazer ações que precisam da interação de pessoas para que o processo da obra se complete, para dar esse sentido de cumplicidade, de dois lados”, declara Cristina Suzuki.
Angela Camata trabalha com a ternura da leitura, práticas e abordagens singelas e poéticas. Assim Cristina Suzuki define a artista. Na galeria do Sesc a intervenção da artista é marcada por um fio vermelho, como ponto de partida. Angela percorreu o entorno do Sesc com mil metros de linha, e filmou todo o percurso, que será exibido em vídeo performance no local. “Essa linha é para que eu não me perca” é a frase que batiza a ação.
Ainda expostos no local pela artista estão a Intenção da Carne, no qual Angela Camata moldou o formato do próprio punho com argila, e Simples De, formado por quatro carimbos com palavras de significado, que podem ser usados pelo público de maneira livre em pequenos papéis guardados em quatro gavetas.
Desenho premiado
Gustavo Jeronimo intervém para causar desconforto nos procedimentos cotidianos, ruído nos processos. Um dos trabalhos é o desenho premiado, em que enquadra bilhetes da Mega-Sena preenchidos para que as pessoas interpretem o desenho formado com os números. Para interagir, o artista distribuirá bilhetes gratuitos do jogo para os visitantes no dia 26, das 19h às 21h. “A arte contemporânea não tem motivo claro, cria estranhamento, faz com que as pessoas se questionem”, explica Cristina Suzuki. “Se alguém te dá um bilhete de sorte preenchido, você automaticamente se pergunta: eu tenho de pagar por isso? – e se eu ganhar?”, completa.
Mariana realiza performances para afetar, impactar, incomodar. Mapa dos Sonhos é a série em que se fotografou durante um ano em ambientes abandonados para veiculou o resultado nas redes sociais. No local, apenas uma foto performance disponível, A Onda, com link para acessar o restante. A artista também expõe a instalação Comfio, em que se amarra em espécie de tronco de árvore e, quando se solta, deixa uma estrutura similar ao seu corpo, e assim forma uma escultura no Sesc. Mesa circulante é a conversação sobre temas polêmicos, como política e religião, enquanto Mariana faz renda sol e ensina técnicas de tecer com linhas. A ação é datada para dia 20, a partir das 11h.
Bullying
Bruno Novaes explicita conflitos no universo escolar, nas organizações sociais. Como ex-professor e ex-aluno, traz em diversas ações a visão sobre questão de gênero e bullying nas escolas. A Cartilha, por exemplo, possui palavras cortantes, acompanhadas por objetos de escola, que na realidade são xingamentos comuns para meninos afeminados. O Ensino Concessional é um caderno de caligrafia para que as pessoas escrevam sete vezes – quantidade de linhas – os maiores segredos, em anonimato. Já a oficina Folha de Atividade, que acontece no domingo (14), das 14h às 17h, Bruno sugere que o público desenvolva o próprio esquema corporal, como atividade didática.