Aumenta população de rua em São Caetano

Na praça da Bíblia, esquina com avenida Goiás, pessoas em situação de rua procuram abrigo

A  dura vida de quem não tem um teto para se proteger fica ainda mais difícil no inverno. Em São Caetano, que tem o melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil, a situação não é diferente e o que é mais alarmante é que de um ano para cá o número de “pessoas sem teto” na cidade aumentou em cerca de 25%, segundo avaliam as assistentes sociais Aladia Rodrigues e Maria Sonia Gonzaga, da Instituição Assistencial Espírita Lar Bom Repouso, única instituição não pública que atende 24 horas por dia a população em situação de rua de São Caetano. O desemprego e a falta de estrutura familiar são apontados como causas desta nova realidade.

São Caetano possui atualmente 51 pessoas em situação, segundo a Prefeitura que, no entanto, sustenta que o número é flutuante. Mas basta andar pela cidade, principalmente no entorno da Matriz Sagrada Família, praça da Bíblia e próximo à estação de trem, que a sensação é de que o universo de desabrigados é muito maior.

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Leandro Pereira da Silva, de 26 anos, veio de Maresias, praia São Sebastião, litoral norte de São Paulo, e vive nas ruas de São Caetano há cinco dias. Conta que perdeu o pai e a mãe e não quis ficar com outros familiares. “A cabeça deu uma desvairada e preferi me afastar”, declara o jovem que admite o uso de maconha. “Na rua não tem como não usar, é o jeito para se esquentar”, diz. Silva dorme sob a marquise de uma loja de carros. “A gente se vira, se enrola em duas ou três cobertas”, acrescenta. Para tomar banho, o sebastianense recorre ao comércio. A alimentação vem de restaurantes e igrejas.

A RD em Revista conversou com mais gente e as histórias se repetem. A maioria delas recorre ao álcool para enfrentar o frio e ficar junto, em grupos. Marquinhos (nome fictício) conta que vive na rua com a mulher há vários meses. Diz que prefere a rua aos albergues. “Tem muita briga lá”, afirma. Numa tarde gelada de agosto Marquinhos estava com a mulher e quatro amigos sentados na calçada da rua Manoel Coelho. Tentavam obter alguns trocados de quem passava. Poucos se aproximaram. As roupas sujas e os olhos vermelhos denunciavam o uso de álcool.

Abrigo é única alternativa

As pessoas em situação de rua que decidem se submeter a algumas poucas disciplinas podem recorrer aos abrigos. Em São Caetano, são poucos locais, mas as vagas são bem superiores ao número oficial (51 pessoas) ‘sem teto’, na cidade. O Paço informa que dispõe de um abrigo com 45 vagas. De outro lado, a Instituição Assistencial Espírita Lar Bom Repouso possui 110 vagas, sendo 100 para desabrigados que vivem na instituição e outros 10 para pessoas que chegam, tomam banho, recebem roupas limpas, repouso e depois voltam às ruas.

Segundo Aladia Rodrigues, em um ano a população de rua aumentou 25%. “Acredito que pela questão do desemprego e a perda de vínculos familiares”, comenta. “Existem também aqueles casos de pessoas doentes, que encaminhamos para atendimento e ficam aqui enquanto dura o tratamento”, explica.

Manter uma instituição assistencial de pé não é fácil. Em agosto, a instituição Anália Franco, que atende mulheres em situação de rua e doentes, anunciou fechamento por falta de recursos. O Lar Bom Repouso conhece bem isso. “Há oito anos, paravam caminhões aqui na porta todo dia descarregando leite, cestas básicas e com isso a dispensa estava sempre cheia. Agora é raro ver isso. Temos convênios com o município, Estado e a União, mas são insuficientes. Temos de fazer festas e bazares para nos manter”, afirma Aladia. No dia 16 de setembro a casa promove a Run Lar Bom Repouso, corrida de 6 km e uma caminhada de 3 km, para levantar fundos. Inscrições e compra de kits podem ser obtidas no site www.xtry.com.br .

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