Um dos principais alvos da operação Prato Feito, da Polícia Federal (PF), deflagrada nesta quarta-feira (09/05), o advogado Carlos Roberto Maciel (foto), pediu exoneração do cargo de secretário da Coordenadoria de Assuntos Governamentais de São Bernardo e renunciou à presidência da Fundação do ABC (FUABC), após ser envolvido em suspeitas de direcionamento em uma licitação para contratação de uma empresa que disponibilizasse merendas escolares.
Maciel é suspeito no crime de corrupção passiva. Segundo a PF, o então secretário teria facilitado a prorrogação do contrato entre a empresa Le Garçon, administrada pelo seu genro, Fábio Favaretto Mathias, no ano de 2017, pelo valor de R$ 6 milhões. “É possível que tal contrato esteja sendo fraudado na execução para compensar os custos com as propinas concedidas durante a campanha eleitoral”, afirmam os investigadores no relatório.
A investigação ainda aponta que “os desvios de recursos desse contrato beneficiaram ao empresário Fábio e a Carlos Roberto Maciel, que na época ocupava cargo público nesta Prefeitura, razão pela qual vislumbramos indícios de corrupção ativa”.
A Le Garçon já atuava em São Bernardo desde 2015, ainda durante a gestão do então prefeito Luiz Marinho (PT). A partir de escutas, os investigadores apontam que Fábio teria estabelecido uma “parceria com o candidato (Orlando Morando, PSDB) que se tornou Prefeito com vistas a manter contratos com esta Prefeitura” e que tal parceria foi feita a partir de Maciel.
Foram dois telefonemas grampeados. No primeiro, Mathias conversava com um homem identificado como “Juliano”, o assunto era a alta aceitação dos eleitores pelo nome de Morando e a possibilidade de segundo turno. Para ambos, o melhor cenário seria de um embate entre o tucano e o candidato do PT, Tarcísio Secoli. “Contra o PT, contra o PT é mais seguro. Tomara que vá ele contra o PT. Contra o PT, contra o outro dificulta”, disse Fábio. Em outro ponto da conversa, o empresário concluí. “Ele tá desesperado, e agora vai ser mais caro ainda, imagina o que vai sobrar pra mim”.
Uma segunda conversa, realizada no dia 3 de outubro de 2016, avaliava o resultado do 1º turno das eleições. Em um telefonema com um homem identificado como “Dênis”, Fábio “confirma que está concedendo vantagens indevidas a candidatos com vistas a fechar contrato, ao que já teriam ocorridos ‘acertos’ neste sentido”.
Segundo caso
A Polícia Federal também apura a suspeita de corrupção em outros contratos envolvendo os núcleos Coan/Bueno, que por 12 anos mantiveram ligações com a Prefeitura são-bernardense. Segundo as investigações, Valdomiro Coan, vulgo Miro, teria entregado vantagens indevidas ao ex-vereador e ex-secretário de Educação, Admir Ferro (PSB).
Apesar da suspeita, o relatório aponta uma incongruência, pois apontam fraudes na licitação na qual a ERJ teria sido a vencedora. Tal processo ocorreu em 2012, quando Ferro era vereador e a secretária de Educação era Cleuza Repulho, que em nenhum momento é citada no relatório.
Próximos passos e resposta dos citados
Assim, o Polícia Federal realizou uma visita ao Paço são-bernardense, nesta quarta, e levou uma série de documentos da sala onde trabalhava Maciel. Apesar de citados no relatório, tanto o Orlando Morando quanto Admir Ferro ficaram de fora de qualquer investigação.
O RD procurou a Prefeitura, que em nota, informou que desde o início da atual gestão “não firmou nenhum contrato com empresas envolvidas na operação deflagrada pela Polícia Federal. Os esclarecimentos prestados referem-se aos contratos de licitação de merenda escolar ocorridos na gestão anterior. Salienta, ainda, que o secretário citado nos autos da investigação pediu exoneração logo pela manhã e o pedido já foi aceito pelo prefeito”.
A Fundação do ABC, a princípio informou que tinha recebido com “surpresa” a operação e que não tinha um posicionamento oficial sobre o destino de Maciel, mas poucas horas depois confirmou o pedido de renúncia feito pelo advogado. A médica Adriana Berringer Stephan, então vice-presidente, assume o comando da autarquia interinamente.
Admir Ferro, em nota, afirmou que a citação de seu nome no relatório “trata-se de equívoco da investigação” e que “mesmo sem ser oficiado pela investigação, Admir Ferro vai procurar a Polícia Federal para esclarecer os equívocos constantes no relatório”.
Carlos Roberto Maciel foi contatado, porém não respondeu. Fábio Faveratto não foi encontrado até o fechamento desta matéria.