Cotada para entrar em votação em fevereiro na Câmara dos Deputados, a Reforma da Previdência ainda divide os dois representantes do ABC. De um lado, o oposicionista ao presidente Michel Temer (MDB), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT), tem voto contrário declarado à proposta, enquanto o também deputado federal Alex Manente (PPS) não se posiciona sobre as alterações das regras para aposentadoria.
O Palácio do Planalto ainda não chegou aos 308 dos 513 votos da Câmara dos Deputados para cumprir, ao menos em etapa inicial, outra meta considerada primordial por Temer, após o sucesso na aprovação da Reforma Trabalhista, em abril. Neste domingo (14), porém, o presidente do Parlamento, Rodrigo Maia (DEM-RJ), admitiu a possibilidade das mudanças na legislação vigente serem apreciadas no próximo mês.
Embora tenha votado favoravelmente às denúncias do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, contra Temer por formação de quadrilha e obstrução de Justiça, Manente ainda não tomou uma decisão sobre o texto base da Reforma da Previdência. Entretanto, o deputado chegou a se colocar contra a proposta, conforme publicação em sua página pessoal do Facebook, em 24 de outubro (foto).
Procurado pelo RD nesta segunda-feira (15), Manente optou por não se pronunciar a respeito da redação. Um motivo para cautela recente é a iminência de assumir a liderança da bancada do PPS na Câmara dos Deputados, que deve ocorrer em fevereiro, no lugar de Arnaldo Jordy (PPS-PA), crítico ferrenho a Temer. Dessa forma, o parlamentar do ABC prefere analisar melhor o cenário e chegar a uma postura unificada com os correligionários.
Por outro lado, pessoas próximas ao também deputado federal e presidente nacional do PPS, Roberto Freire (SP), dizem que a bancada, composta por nove parlamentares, deve votar a favor das alterações na Previdência. Entretanto, a reportagem apurou que não existe, até o momento, o consenso dentro do bloco no Legislativo e, portanto, ainda há risco de dissidências.
Em dezembro, o diretório nacional do PPS aprovou resolução na qual determina que a bancada na Câmara vote a favor da proposta, que tem o deputado federal Arthur Oliveira Maia (PPS-BA) como relator. Dessa forma, os parlamentares seriam obrigados a dar sinal verde ao projeto do Palácio do Planalto. No entanto, mesmo que haja dissidência, uma punição a quem votar contra as novas normas é remota.
Atualmente no governo, o PPS conta apenas com o deputado federal licenciado Raul Jungmann (PE) no comando do Ministério da Defesa, porém, tal espaço não é visto como cota do partido, uma vez que se trata de uma indicação direta de Temer. Em maio do ano passado, a legenda tinha Freire na direção do Ministério da Cultura, até as gravações do presidente com empresário Joesley Batista, da JBS, virem à tona, em negociação pelo silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha, preso em Curitiba.
Procurado pelo RD, Vicentinho não foi localizado, porém, já reiterou anteriormente em público o posicionamento contrário às alterações das novas regras para aposentadoria. Desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a bancada petista vota às medidas adotadas por Temer, por considera-las retrocesso às legislações trabalhistas e previdenciárias.