Estudo com apoio da USCS aponta piora na qualidade do Rio Doce

Passados dois anos da maior tragédia ambiental do País, com o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), operada pela Samarco, a situação da qualidade da água dos rios que compõem a bacia do Rio Doce não é nada boa. Em expedição realizada pela Fundação SOS Mata Atlântica, entre 11 e 20 de outubro, se constatou piora em 18 pontos de coleta analisados com a parceria da USCS (Universidade de São Caetano) – núcleo de pesquisa IPH (Índices de Poluição Hídrica).

O estudo revela que a qualidade da água está ruim ou péssima em 88,9% dos pontos verificados e qualificada como regular em apenas 11,1%. “Houve uma destruição ambiental, um comprometimento do ecossistema inteiro”, afirma a professora e pesquisadora da USCS, Marta Marcondes, que integrou a expedição, em entrevista ao RDtv.

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No período, a expedição percorreu 733 km de rios, distribuídos em municípios e distritos dos estados de Minas Gerais e Espirito Santo, impactados pela lama de rejeito de minério. Em sete dos 16 pontos classificados como péssimo e ruim foi constatada ausência de espécies aquáticas.

“Eu pude ver diretamente, em Regência (ES), eram locais onde as tartarugas vinham fazer seus ninhos. Hoje não se tem mais nenhum ninho de tartarugas, o animal não vai chegar nos espaços onde tem toda essa lama depositada”, comenta a professora ao se referir que o local em questão fazia parte do projeto Tamar.

E mesmo já tendo passado dois anos da tragédia, ocorrida em 5 de novembro de 2015, os reflexos da lama e rejeito estão por todo o caminho. Marcondes relata que a expedição chegou a Bento Rodrigues (MG) e não se ouvia som algum a beira do rio. “Ou seja, um rio morto, a água está contaminada e obviamente os animais que estavam por ali morrem e não tiveram condições de se restabelecer”.

A pesquisadora avalia que os problemas ambientais também trouxeram consequências para a saúde das pessoas nas cidades afetadas. “Nós ficamos muito temerosos mesmo com a saúde física e mental das pessoas que sofreram impacto. Porque hoje tem um índice alto de pessoas com depressão naquela região e suicídio também”, diz e acrescenta que o povoado perdeu toda a referência de Bento Rodrigues, que ainda aguarda definição para ser reconstruída.

Sobre a tragédia no local, afirmou que considera um crime ambiental grave, pois já existia prenúncio de que a barragem se romperia, no entanto, não foi feito nenhum tipo de contenção nem mesmo preparo para as pessoas que vivem às margens do rio.

Expedição esteve no local de 11 a 20/10 fazendo análise da água do Rio Doce  (Foto: Divulgação)

“Foi uma tragédia anunciada. É uma falta de competência técnica e seriedade, você está trabalhando com mais de 53 milhões de m³ de rejeito da barragem menor. Ainda tem uma barragem maior que também corre risco de ruptura”, alerta.

Este é o terceiro ano que a expedição esteve no local para realização de análise da água. Em 2015, de acordo com o estudo, a avaliação para os pontos monitorados foi de 88% para péssimo e 11% para ruim. Em 2016, 47% para ruim, 41% na classificação regular e 5% péssimo.

“Os dados comprovam que o rio está em situação extremamente crítica e precisamos ficar de olho nisso, o que será feito na tentativa de melhorar essa qualidade”, pondera.

A docente afirmou que o estudo está sendo compartilhado com os nossos alunos de Comunicação e áreas da Saúde da USCS, que já tiveram contato o material, já que boa parte da análise foi feita dentro do laboratório da universidade.

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