ABC apresenta 198 áreas contaminadas confirmadas

Terreno que abrigou indústrias Matarazzo, em São Caetano, tem acesso proibido

Seis cidades do ABC registraram 198 terrenos com algum tipo de contaminação de solo confirmada pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), conforme dados de dezembro de 2016. São Bernardo é o município que concentra mais áreas com algum tipo de massa contaminante, seguido de perto por Santo André, enquanto Rio Grande da Serra está totalmente livre desse problema.

Em levantamento da Cetesb finalizado em novembro de 2006, a região concentrava 201 áreas contaminadas. Nesse período, São Bernardo registrou queda de 69 para 64, enquanto Santo André passou de 61 para 55. Outra cidade que teve redução nesse quesito foi São Caetano, pulando de 23 para 19, assim como Ribeirão Pires, de 12 para oito. Há 10 anos, Rio Grande da Serra tinha apenas um terreno em situação crítica.

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Por sua vez, Mauá seguiu caminho oposto. Aumentou o número de 20 para 29 áreas, enquanto Diadema também registrou agravamento na qualidade do solo de 15 para 23 terrenos. De acordo com a Cetesb, 40 locais citados na região têm contaminação com risco à saúde ou à vida humana, além de 31 que podem colocar em risco bens a proteger e 124 em processo de remediação para retirar ou atenuar os contaminantes do solo.

Segundo a companhia, os arredores de áreas contaminadas têm restrições para uso das águas subterrâneas. As principais causas para a maioria das contaminações se deve a problemas de vazamentos de tanques de postos de combustíveis e aos organoclorados (solventes).

Conforme noticiado pelo RD há uma semana, o ABC tem 122 postos de combustíveis com atividades encerradas, segundo a Cetesb. Outro dado notório da estatal é que a região ainda tem 17 estabelecimentos com a contaminação de solo confirmada, segundo levantamento anual de 2016, devido a vazamento de produtos químicos, enquanto outros 14 pontos são investigados.

Por sua vez, o Regran (Sindicato Comércio Varejista de Derivados de Petróleo ABCDRR) enumerou 97 postos foram fechados nos últimos cinco anos no ABC. Santo André conta com o maior número de estabelecimentos que foram abandonados, alguns deles até hoje, totalizando 34 pontos. A cidade é seguida por Diadema (24), São Bernardo (19), São Caetano (12), Mauá e Ribeirão Pires (ambas com quatro cada).

Os contaminantes mais frequentes no solo e na água subterrânea, em decorrência da atividade de postos e de sistemas retalhistas de combustíveis, são hidrocarbonetos, especialmente o benzeno, tolueno, etil-benzeno, xileno e naftaleno.

Em relatório da estatal sobre áreas contaminadas no Estado, publicado em dezembro de 2016, são citados terrenos como o do aterro sanitário municipal de Santo André, situado no Parque Gerassi, que já tem projeto de remediação; o terreno de quase 300 mil m², onde abrigou até a década de 1980 as indústrias do Grupo Matarazzo, em São Caetano, no bairro Fundação, tem o acesso público proibido.

São Bernardo tem, entre os pontos citados, o antigo lixão do Grande Alvarenga, desativado nos anos 2000, o qual contém como agentes poluentes metais e determinados tipos de solventes. O local deveria passar por remediação, conforme previa a PPP (Participação Público-Privada) assinada em 2012, para ser um parque, mas o contrato entre a Prefeitura de São Bernardo e o Consórcio SBC Valorização de Resíduos Revita e Lara foi rescindido em julho. O local está isolado ao público.

Reabilitadas

A Cetesb também confirmou 137 terrenos nos quais não foram identificados riscos ou que as remediações foram aplicadas com sucesso, mas ainda sob vigilância antes de serem liberadas. No mesmo levantamento, 103 áreas foram reabilitadas para uso, com Santo André concentrando 55 delas, seguido de São Caetano com 18.

Estamos na contramão do mundo, adverte pesquisadora da USCS

Para a ambientalista e professora da USCS (Universidade de São Caetano do Sul), Marta Ângela Marcondes, o ABC está muito atrasado a respeito de políticas públicas que atenuem os riscos de contaminação de solo. Um dos exemplos citados pela docente é a destinação de resíduos sólidos, desprovida de plano regional ou municipais, além da falta de conscientização ambiental à população.

“Temos sérios problemas de contaminação, por ser uma região industrial numa época em que não havia legislação ambiental. E quem mora por aqui fica sujeito ao contato a esses poluentes. Mas estamos muito aquém do que deveria ser feito. A solução dos problemas seria se todos os municípios efetivassem seus planos de resíduos, com ampliação da coleta seletiva e centros de triagem. Infelizmente, estamos na contramão do planeta”, lamenta.

Marta ainda alerta para situação dos postos de combustíveis, que sem manutenção adequada e frequente, podem poluir o solo. “Os postos trazem perigo de vazamento do combustível e explosão. Tanto que não se pode ter escola próxima a um posto. Infelizmente, há postos sem manutenção de seus tanques, contaminando o solo com os solventes que têm os combustíveis”, prossegue.

Por último, a docente afirma que também é necessária que a preocupação ambiental seja inserida na educação pública, com intuito de mudar o comportamento da população, que rotineiramente joga lixo nas ruas e em córregos. “Se não faz essa conscientização, se gasta com processos paliativos e com Saúde”, diz.( BC)

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