
O Dia da Indústria no Brasil foi celebrado na quinta-feira (25). A data, no entanto, serviu apenas para marcar o calendário, já que para muitos empresários da região e especialistas do setor, não há muito que comemorar. Um dos pontos chave para o clima de pessimismo é o atual cenário do País, que sofre desde a última semana com nova série de denúncias e escândalos políticos.
Com isso, as projeções recentes de segmentos econômicos e até mesmo do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, com afirmações sobre melhora nos segmentos industrial, empresarial, de consumo e retomada de confiança no País, podem ter ido por água abaixo.
De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a indústria da região é bastante diversificada e responsável por volume de mais de 200 mil empregos formais, que contribui de forma significativa para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil.
Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho (RAIS), em 2015, havia 5.720 estabelecimentos na indústria de transformação, o que representava 11,7% dos estabelecimentos do ABC. Cinco anos antes, em 2010, eram 5.700 estabelecimentos. Portanto, o número praticamente se manteve no período.
O PIB da indústria de transformação recuou 5,2% em 2016, ao registrar o terceiro ano de contração e acumular queda de quase 20% no intervalo. Entretanto, de acordo com Paulo Francini, diretor titular do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, para 2017, até o momento, a projeção para o PIB da indústria de transformação é de um crescimento de 1,9%, mas acrescenta que devido à turbulência política recente, esse cenário pode se alterar.
Os números e projeções do setor industrial na região do ABC, que serão divulgados no final de junho em estudo realizado pelo Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), não devem ser animadores e podem registrar queda na atividade por conta do clima de incerteza que vive o País. O documento anterior, com dados do primeiro trimestre, apresentou dados mais otimistas.
“A expectativa é que tenha recuo em função do cenário nacional. O ambiente de incerteza acentua a desconfiança e o empresário não tem clareza sobre o problema político”, avalia o coordenador dos estudos na Universidade Metodista, em São Bernardo, Sandro Maskio, ao acrescentar que diante desse clima o empresário deve esperar para ver o que acontece, fato que pode desalinhar a possibilidade de crescimento.
O diretor titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) – Regional Santo André, que também abrange Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, Emanuel José de Viveiros Teixeira, também está preocupado com a situação e afirma que o setor está estagnado. “Com este cenário há um desespero, uma preocupação grande, principalmente nesse embate criado com a expectativa de paralisação das reformas, que são de grande importância para que o País possa retomar o crescimento”, diz Teixeira.
Empresários demonstram preocupação
Com atividade no ramo de mangueiras e conexões industriais desde 1984, o empresário de Santo André, Orlando Ramos, da Aerofittings, ressalta que a expectativa não é boa. “Parou tudo. Enquanto tiver o impasse que envolve o presidente (Michel Temer), a economia não vai melhorar”, afirma. O empresário lamenta já ter tido 150 funcionários e agora apenas 46. “Sofremos demais com ações e acordos trabalhistas. É mais que necessária a reforma trabalhista”.
Paulo Braga é outro empresário nada satisfeito. Diretor da Metalsinc, em Mauá, mudará as instalações para Ribeirão Pires, onde iniciará a produção de moldes de injeção para construção civil em 30 dias. A empresa vai começar com 45 funcionários, mas com capacidade de expandir para 100. “Temos um polo de tecnologia com capacidade de reagir, mas estamos num País com degradação industrial, educacional, financeira com a maior taxa de juros e carga tributária do mundo ”, diz.