Petrobras teve 3º prejuízo anual puxado por impairment e menor venda interna

A Petrobras amargou prejuízo de R$ 14,824 bilhões em 2016 e, mais uma vez, não pagará dividendos aos acionistas. Foi o terceiro ano no vermelho desde 2014, quando a Operação Lava Jato começou a revelar desvios de recursos na empresa e o preço do petróleo passou a despencar no mercado internacional. O balanço financeiro divulgado hoje ainda enfrenta questionamentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que define nas próximas semanas se a estatal terá que republicar todos seus demonstrativos desde 2013 pelo uso de um instrumento de proteção contra variações cambiais.

“Temos que trabalhar com alguma margem de segurança e buscar o melhor resultado da empresa. Queremos voltar a pagar dividendos o mais cedo possível”, afirmou o presidente da Petrobras, Pedro Parente, em entrevista coletiva.

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Em 2016, o prejuízo da Petrobras teve como pano de fundo a queda de 8% na venda de derivados do petróleo no mercado interno e, principalmente, as baixas contábeis (impairment) de quase R$ 21 bilhões. Em 2015, a estatal já havia realizado baixas de quase R$ 50 bilhões em seu balanço financeiro por conta de perdas com corrupção e investimentos mal sucedidos. Outro efeito foi o gasto com o programa de desligamento de funcionários, que totalizou R$ 4,1 bilhões.

No quarto trimestre, a Petrobras esboçou uma reação puxada pela melhora do lucro operacional e do resultado financeiro líquido. Com isso, fechou o período com um lucro de R$ 2,510 bilhões. “São números de resultados operacionais positivos muito relevantes, mas quero contrastar que ainda temos uma dívida muito relevante”, disse o presidente da Petrobras, Pedro Parente. .

O executivo afirmou ainda que a dívida da Petrobras ainda é a maior entre as petroleiras. “É maior que a de todos os Estados da federação, excluído São Paulo. Não podemos e não vamos descuidar desse assunto”, disse.

Ao longo do ano, a estatal viu a dívida líquida cair 20%, para R$ 314,120 bilhões, mas em dólar, a empresa encerrou 2016 devendo US$ 96,381 bilhões, queda de apenas 4% em relação ao nível de 2015. No balanço financeiro, a Petrobras reconheceu a “apreciação do real em 16,5%” como um dos motivos para a queda na dívida, ao lado de amortizações.

Os efeitos da variação cambial nas contas da estatal estão por trás do questionamento da CVM. O órgão regulador poderá exigir o recálculo dos resultados se decidir que a estatal não pode usar o mecanismo de contabilidade de hedge (proteção). A Petrobras não se pronunciou sobre qual seria o feito dessa decisão nos resultados, mas reafirmou que está recorrendo da decisão da área técnica da CVM – o questionamento foi feito mês passado e a estatal recorreu na última sexta-feira.

A contabilidade de hedge compensa as despesas financeiras das dívidas em moeda estrangeira com a receita futura com exportações – e traz essa conta para o balanço, no presente. Segundo o analista Flávio Conde, do WhatsCall Research, a contabilidade de hedge favorece o resultado da petroleira. “Se a Petrobras perder a discussão com a CVM, vai ter que reconhecer uma perda de variação cambial de R$ 6,6 bilhões em 2016”, disse.

A produção média de petróleo da Petrobras no Brasil ficou em 2,144 milhões de barris por dia (bpd), 0,75% acima de 2015, um resultado recorde. Produzindo mais e vendendo menos no mercado interno, a petroleira exportou mais. Com isso, a companhia estatal foi exportadora líquida ano passado, com alta de 6% nas exportações em 6% e queda de 30% das importações.

Para explicar a melhora do desempenho no fim do ano, a Petrobras destacou a substituição do processamento do petróleo leve importado pelo óleo do pré-sal de alta rentabilidade, que, junto de uma nova política de preços internos, contribuiu para melhorar as margens da gasolina e do óleo diesel. “Sob o ponto de vista operacional, o resultado (de 2016) é extremamente positivo, (um desempenho) que muitas empresas gostariam de ter”, disse Parente.

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