O quinto bispo da Diocese de Santo André, Dom Pedro Carlos Cipollini, completará no mês de julho um ano à frente da sede episcopal da região. Em entrevista ao RDtv, ele diz que ficou impressionado com a fé dos católicos do ABC, e que está sendo um desafio gerir as 100 paróquias da diocese. O líder religioso também afirma que a cultura do estupro está enraizada na sociedade e deve ser combatida. “Essa questão é antiga no Brasil. Então isso é uma cultura que ficou dos 400 anos de escravidão. E precisa ser mudado isso, o machismo latino-americano é muito grande”, diz.
Dom Pedro acredita que a cultura do estupro é uma chaga na sociedade e que a Pastoral da Mulher vem ao encontro das mulheres que estão marginalizadas. “Nesse sentido a igreja de Santo André é uma igreja muito atuante. Eu fiquei muito admirado e estamos levando à frente”. Ele afirma que as pastorais vêm ao encontro de diversos problemas sociais, sendo que a Pastoral da Saúde colocou o Brasil em uma avaliação positiva no sentido de diminuir drasticamente a mortalidade infantil. “E o que isso tem a ver com o estupro? Tem muito a ver com a questão da mãe, da mulher, da promoção da mulher, promovendo a criança. Uma mãe que vê filhos morrendo de fome, ela se sente promovida?”, questionou o bispo.
Outro tema tratado na entrevista foi a questão do menor no Brasil. Há casos recentes de crianças que foram vítimas fatais em confrontos com a polícia. Sobre o tema, Dom Pedro defende que a questão do menor infrator não deve ser vista como pontual ou caso isolado, mas sim como uma junção de fatores. “Sem resolver o problema da Educação, por exemplo, como vamos resolver o problema destas crianças na rua e no crime? Troca-se de ministro da Educação constantemente, ao mesmo tempo em que se troca de planos, planejamento; e o gasto é enorme, a perda de recursos é enorme e as crianças continuam nas ruas”.
Ainda segundo o bispo, muitos dos problemas enfrentados pela sociedade brasileira são frutos de uma política que precisa de “renovação da mentalidade”, “conversão” e “mudança de enfoque”. Ele é enfático ao dizer que precisa existir na política uma cultura que priorize a pessoa humana “É o dinheiro, a economia, não a pessoa. Então se quiser tirar criança da rua, acabar com a miséria, tem que priorizar a pessoa humana, e não os cofres abarrotados. Porque não está tendo crise para os bancos. A crise é para os pobres que estão morrendo, com fome”, desabafa.
Ele diz que fez uma visita pastoral no Riacho Grande, em São Bernardo, com os padres da região e cerca de 80 leigos missionários. Na ocasião, visitou uma mulher doente que foi esfaqueada. “Ela tinha quatro crianças, não tinha o que comer e o marido a abandonou. É um drama humano perto de nós. E como resolver isso? Não é culpa de um ou outro, é o sistema que nos governa que não prioriza a pessoa humana”, conclui.
Vocação ao pastoreio
Dom Pedro Carlos Cipollini nasceu na cidade paulista da Caconde e desde cedo se sentiu chamado ao sacerdócio. “Eu desde menino quis ser padre. Senti necessidade, vontade de ser padre e sempre fui fiel a esta intuição, que eu julgo ser um chamado de Deus. Porque com minhas próprias forças eu não teria conseguido”.
Como se não bastasse um padre na família, o bispo diz que o raio caiu duas vezes na mesma casa. Seu irmão dez anos mais novo também se tornou padre e, para surpresa de toda a família e moradores da cidade, bispo de Marília. “É muito bom ter um irmão padre. Tenho um irmão mais velho que é farmacêutico, outro era agrônomo, faleceu, e duas irmãs que são professoras. Meus pais que são falecidos. É uma família bem grande”. Antes de ser bispo da Diocese de Santo André, Dom Pedro liderava a sede episcopal de Amparo.
Questionado sobre o papel do bispo que é assemelhado ao de pastor, ele diz que pastor é aquele que cuida, olha e que carrega a ovelha no ombro; “que também faz a ovelha andar mais depressa, mais devagar. Isso exige uma atenção, um desgaste, mas essa é nossa vocação. E também nos dá muita alegria para poder servir”, finaliza.
