
O armazenamento de água da chuva pela população em função da crise hídrica na Grande São Paulo é considerado uma das razões para o aumento em 550% dos casos registrados de dengue na região do ABC em 2015 na comparação com 2014. Mas, em meio a tantas pessoas que captaram água sem a preocupação de manter o reservatório protegido do Aedes aegypti, existem aqueles mais conscientes e que agem de forma responsável. Com esse grupo, o transmissor da dengue, zika vírus, chicungunya e febre amarela não tem vez.
O aposentado Paulo Shigueo Suguitame, de Santo André, é uma dessas pessoas que se preocupam com o bem-estar da família e dos vizinhos. A ideia de captar água da chuva partiu do erro de um pedreiro que instalou uma calha no telhado com caída para o lado inverso. Em dias de chuva, a água ficava parada na ponta onde não havia cano de saída.
“Percebi logo que ali se transformaria em criadouro para dengue. Para não ter que refazer o serviço, decidi instalar um cano no lado onde a água acumulava e acoplei uma caixa d’água”, conta.
O sistema capta 310 litros de água e é bem fechado. Paulo também instalou um registro para desviar o fluxo diretamente para a rua nos primeiros minutos de chuva, pois é quando a água desce do telhado muito suja. Depois ele gira o registro e o reservatório começa a encher.
A água reservada é usada para lavar o quintal e o carro e também para regar algumas plantas em vasos sem pratos. “Agentes da Prefeitura já estiveram aqui para vistoriar e aprovaram o sistema. Mesmo fechadinho, eles me deram uns comprimidos para colocar na água como mais uma precaução contra o mosquito”, explicou.
Costume
O construtor Wilson Ferreira Pirolo, também de Santo André, e sua mãe, a aposentada Neuza Almeida Ferreira, afirmam que os cuidados que eles tomam para evitar acúmulo de água, já fazem parte do costume da família mesmo antes da explosão dos casos de dengue.
“Nós sempre fomos preocupados com isso porque sabemos que a água acumulada ajuda na proliferação de pernilongos e outros insetos que, se não trazem as mesmas doenças, no mínimo incomodam muito. Ninguém gosta de morar em um lugar cheio de insetos”, comenta Wilson.

Assim como Paulo, Wilson também instalou um sistema de captação de água da chuva bem fechadinho. Ele usa para regar plantas, lavar quintal e calçada e também para dar descarga nos banheiros.
Parte do quintal, que é grande, é usado para armazenar alguns materiais usados em construção e também para estacionar dois caminhões com caçambas. Garrafas e qualquer objeto que possa acumular água são cobertos. Como um dos caminhões está fora de uso para reforma, ele fica estacionado com a caçamba levemente levantada para a água da chuva escorrer.
“Temos de fazer tudo isso em favor de nossa própria saúde. O benefício acaba sendo de todos”, disse Dona Neuza.